Estas considerações prévias dão que pensar nos verdadeiros motivos que fazem toda esta gente movimentar-se. Protagonismo, afirmação pessoal, jogo de interesses ou vontade de servir. Por tudo aquilo que conhecemos da generalidade das autarquias do país, creio que este último é aquele que menos corresponde à realidade. Veja-se a voracidade com que alguns candidatos contornam a lei de limitação de mandatos e institucionalizam o cargo como profissão.
Há quem diga que não permitir a candidatura noutro concelho é um atentado às liberdades individuais. Talvez seja. Admito até que o Tribunal Constitucional tenha razão quando permite as recandidaturas. Mas a aplicação desta lei é uma demonstração da inutilidade de muita legislação aprovada na Assembleia da República. E significa que o facto de os deputados parirem uma lei que não legisla coisa nenhuma é uma aberração.
Tornar vitalício um cargo que tem por finalidade servir os cidadãos, em funções específicas e durante um período limitado, é o primeiro passo para criar insubstituíveis. E os insubstituíveis são os grandes angariadores de clientelas e alimentadores de interesses que, mais cedo ou mais tarde, hão-de traduzir-se no endividamento das autarquias. Vícios privados, públicas virtudes…
Decididamente, não gosto destes excessos de altruísmo e dedicação à causa pública. Principalmente quando eles resultam no prejuízo dos munícipes, com o agravamento de taxas e impostos. Como diz a sabedoria popular: “Quando é grande a esmola o pobrezinho desconfia.”
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