Não é terreno fácil este para ninguém: “Vénus” relata a relação conturbada de duas pessoas que não assumem o que sentem e que vivem no constante limite de o dizer. A colocar tudo isto em ação temos Ana Dionísio (é dela também a autoria do texto) e Diogo Lestre, atores vivendo nos limites do palco os limites de um amor onde ela não esconde o desejo de estar com ele, sem nunca o verbalizar, e ele resiste, ora desvalorizando ora acabando por cair no mesmo desejo.
Licenciada em Teatro na ESAD nas Caldas da Rainha, curso onde descobriu a nova forma de criação teatral que poderemos ver em “Vénus” (ou seja: partir de um texto original e desconstruí-lo, usando a música, a simbologia e a representação), Ana Dionísio acredita que esta será “uma peça cativante para o público, não só pelo tema em questão, mas por toda a encenação do texto, que oferece algo diferente.” Mais: “Oferece um ambiente mais intimista e poético, cheio de símbolos, onde as personagens encaram o público como parte das suas vidas, a quem contam, frente a frente, tudo o que não conseguem dizer um ao outro.”
Esta é uma peça de teatro que conta, portanto, consigo, com a sua presença, caro espetador, contribuindo para tal o ambiente da sala, o tom intimista, as luzes quentes e, claro, as personagens que procurarão estar sempre muito próximas do público. Não é por acaso que a estreia decorrerá na Antiga Casa da Câmara, afinal foi ali que Ana Dionísio e Diogo Lestre, este ultimo formado na ESTC em Coimbra, desenvolveram todo o processo de criação e onde, depois de muitos ensaios e com a peça já delineada, pensaram: “nós temos de fazer a estreia aqui!”
Ali, onde “por entre chuvas que não molham e silêncios que ressoam a verdade, eles vivem, viajam, vigiam-se um ao outro, quer gostem ou não, sempre no limite de dizer o que sentem”, até surgir “a hora de decidir, a hora da dúvida: e agora?” E agora, Ana Dionísio e Diogo Lestre? Eles respondem: “por agora é preciso dizer que esta é uma excelente oportunidade para o público nazareno, e não só, de vir conhecer este espaço com imenso potencial e história, através de um evento diferente do habitual.”
Um dia, talvez um dia, “Vénus” possa viajar também por todo o país, porque esse é também um dos objetivos da jovem dupla de atores, mas para já este espectáculo tinha de ser apresentado, em primeiro lugar, na Antiga Casa da Câmara da Pederneira, o espaço onde alguém há-de perguntar: “Até quando se consegue esconder um amor?”
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