Armando Lopes Colunista.Não sei por que razão, a senhora ministra e os senhores secretários de Estado do ministério da Educação, ainda não se demitiram. Já pensei maduramente no caso e continuo sem entender. É que se eles dão tanta importância à avaliação, feita pelos pais, ao desempenho dos professores, deveriam dar igual importância à avaliação que os mesmos fazem ao seu desempenho político. Isto, é claro, para serem coerentes com os seus princípios. E, quando os pais por exemplo fecham escolas a cadeado, aquilo que estão de facto a fazer é uma avaliação ao trabalho da ministra e dos seus secretários de Estado. Daí que eu entenda que eles deveriam tirar dessa crítica a única conclusão lógica. E agir em conformidade, demitindo-se.
Esta tentação de julgar os outros por regras diferentes daquelas com que nos julgamos a nós próprios, sempre me fez enorme confusão. Porque, desde logo, pressupõe um favorecimento pessoal presunçoso. Ora o que os nossos governantes querem fazer é validar uma apreciação que – certamente, por que não se demitem – consideram injusta. Mas apenas e só quando essa apreciação incide sobre eles e não sobre os outros.Quanto a mim, os governantes deste ministério da Educação têm tiques de professor universitário, dos quais não se conseguem libertar. Estão habituados a despejar conhecimentos despreocupadamente, para uma plateia interessada e voluntária, durante um período reduzido de horas lectivas semanais. Por isso não fazem ideia do que é ensinar alunos desinteressados, desmotivados, irreverentes e indisciplinados. Tão pouco compreendem o que significa a expressão “insucesso escolar”, porque ela não faz parte dos seus horizontes pedagógicos nem das suas preocupações. Não conhecem os pais dos alunos; não têm qualquer relacionamento institucional com eles; não os recebem nem têm de lhes justificar os maus resultados dos filhos; não lhes suportam a insolência de porem em causa a dignidade profissional, os critérios de exigência e a autoridade. Também não têm de se confrontar com a ignorância, a arrogância, a mediocridade, a desfaçatez e a grosseria dos alunos. E é essa a razão pela qual prolongam a sua carreira, o seu tempo de serviço, indefinidamente. Não porque sejam melhores do que os outros professores, mas apenas porque têm uma vidinha profissional serena.Os governantes do ministério da Educação pertencem a essa casta, a essa elite. Tresandam sapiência, iluminam-se de imenso, deslumbram-se com a sua transcendência. E, por isso mesmo, não podem compreender a plebe, a arraia-miúda.Com eles têm os pedagogos, os sociólogos e os psicólogos. A justificar-lhes a acção determinada e certeira, a indicar-lhes o rumo. Não importa que as famílias se demitam, que as hierarquias não se respeitem nem que a autoridade dos professores se desvaneça e não possa ser exercida. Eles estão no centro do universo e o destino reservou-lhes a honorífica tarefa de serem os timoneiros da sabedoria, os detentores da luz… Abençoados sejam!
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