Com toda a consideração que me merece a música de intervenção que serviu para passar mensagens subliminares “no tempo da outra senhora” (que é como quem diz, a Ditadura), não me parece que o caso seja, agora, para flores e canções. Só num país de poetas é que se faz uma revolução assim. Talvez seja do clima, ou do facto de estarmos “à beira mar plantados”, o facto é que brincamos com as palavras, e temos uma tendência incrível em usar a poesia em tudo o que fazemos e dizemos.
A Alemanha e a Áustria são famosas pelos compositores, a França, pelos pintores e escritores, a Itália pelo “Belo Canto”, pintores e escultores, a Espanha pelos toureiros e nós? Nós somos o povo de Camões e de Pessoa e tal como este último dizia “A minha Pátria é a Língua Portuguesa”. Não admira, portanto, que as nossas rebeliões passem por cantar canções de intervenção enquanto os políticos falam.
Em abono da verdade, o povo costuma dizer que “quem canta, seu mal espanta e quem chora, seu mal aumenta”… Quem sabe se é por isso que mesmo antes do regresso da Troika, que vem verificar se nos portámos bem e se fomos bons meninos e cumpridores das regras da União Europeia, desatámos todos a cantar “até que a voz nos doa” para ver se os espantamos mais depressa.
Além da poesia no dia-a-dia, fazia-nos falta uma Padeira de Aljubarrota que, de pá em punho, arrebanhasse seguidores, não de facebook, mas de ideais e se metessem (e nos metêssemos todos) por esses caminhos fora, até chegar a quem pensa que manda, e tornar realidade esse verso tão belo da canção de Zeca Afonso: “O Povo é quem mais ordena dentro de ti, ó cidade”…
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