Armando Lopes Colunista “Era tão bom rapaz!” – diziam entre revoltados e condoídos os manifestantes. É verdade que fazia uns assaltos à mão armada e arrombava umas máquinas Multibanco. É também verdade que traficava droga e roubava carros. É ainda verdade que provocava desacatos e tinha algumas armas em casa, coisa pouca. Umas caçadeiras de canos serrados, umas pistolas, umas facas de mato, uns pés de cabra, umas soqueiras… Nada que qualquer pessoa de bem não tenha ou, pelo menos, não sinta o desejo de ter. Tudo isso é verdade. Mas, é a vida e ela está pelas horas da morte…
Depois, é tão difícil arranjar ocupação para as longas horas de tédio. É tão difícil andar de transportes públicos ou de táxi, principalmente durante a madrugada. Os primeiros não prestam e, quanto aos segundos, os taxistas estão cada vez mais desconfiados. Não levam qualquer um nem para qualquer lado. O que querem então que se faça? Ainda por cima os carros estão ali, disponíveis. Alguns até mal estacionados. De modo que é um serviço que se presta à comunidade. O problema é a polícia gostar de se meter na vida das pessoas. Cambada de intrometidos é o que eles são. Vêm com o pretexto da manutenção da ordem pública, da segurança dos cidadãos, e começam logo a dar porrada. A dar porrada e aos tiros. Para o ar, dizem eles. Pois, mas foi assim que o rapaz morreu. Nem lhe deram tempo para se defender. Houve até quem tivesse visto que ele já vinha de braços no ar quando se ouviu o estampido. Agora não querem que os pais estejam revoltados. Não querem que os amigos estejam revoltados. Que o bairro inteiro esteja revoltado. Nem querem que lhes atirem pedras ou que incendeiem carros e contentores. Filho é filho, mesmo que seja um criminoso, não é assim? E este era tão bom rapaz e quase lhes posso jurar que rezava as suas orações todas as noites, digo-lhes eu!…
0 Comentários