Nada, a não ser um precipício imenso, com o mar bem lá no fundo. Ficou estarrecido. Quando se deu conta de estar no cimo de uma falésia e em perigo de vida, D. Aníbal implorou: “Valha-me Nossa Senhora de Fátima!” Como que por milagre sentiu os seus pés a cravarem-se na rocha até readquirir o equilíbrio.
O tempo que D. Aníbal procurou apoio no vazio pareceu-lhe uma eternidade. Quando, por fim, conseguiu recuar e atingir lugar seguro, D. Aníbal pôde ver a marca das suas pegadas gravada na pedra. Refeito do susto, aproximou-se do abismo e apercebeu-se do perigo que tinha corrido. Certificou-se de que só por milagre tinha escapado e pensou numa forma de agradecer à Santa. É que esta coisa dos milagres não acontece todos os dias e não vá o diabo tecê-las…
Como não lhe ocorreu nenhuma ideia para cumprir o desígnio, o alcaide de Boliqueime decidiu aconselhar-se com a sua esposa Maria. Esta, que era muito mais despachada e perspicaz, logo lhe sugeriu: “Podias plantar um pomar de abacateiros, como fazias na juventude!” E acrescentou: “Conjugavas assim duas qualidades que tens – capacidade para abrir buracos e esperteza para o negócio – com o agradecimento e a veneração à Santa.”
“Ouve lá, Maria! Só não consigo perceber como é que um abacateiro pode ser considerado um símbolo de culto e gratidão.”
“É fácil! Tu não vês que a Virgem deve estar cansada das levitações marianas sobre o abismo? Além do mais é uma manobra de risco. Por isso é que, na Cova da Iria, lhe arranjaram uma azinheira. Tu, aqui em Boliqueime, plantas-lhe os abacateiros. Talvez assim ela se esqueça das árvores que mandaste arrancar e continue a fazer milagres…”
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