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Editorial

A “mama” do Estado

Clara Bernardino

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Na última conferência promovida pelo Jornal das Caldas, o jornalista Camilo Lourenço, orador convidado, teceu duras críticas aos governos PS e PSD após o 25 de abril e referiu-se à maior parte dos políticos como “aqueles que mamam no Estado”. Comparação curiosa, se pensarmos no Estado como uma vaca leiteira. O problema é que esta vaca já só dá leite a alguns, que cortam nos ordenados e nas reformas dos outros, porque nas deles, nem pensar.

A vaca, de tão ordenhada, de tão sugada, já não dá leite e começa a dar sinais de desnutrição: professores, militares, polícias, médicos, enfermeiros e todos os restantes funcionários públicos devem ser empobrecidos para que a máquina do Estado, ou seja, a vaca leiteira continue a dar algumas gotas de leite a quem manda.

Se o Estado é a vaca leiteira dos senhores que mandam, a mim parece-me mais a galinha dos ovos de ouro: um dia destes, ainda abrem a galinha, na ganância de ter mais ovos, e acabam com o resto.

E nós, portugueses, o que somos para o Estado? Somos como aquele burro a quem dão metade da ração e o dobro do trabalho para dar lucro, ou seja aumentar o PIB, e, depois, quando estivermos exaustos e mal pagos, acontece-nos como o “burro” da história: morremos! Aos olhos do Estado isso era o lucro perfeito, pois assim, já não seria preciso pagar reformas.

Segundo Camilo Lourenço, nós somos, de facto, burros, pois votámos maioritariamente rosa ou laranja em todos estes anos desde que inventámos para nós um conceito de democracia muito “sui generis”. Talvez não sejamos “burros”, apenas daltónicos e não saibamos distinguir as cores. Também disse que nós portugueses, além de burros, somos heróis porque em dois anos conseguiremos equilibrar as contas e, que se saiba, mais nenhum povo conseguiu essa proeza… Mas, a que custo? Quanta fome não anda por aí à espreita para atacar os mais desprevenidos? Dizem-nos que não soubemos poupar. Eu acho que, de alguma forma têm razão. Aquele que nada tem, nada pode poupar. Assim, gasta tudo quanto tem, ou melhor, tudo quanto não tem, mas que os bancos que emprestaram e porque a teta do Estado chegou para essas instituições cuja fatura andamos todos a pagar.

A verdade é que se os senhores que lá estão e os que vierem a seguir não pensarem em estratégias para voltarmos a exportar mais do que importamos, a teta do Estado Português há de secar, pois o resto da Europa há de fechar os cordões à bolsa…

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