“Meter a foice em seara alheia” é aquilo que não só as pessoas enquanto seres individuais fazem, mas cada que cada povo tem tendência a fazer com a realidade dos outros povos. Todos nós saberíamos alvitrar opiniões sobre a situação dos países vizinhos, dos países árabes, daqueles que se guerreiam desde que o mundo é mundo. Enfim, todos somos bons opinadores em causa alheia.
Até alguns dias atrás, a maior parte dos portugueses nem sabia onde ficava a Venezuela no mapa das preocupações do mundo. No entanto, desde a morte do Chefe de Estado mais polémico da última década, não há ninguém que não tenha uma opinião formada sobre uma realidade que desconhece, uma política e uma forma de pensar que é alheia a este país onde a Europa acaba.
A imprensa escrita e falada foi invadida pelo “venezuelanismo” de Chávez. Um líder de esquerda tão acusado de querer protagonismo e tempo de antena nos meios de comunicação, passou, de repente a ser a abertura dos noticiários. Não deixa de ser irónico. Acusado de ditador, Chávez ficou conhecido pelo episódio caricato que envolveu o rei de Espanha a brindar o líder da ex-colónia com a pergunta ofensiva “porqué nó te callas?”. No entanto, apesar de revolucionário, o representante dos descamisados teve a fineza de não responder a tamanha grosseria proferida por sua majestade, que dedica o seu tempo a gastar o erário público de nuestros hermanos na caça ao elefante.
Comentadores, sociólogos e politólogos descobriram a Venezuela, repentinamente. Graças a quem? A Chávez e à sua forma de ver e fazer política.
Quem somos nós, tristes aprendizes da democracia para criticar a dos outros, se nem a nossa casa sabemos arrumar? Vergamo-nos à vontade da pequena ditadora da europa e somos governados por homens que não sabem pensar por si e obedecem cegamente à Troika, ao FMI, e até já nos americanizámos. Agora, também gostamos de opinar e intrometer-nos com as nossas “importantes opiniões” na vida dos outros países. Não sabemos cuidar da nossa seara, mas estamos sempre prontos a meter a foice na seara alheia. Fazendo minhas as palavras grosseiras de sua majestade, “porqué nó se callán?”
0 Comentários