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Manuela Soares, a Veterinária da Nazaré

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Tânia Rocha Era formada em Medicina Veterinária, mas foi ao ensino que dedicou grande parte da sua vida. Maria Manuela Confraria Soares, mais conhecida por “a Veterinária”, faleceu no dia 6 de Fevereiro do presente ano. Porém, a sua memória vai estar sempre presente na comunidade nazarena como a mulher que, em conjunto com o […]
Manuela Soares, a Veterinária da Nazaré

Tânia Rocha Era formada em Medicina Veterinária, mas foi ao ensino que dedicou grande parte da sua vida. Maria Manuela Confraria Soares, mais conhecida por “a Veterinária”, faleceu no dia 6 de Fevereiro do presente ano. Porém, a sua memória vai estar sempre presente na comunidade nazarena como a mulher que, em conjunto com o seu marido, ajudou a melhorar a sociedade nazarena. Juntos, durante toda a vida, cumpriram a missão a que se propuseram, instruir a sociedade onde viviam. Hoje, Manuela e Fernando Soares são considerados os grandes impulsionadores da Educação na Nazaré. Falar de Manuela Soares é falar, inevitavelmente, de Fernando Soares e do Externato Dom Fuas Roupinho. Duas pessoas, marido e mulher, e uma instituição de ensino que fazem parte da história da Nazaré. Ambos já partiram para sempre, mas deixaram um grande legado na Nazaré.

Maria Manuela Confraria Soares nasceu na Nazaré, em 1922. A sua família era natural de Porto de Mós, mas os seus avós maternos eram da Nazaré. Viveu até aos seis anos em Porto de Mós, altura em que se mudou com a família para Santarém, onde estudava o seu irmão mais velho. Após concluir o 7º ano, no Liceu Sá da Bandeira, Manuela Soares ingressou no curso de Medicina Veterinária, na Escola Superior de Medicina Veterinária, em Lisboa, em 1943. O curso não foi uma escolha fácil, devido à mentalidade da época, mas o apoio do seu pai ajudou-a a seguir o seu instinto e vontade, contrariando, assim, a normalidade. O irmão achava que não era um curso apropriado para ela, mas o pai incentivou-a a formar-se naquilo que ela gostava. Apesar de ainda ficar indecisa entre Direito e Medicina Veterinária, acabou por escolher e formar-se em Medicina Veterinária. Numa altura em que o ensino não era comum a todos os jovens, Manuela Soares, além de seguir os estudos, ainda foi a terceira mulher do país a frequentar este curso, foi a primeira mulher a exercer as funções de veterinária municipal e a primeira a fazer clínica rural. Na faculdade conheceu o homem que viria a ser o seu companheiro de toda a vida, o Dr. Fernando Soares, logo no primeiro ano. Contudo, só no terceiro ano do curso começaram a ser colegas de estudo. Quando terminaram o curso vieram para a Nazaré. Casaram em 1949, no Santuário de Nossa Senhora, e a partir daí começaram a fixar raízes e a fazer história no concelho. Deste casamento nasceram cinco filhos, seis netos e três bisnetos. Só um filho, Fernando Jorge Soares, que também já não está presente no mundo dos vivos, seguiu a profissão dos pais. Ambos faziam clínica rural, principalmente, nos concelhos de Nazaré e Alcobaça. Manuela Soares exerceu a profissão de veterinária municipal em substituição de Fernando Soares, não só no período em que o marido teve de se ausentar para completar a tropa, mas também enquanto foi presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Nazaré, após o 25 de Abril de 1974, e no período em que foi vereador na Câmara Municipal da Nazaré. Devido às dificuldades económicas da época, Manuela e Fernando Soares complementaram a sua actividade a dar explicações, inicialmente na Rua Ruy Rosa, a sete alunos. Posteriormente, passaram para o prédio do Varela, na Avenida de Olivença. No início leccionavam só num andar, mas depressa conseguiram ocupar três, já com a actividade legalizada. Foi deste projecto que derivou a existência do Externato Dom Fuas Roupinho. Em 1958 compraram o terreno das actuais instalações do colégio, e a partir daí a escola começou a crescer, sendo ainda hoje a única escola do concelho com Ensino Secundário. Numa entrevista cedida à revista “Nazaré Informa”, Manuela Soares disse: “Queríamos, através do ensino, fazer uma transformação da vida e da própria Nazaré”. E conseguiram! Por esta instituição de ensino passaram, e continuam a passar, quase todas as crianças e adolescentes da Nazaré. Muitos jovens, que não tinham possibilidades económicas, estudaram gratuitamente no Externato. Manuela Soares deu aulas até 2002 e esteve sempre à frente do Externato Dom Fuas Roupinho, como directora executiva da instituição de ensino. Para os filhos, Paula e José Manuel Soares, era uma “mãe excelente” e “uma pessoa que tinha conhecimento de tudo”. Considerada uma “professora exigente”, a Dra. Manuela Soares era uma pessoa extremamente respeitada, não só dentro, como fora da Nazaré. A qualquer sítio que fosse não passava despercebida. Todos a cumprimentavam com agrado, respeito e reconhecimento. Enquanto mulher, apresentava-se sempre impecavelmente. Segundo a filha, “era uma mulher vaidosa”, e “gostava muito de se arranjar, dos pés à cabeça”. Paula Soares lembrou que a mãe “não prescindia de ter sempre as unhas arranjadas e o cabelo bem penteado”. Além disso, tinha “uma loucura por sapatos, malas e roupa”. Como directora, assim que chegava ao colégio, após cumprimentar cordialmente todos os que encontrava pelo seu caminho, queria “saber tudo o que se passava” e depois começava a trabalhar. Além de ter dedicado quase toda a vida ao ensino, viveu muitos anos onde exercia a profissão de professora. Inicialmente no prédio do Varela e mais tarde nas instalações do Externato Dom Fuas Roupinho. Para Maria José Santiago, uma das professoras do Externato, “é impossível lembrarmo-nos da Dra. Manuela, sem nos lembrarmos do Dr. Soares”. Considera que “se um era a força e a tenacidade, o outro era a afabilidade e a subtileza”, referindo que ambos tinham os mesmos objectivos e preocupações, “assegurar a estabilidade da vida escolar dos alunos, da vida profissional dos professores e dos funcionários”. A docente ainda considera que marcaram “decisivamente a vida de muitas pessoas que por ali passaram e das que ficaram”. Maria José Santiago também realça que “a Dra. Manuela e o Dr. Soares assumiram a escola como uma missão, imprimindo-lhe um sentido humanista, em que levavam em conta os problemas e as necessidades dos que tinham à sua responsabilidade, levando-nos a criar laços de amizade, para além do respeito e admiração que nos mereciam”. Outras das suas grandes qualidades, que segundo a professora caracterizam a Dra. Manuela, era a de “enfrentar com grande estoicismo todas as adversidades”. A professora Maria José Santiago é um dos vários exemplos de ajuda e incentivo na educação que a Dra. Manuela e o Dr. Soares conseguiram proporcionar. De contínua na escola passou a professora de Português, cargo que ainda exerce actualmente. Diz a docente que lhes deve “toda a minha formação académica”. Incentivaram-na a estudar, a completar a licenciatura e depois proporcionaram-lhe a possibilidade de leccionar e profissionalizar-se, dando sempre um “grande apoio e cooperação”. Para o actual director pedagógico do Externato, professor António Formiga, “não é fácil definir a Dra. Manuela Soares por palavras”. Sem conseguir também dissociá-la de Fernando Soares, o professor considera que “apesar de serem duas pessoas diferentes, juntos eram um complemento perfeito”. Acrescenta que as grandes qualidades de um eram partilhadas pelo outro”. Destaca que “era uma pessoa de uma correcção extrema, sempre disponível a propostas inovadoras e com uma cultura acima da média”. António Formiga foi aluno da Dra. Manuela Soares e considera que “já naquele tempo fazia um tipo de aulas que era muito avançado para a época”, baseadas no diálogo com os alunos e na demonstração de exemplos. Realça ainda que “a escola foi sempre o centro da vida da Dra. Manuela” e refere que, enquanto professora, “não precisava de manuais para dar as aulas e estava sempre actualizada”. Por tudo o que conseguiram mudar, pela missão que conseguiram concretizar e pelo marco que deixaram na sociedade nazarena, Manuela e Fernando Soares vão permanecer na memória nazarena como uma referência na Educação e Instrução do concelho da Nazaré.

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