Depois de vários anos a penar pelo estrangeiro, tinha tomado a decisão de regressar. Um amigo informou-o da abertura do concurso de ingresso e ele candidatou-se. E em boa hora o fez porque, de imediato, lhe apareceu esta ocasião rara de emprego. Foi seleccionado, fez um curso rápido na escola de polícia e ficou aprovado.
Colocaram-no na esquadra do Bairro Alto, certamente devido aos bons resultados obtidos nos testes e nas entrevistas. A colocação imediata e logo na capital não era para qualquer um. Mostrava que as chefias tinham reconhecido as suas qualidades e acreditavam no seu desempenho.
Marcaram-lhe o primeiro serviço na Assembleia da República. Iria para as galerias, vigiar o público, o que não é tarefa fácil. Tomou isso como uma distinção e um sinal de apreço. Ficou envaidecido mas convicto de que saberia corresponder a tamanha honra.
Ao princípio tudo parecia correr-lhe de feição. As pessoas ouviam, com atenção e em silêncio, as intervenções dos deputados. O ambiente nas galerias era tranquilo e expectante. Até que, em determinado momento, quando o 1º ministro se preparava para falar, houve um grupo que se levantou e começou a cantar. Ele conhecia bem aquela música e até se sentiu tentado a fazer coro com eles. Mas foi então que a senhora presidenta, apontando na sua direcção, deu aquela ordem estranha. “Façam o favor de evacuar as galerias!”
Sem perceber a razão de tão singular pedido, hesitou por uns momentos. Durante os anos em que esteve no estrangeiro devia-lhe ter escapado alguma coisa. No entanto, nunca deixou de cumprir uma ordem, por mais bizarra que ela fosse. Contrariado, desapertou o cinto, arreou as calças e começou a executar o que lhe tinha sido ordenado.
Ainda hoje não conseguiu entender porque razão foi expulso da PSP. A vida tem destas coisas e a língua portuguesa é muito traiçoeira…
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