Nesta entrevista, a nossa Rainha fala-nos da sua vivência no Carnaval, e do seu contributo quase invisível em alguns dos muitos carnavais que já saíram à rua. Sobre a Comissão de Carnaval da Nazaré, Armanda Hilário enaltece o seu esforço e dedicação para levar a público uma das festas mais aguardadas do ano.
Soltas ao site “Carnaval da Nazaré”
Para mim, o carnaval é a melhor altura do ano, fico muito feliz. São os dias em que me liberto. Acima de tudo, sou eu própria. Saio de casa, gosto de andar na rua, e na brincadeira. O carnaval começa quando começo a pensar nas reuniões do grupo ou no fato que vou usar mas também na marcha. Adoro trabalhar no carro, porque faço parte de um grupo e faço questão de estar presente. Desfilar na avenida é uma das coisas que mais gosto, pois é o culminar de todo o trabalho de um mês e meio. Este ano vai ser um pouco diferente, porque estou de fora do grupo, mas acredito que irá ser uma sensação agradável e uma alegria enorme vê-los passar. Será, ao mesmo tempo, um misto de sensações.
O ano passado tivemos a experiência do desfile noturno, um pouco mais trapalhão. Foi tudo em cima do joelho mas adorei, por ser o primeiro à noite e acabou por
Ser muito divertido…
Sobre as coisas que eu gostava que fossem alteradas para não se perderem, aponto o caso das cegadas, uma coisa que nunca fiz mas que gostava de experimentar. Acompanhei os ensaios do meu pai e acompanhei-o na saída às salas. É uma pena ter cada vez menos cegadas, durante um período as pessoas começaram a ir mais aos bares e estar nos cafés e na rua. Eu também gosto mais os bailes, pois são os momentos mais importantes. Gosto muito de dançar. No ano passado houve uma melhoria nos bailes, o que é um bom sinal. Na sala que frequento desde pequena, o ambiente estava muito bom, e gostava que os bailes voltassem a ser o que eram e que essa tradição não se perca.
Gosto de tudo o que faço no carnaval: dos ensaios, de trabalhar na bonarte e de estar naquele ambiente. Para mim, há duas marchas marcantes do carnaval da Nazaré: os “mil carnavais” e “Chambres”, que ainda se ouvem bem e gosto da marcha do “palhaço” (2007).
Não estava à espera de ser convidada para rainha mas é uma honra. Gostei que se tivessem lembrado de mim para desempenhar este papel. Acompanhei o reinado do meu pai, mas agora é diferente porque assumi a responsabilidade e espero estar a altura. É importante que o nosso carnaval mantenha a qualidade. Fazemos o carnaval para nós mas também queremos agradar quem nos visita, até porque existem carnavais à nossa volta que estão a crescer.
Espero que todos se divirtam no nosso carnaval e aproveitem o máximo durante estes dias.
Entrevista a Armanda Hilário – Rainha do carnaval da Nazaré
RN- Os nazarenos podem comparar–se ao povo brasileiro na forma como vivem o Carnaval, por passarem o ano a pensar no seu Entrudo?
AH- Os nazarenos (os que vivem o Carnaval), de facto, assemelham-se um pouco ao povo brasileiro no que diz respeito ao Carnaval, essencialmente, por passarem todo o ano a pensar nele. No entanto, nós somos muito “sui generis” na forma como o vivemos: a nossa música é diferente (as Marchas), a nossa forma de dançar é diferente, a nossa forma de estar é diferente. Só quem vive o nosso Carnaval é que compreende o que se sente, é que consegue perceber o que é estar no Carnaval, o que é ser o Carnaval. Temos as nossas tradições, coisas muito nossas e que não existem em mais lado nenhum. Acredito que os brasileiros tenham também características muito próprias, mas em nada parecidas às nossas. No entanto, acredito que o sentimento que nos liga ao Carnaval seja semelhante ao deles, é de uma grande intensidade, às vezes impossível de descrever verbalmente.
RN-O São Brás marca, por tradição, o arranque do Carnaval. Qual é o valor deste evento popular para os nazarenos?
AH-Este evento (São Brás) é isso mesmo, é o arranque do Carnaval. Este ano não será bem assim, pois o arranque propriamente dito já aconteceu na passagem de ano, com a apresentação dos reis de Carnaval e da Marcha Geral, que vai alegrar o Carnaval deste ano. Ainda assim, não deixa de ser um marco bastante importante nesta época do ano – é mais uma das nossas tradições. A população junta-se, todos assam as suas carnes, cantam, dançam, e normalmente (diz a tradição) todos sobem ao monte para visitar a capela. É mais uma actividade muito nossa e que nenhum nazareno dispensa.
RN-De que edição do Carnaval nazareno guarda as melhores recordações? Pode dizer-nos por quê?
AH-Guardo muito boas recordações de todos os Carnavais, por este ou aquele motivo… No entanto, era bastante pequena, e o grupo de que os meus pais faziam parte (Grupo Carnavalesco da Nazaré) fez um carro alegórico, cujo tema era “o Casamento” – foi um dos carnavais da minha infância que mais me marcou – eu era a noiva e o noivo era o meu primo, que além de ser mais novo, era mais pequeno do que eu, logo, eu achava imensa graça ao facto de a noiva ser maior que o noivo, pois havia um fotógrafo no “casamento” que passava o tempo a mandar-nos dar beijinhos… foi muito engraçado, jamais esquecerei esse Carnaval. Mais recentemente, em 2013, o meu grupo actual (Os Animados) levou a desfile um carro – “Barquinho de papel”, orientado por grandes comandantes; esse ano também me marcou bastante, pois além de ter gostado imenso do carro, a marcha que levávamos permitiu aos elementos do grupo, criar uma pequena coreografia, que além de animar o desfile, nos acompanhou durante oi resto do Carnaval, em todo o sítio onde tocava a nossa marcha.
RN-Qual foi a reação dos amigos e familiares quando ficaram a saber que tinha sido escolhida como rainha?
AH-As primeiras e únicas pessoas a quem eu disse inicialmente foi ao meu marido e aos meus pais. Sabendo que é uma coisa que eu adoro e “sem a qual não vivo”, deram-me todo o apoio e incentivo – ficaram bastante felizes e agradados com o convite. Posteriormente, fiz questão de ser eu a contar ao meu grupo, numa pequena reunião que fizemos. Reagiram bastante bem; apesar de estarem conscientes de que não estarei fisicamente com eles, a 100% , conforme estão habituados, deram e continuam a dar-me todo o apoio e penso que estão muito felizes por mim.
RN-Quais são as caraterísticas que a rainha do Carnaval da Nazaré deve possuir (para subir ao trono)?
AH-A nossa tradição, e que portanto, já vem de há muitos anos, é que os reis de Carnaval da Nazaré sejam pessoas da terra, nazarenos, e foliões do Carnaval. Na minha opinião, essas são condições essenciais para se ser rei ou rainha do nosso Carnaval. Depois, há também as caraterísticas pessoais – ser folião, ser alegre, divertido e ter algum historial de contributo para o nosso Carnaval.
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