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76 novos médicos internos no Oeste

Mariana Martinho

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Os 76 novos médicos que iniciaram o seu internato nos estabelecimentos de saúde do Oeste foram recebidos numa sessão, no passado dia 27, na sede da Ordem dos Médicos (OM) do Distrito Médico do Oeste, nas Caldas da Rainha, onde também foram abordados pelo bastonário da OM alguns dos “problemas sérios” vividos neste momento na carreira médica, bem como “as enormes desigualdades entre os candidatos, em que uns são contratados diretamente pelos hospitais onde trabalham, e outros recorrem ao concurso nacional, entrando quando for possível num hospital qualquer”. Dos 76 médicos internos, 60 são do ano comum e 10 iniciaram a sua formação específica e 6 do serviço medicina geral e familiar no ACES Oeste Norte.

Numa sala cheia de médicos e internos, a vice-presidente do Conselho Sub-Regional do Oeste da OM, Ana Teotónio, deu as boas vindas aos novos médicos internos, em substituição do presidente do Conselho Sub-Regional do Oeste da OM, Nuno Santa Clara, que não pôde estar presente.

A sessão de receção aos internos, segundo a vice-presidente, tem objetivo de “manter uma melhor integração e interação entre as pessoas que vêm para o Oeste, sejam internos do ano comum ou de formação específica, e que a permanência nesta região seja proveitosa em termos profissionais mas também pessoais”. Contudo, Ana Teotónio sublinhou que existe “alguma apreensão e preocupação pelo que será o futuro dos cuidados de saúde no Oeste, nomeadamente no que diz respeito aos cuidados hospitalares” e ainda “o que é que se pode esperar em termos profissionais nesta zona”.

Além disso, frisou que “estamos sempre numa fase ao nível dos cuidados hospitalares de adaptação e isto causa alguma instabilidade”.

A responsável também admitiu que “temos tido algumas carências em termos de infraestruturas, que acabam por não estar resolvidas, bem como em termos de contratação de recursos”, e isso tem “motivado alguma instabilidade e dificultado a vida a quem dirige no recrutamento de novos profissionais”. Apesar disso, a OM tem tentado desenvolver algumas estratégias junto do Ministério da Saúde para “apressar alguma definição, mas até agora não vimos concretizado”.

Seguiu-se um vídeo de apresentação de um grupo de internos que fez o internato médico no Oeste, deixando aos novos médicos internos os seus testemunhos. Antes disso, Mariana Magalhães, uma médica interna, em representação dos restantes, leu uma carta com uma mensagem de boas vindas, sublinhando que “as perspetivas futuras são incertas e neste momento precisamos de ser uma classe unida e interventiva”.

Na sessão também foram abordados os aspetos jurídicos do internato no sistema de saúde e sector privado, pelo representante do Sindicato Independente dos Médicos, António Luz. Esclareceu o enquadramento jurídico-laboral do internato, as facetas do contrato estabelecido com os internos e ainda abordou o novo regime de internato médico.

Outro dos intervenientes foi Pedro Pinto Leite, do Conselho Nacional do Médico Interno, que esclareceu os novos internos sobre as “saídas profissionais num futuro próximo”.

“O Serviço Nacional de Saúde neste momento não é bom”

Nas boas vindas que deu aos internos, Miguel Guimarães, bastonário da OM, começou por sublinhar que “nós temos neste momento problemas sérios na carreira médica”. Desde logo, “os concursos para os jovens especialistas que não abrem e não são iguais para toda a gente”.

“Existem enormes desigualdades entre os candidatos, uns são contratados diretamente pelos hospitais onde trabalham, e outros recorrem ao concurso nacional, entrando quando for possível num hospital qualquer. Portanto, esta palhaçada tem de acabar”, afirmou. Aliás, sublinhou que “não podemos continuar a ter um país a duas velocidades, que tem um secretário de estado da saúde e um adjunto de saúde que funcionam bem mas um ministro que está parado”.

Reforçou ainda que “não podemos continuar a ter um país de desigualdades entre médicos desta forma”.

Para o bastonário, “o Serviço Nacional de Saúde (SNS) neste momento não é bom e tem várias deficiências, e Caldas da Rainha é um bom exemplo disso, com uma lista de espera para primeiras consultas de especialidade e cirurgia bastante elevada”.

De acordo com Miguel Guimarães, é preciso abrir os concursos e contratar médicos, e assim “obviamente que melhoramos a qualidade dos serviços de saúde”.

Outra das preocupações destacada pelo bastonário foi o caso dos “médicos sem especialidade, que neste momento temos umas centenas deles e que merecem uma atenção especial”.

Para Miguel Guimarães, “é preciso que existam vagas e locais onde estes médicos possam fazer a especialização”. Contudo, são medidas que “já deviam ter sido tomadas, mas o Governo está um bocadinho paralisado no que diz respeito à saúde”, o que tem levado “grande parte dos médicos a sair do serviço público para o privado”.

Neste momento, cerca de 28 mil médicos trabalham no serviço nacional, em que 18 mil são médicos especialistas e 9 mil e muitos são internos em formação, e “isso precisa de ser corrigido”.

Para terminar, o bastonário da disse que os “jovens médicos são absolutamente essenciais ao nosso SNS”, pois trazem inovação ao setor. Manifestou que “um serviço só é verdadeiramente um bom serviço, se conseguir adaptar-se ao desenvolvimento da nossa medicina”, juntando assim os médicos que têm mais experiência com os médicos mais novos.

Nesse sentido, o presidente do órgão alertou que “é fundamental que a maioria dos nossos jovens fique em Portugal, e preferencialmente a trabalhar no SNS”. Mas para isso, esclareceu, que “é preciso que o ministro defenda a saúde dos portugueses e que o governo valorize mais a saúde, e que não valorize apenas em 5,2 % do Produto Interno Bruto (PIB). E ainda corrija algumas das deficiências que existem no serviço”.

Relativamente às regiões mais carenciadas, que “não têm de ser necessariamente o interior”, o bastonário alertou para a necessidade de introduzir estímulos positivos para os jovens trabalharem nessas zonas.

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