Vítor EsgaioAdvogadoQuando nos afastamos da realidade abstraindo-nos do mundo dos objectos, do universo das coisas materiais e entramos no mundo de reflexão contemplativa onde não nos é possível uma qualquer evidência, perde-se o sentido da noção clara e deixamos de lado as certezas absolutas, entramos num universo onde não há verdade que possa ser constatada por todos de igual modo.
Este é o mundo do ente consciente, a terra do «eu» que constitui um Universo subjectivo onde a percepção dos sentidos é incapaz de penetrar, em que o uso da razão é inútil na medida em que é incapaz de atingir uma plena compreensão, a razão torna-se assim, inapta a compreender e conhecer o sujeito. Ego, é o elemento de composição de palavras que exprime a ideia de eu e que permite a definição de uma pessoa caracterizando o seu «eu» através de um único vocábulo. Tal elemento permite-nos qualificar de forma depreciativa, utilizando adjectivos como; egoísta, egocêntrica ou ególatra, podemos ainda caracterizar o sujeito como; egrégio, altruísta abnegado, caso queiramos descrever a pessoa como um filantropo. Acontece que, se o que conhecemos das pessoas que nos rodeiam nunca é obtido através da razão, o caminho do conhecimento do ego individual, não é o plano da demonstração mas o da confidência, pois, ao entrarmos na realidade das relações Humanas entramos num mundo que possui um cunho eminentemente narrativo, através da qual os sujeitos relatam uma realidade que só é atingível através da confiança, na medida em que ninguém tem acesso à experiência do outro, dado que ninguém a viveu senão o próprio.Dai que, só pelo testemunho de vida poderemos conhecer, aquilo que a pessoa viveu, aquilo que ela na verdade é e, portanto, compreender o narrador.Talvez por isso Kant dizia: “ deve-se ser verídico em todas as declarações “. Tal exigência de veracidade constitui uma exigência ética e uma exigência de Justiça e, poderá ser o único caminho para que o nosso semelhante nos reconheça valor.
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