A sala do Hotel Praia foi pequena para a multidão que se juntou na tarde de sábado numa sessão que contou com a presença de Pedro Barbosa, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, do arqueólogo João Inês Vaz e de António Salvador, presidente do Grupo Oeste Capital (propriedade da empresa jornalística Caldas Editora),
Madalena Tavares, ex-diretora da Biblioteca Municipal de Alcobaça, foi a moderadora da mesa. Referiu que teve o privilégio de acompanhar o trabalho de Carlos Fidalgo e prestigiou a obra referindo que é “um marco importante do património da Nazaré”.
Pedro Barbosa, que escreveu o prefácio da publicação, realçou a “importância da obra que é um contributo para o conhecimento da história desta terra, que foi uma das povoações mais importantes desta Estremadura Central, sendo esquecido, muitas vezes, o papel que teve num comércio que chegava às terras do Algarve, e talvez mais além”. Referiu ainda que o estudo das Igrejas é fundamental porque “eram as dinamizadoras da economia e da cultura”. Elogiou o trabalho do investigador, revelando que “é um assunto extremamente difícil, sendo a documentação escassa”. Destacou a escrita “perfeita” de Carlos Fidalgo. “A escrita é clara e simples, chega ao especialista e ao não especialista. O autor preocupou-se com o rigor científico e com a comunicação”, disse o professor.
O arqueólogo de Viseu, João Inês Vaz, ficou impressionado com a afluência do público ao lançamento do livro, referindo que “demonstra a importância que hoje se dá ao património”. “Só podemos preservar o que conhecermos”, sublinhou o arqueólogo, dando alguns exemplos de edifícios que foram recuperados só depois de terem sido estudados e divulgada a sua importância. “Há sempre um processo que se inicia quando um livro é publicado”, acrescentou.
João Inês Vaz diz que tem uma ligação à região, nomeadamente a Alcobaça, onde já participou em vários congressos. Esteve ligado a um estudo sobre as pontes antigas de Alcobaça e revelou que pretende alargar o âmbito e continuar o trabalho.
Também o arqueólogo elogiou a escrita de Carlos Fidalgo, referindo que é uma obra “acessível não só aos investigadores mas também ao grande público”.
Durante a cerimónia de lançamento da obra, António Salvador foi bastante elogiado por ter assumido a edição do livro.
Recorde-se que a Caldas Editora tem-se associado a algumas obras de autores emergentes. Em 2010 editou o livro “Numária – O Papel da Moeda – As Notas da República” de Luís Manuel Tudella, obra de interesse nacional, inserida na agenda do Programa Nacional das Comemorações do Centenário da República.
O arquiteto encerrou a sessão elogiando o trabalho de Carlos Fidalgo e destacando a importância que dá à cultura e património. Recordou que no papel de vereador do Município da Nazaré apresentou recentemente em reunião de Câmara uma proposta que a instalação na antiga Casa da Câmara da Pederneira uma “Casa da Cultura” albergasse o espólio cultural, bibliográfico, documental e histórico do Concelho (da Pederneira e ou da Nazaré). Embora chumbada, António Salvador garante que vai continuar a lutar pela preservação e requalificação do património na Nazaré.
Ao longo de 130 páginas com cerca de 30 imagens conta-se a história da Pederneira, que se situa no cimo de um monte a nascente da Praia da Nazaré, mantendo ainda na sua praça central o edifício dos antigos Paços do Concelho, a Igreja Matriz e o Pelourinho. Segundo, o autor, a obra de caráter histórico e científico permite descobrir a Pederneira através de três vertentes; as suas igrejas, as migrações sociais e os fenómenos de origem natural, num período temporal de aproximadamente quinhentos anos (séc. XII ao séc. XVII). O livro está assente em fontes documentais, pesquisas e trabalho de campo. Em declarações ao REGIÃO DA NAZARÉ, Carlos Fidalgo disse que enfrentou mais dificuldades com a “falta de referências documentais e faltas de trabalho de arqueologia que no fundo acaba por condicionar a investigação de qualquer pessoa que se dedique a esta área”.
Lamenta que a Câmara Municipal da Nazaré não tenha um gabinete de arqueologia. “Tem a ver com os momentos difíceis que o país atravessa. É preciso dinheiro para a arqueologia e infelizmente a cultura como a arqueologia não é a prioridade dos políticos”, afirmou o investigador, acrescentando que a ausência desta área é “não apostar na nossa entidade e no nosso património”. Carlos Fidalgo apontou que, além da Pederneira, há vários sítios a nível do concelho da Nazaré, como Famalicão, Valado de Frades e inclusivamente o Sítio, onde existe o santuário, que necessitam de sondagens arqueológicas.
Carlos Fidalgo que não podia estar mais feliz por ver a sala do Hotel Praia a abarrotar de gente para assistir ao lançamento da sua obra. Disse que era um trabalho que estava na gaveta e que há anos que tinha ideia de escrever sobre “esta parte temporal da história da Pederneira”.
Projetos não lhe faltam. Este foi o seu primeiro livro e em mente já tem planeado o seu segundo trabalho que vem na sequência desta publicação. “A Pederneira é de fato o meu objeto de estudo, e irá continuar a ser, terá sido o berço daquilo que hoje conhecemos como o conjunto urbano da Nazaré e enquanto não percebemos o princípio, não vamos entender o meio para nos preparamos para o futuro”, disse Carlos Fidalgo.
No final houve uma sessão de autógrafos e foram muitos os que esperaram para ter os seus livros assinados pelo autor.
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