Armando Lopes

ColunistaA confiança nas pessoas e nas instituições constrói-se sobre alicerces que a fundamentam e suportam. Quer isto dizer que, a confiança, se justifica pelos nossos actos e comportamentos. Razão pela qual é tão importante transmiti-la aos outros, ao longo da nossa vida, através da manifestação de princípios de verdade e coerência.

Quando analisamos a vivência dos políticos ou das instituições, apoiamo-nos nessas regras elementares do comportamento para elaborar a nossa opinião. Isso obriga-nos a que sejamos observadores atentos e interessados, embora quase sempre desiludidos. Principalmente quando verificamos que as palavras não correspondem aos actos e que os valores são, frequentemente, condicionados pelos interesses do momento.Apoiados em que virtudes e em que qualidades morais querem, então, os políticos construir uma sociedade melhor e mais justa? Com que exemplos e com que isenção?Vieram-nos à ideia estas reflexões, a propósito do que aconteceu na Assembleia da República na semana que antecedeu a Páscoa. O incidente ocorrido com os deputados faltosos, que impediu a votação de alguns diplomas por inexistência de quórum, foi gravíssimo. Não porque, a não realização de meia dúzia de votações, tivesse constituído por si só um grande prejuízo. Mas pelo que, esse facto significou de descrédito e indignidade para com a instituição que os deputados representam.E esse incidente ainda se tornou mais evidente e, por isso mesmo, imperdoável com as argumentações grotescas que, de pronto, os pressurosos líderes parlamentares se apressaram em esgrimir. Principalmente pelo facto de elas denunciarem, também, um comprometimento e uma solidariedade conivente com o laxismo demonstrado.Dizer, como o líder do PP, Nuno Melo, que: “os deputados do meu partido foram embora porque eu autorizei”, é não ter a noção da decência e do respeito devido a quem os elegeu. Como se, a autorização de um qualquer líder parlamentar, bastasse para justificar o oportunismo e a degradação moral que estão na base da maior parte destas ausências.No entanto, este incidente teve pelo menos uma virtude. A de obrigar os senhores deputados a provar do seu próprio veneno. Isto é, este incidente fê-los sentir na própria carne a injustiça de certas críticas que fazem a outros concidadãos. Sobretudo quando as fazem com uma certa ligeireza e generalizando. Que estes “passarões” aprendam a lição!…