Por outro lado, fico feliz – e o povo português também deve ficar, presumo – pelo facto da Presidência ter quebrado o seu silêncio de meses com este coelho tirado da cartola. Porque este fim do “blackout” significa que a Presidência, para além de estar atenta e ter sentido de oportunidade, não tem assuntos importantes sobre os quais se deva pronunciar. O que é um motivo de satisfação e orgulho para todos nós.
Também é notável o longo silêncio do Tribunal Constitucional, sobre a fiscalização sucessiva do Orçamento de Estado. Suponho que, a tão distendida meditação, deve corresponder um parecer altamente fundamentado sobre “as mil e uma maneiras de cozinhar um logro”. Ao excesso de zelo de uns contrapõe-se a falta de zelo de outros.
Simultaneamente, interrogo-me sobre o que irá dizer o TC sobre as dúvidas que lhe foram colocadas a respeito da manifesta inconstitucionalidade de algumas medidas contidas no OE? Será que a vai reconhecer e adiar as consequências, como fez anteriormente? Será que vai tomar novamente uma decisão política em lugar de uma decisão técnica, que é aquilo que lhe é pedido? Ou será que se vai continuar a esconder por detrás dos superiores interesses do país, para justificar uma ilegalidade?
Tenho esperança que, quando esta crónica for publicada, o enigma já esteja esclarecido. Até lá tudo o que se possa adiantar são apenas meras especulações e pressentimentos.
Com a resignação do Papa Bento XVI também se criou um novo silêncio que, no fundo, é o acumular de muitos silêncios. Silêncios de décadas que foram agora reunidos no relatório “Vatileaks”, elaborado por 3 cardeais do Vaticano. Relatório cuja divulgação este Papa decidiu uma vez mais impedir, votando ao silêncio o seu conteúdo integral.
Já quando presidia à Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, o então cardeal Joseph Ratzinger, silenciou e encobriu diversos crimes de abuso sexual de menores. Então como agora, tudo foi feito em nome da “salvação da Santa Madre Igreja”. E, sob esse pretexto, comprou-se o silêncio das vítimas e condenou-se ao silêncio os opositores, nomeadamente os representantes da Igreja herdeira do Concílio Vaticano II.
Para mim, que não sou católico, tudo isto me inquieta e ofende. Principalmente pelo que estes actos de ocultação representam em termos de impunidade e imoralidade.
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