Ouro é sempre ouro … O Região da Nazaré foi saber como são as tabelas de algumas lojas de compra de ouro e como variam os preços. Para levar a cabo esta tarefa, a “cliente mistério” colocou num envelope dois fios de ouro grossos, dois anéis de homem, uma aliança, uma pulseira fina e dois medalhões antigos e pesados. Um dos medalhões tinha uma pedra sem qualquer valor. É importante referir que as peças eram todas de ouro português. Clara Bernardino

A nossa “cliente mistério” visitou três lojas diferentes da região, contando sempre a mesma história: tinha recebido as referidas peças em herança e não gostava de as usar, pelo que pretendia vendê-las. Apesar de o ouro pesar o mesmo, nas três balanças das três lojas visitadas, o preço oscilou bastante. O factor que provocava a variação era o medalhão com a pedra falsa. Em dois dos estabelecimentos, o peso da pedra era descontado no peso do medalhão. Na terceira loja, apesar de se ter reconhecido que a pedra não tinha qualquer valor, foi valorizada uma marca, para além da que distingue as peças de ouro, e que nos explicaram ser uma marca própria de relojoaria (contrastaria) que deve ser levada em conta, segundo a tabela da Imprensa Nacional da Casa da Moeda. Esta tabela estava à vista nas três lojas. No entanto, entre os preços de compra, apresentados nas três lojas, havia uma diferença de 200€. Durante a visita a cada uma das lojas, a “cliente” apurou que o ouro mais valioso é o português, pois tem 19,2 quilates ou seja 80% ouro e 20% outros metais. É o teor mais elevado da Europa, sendo o mais vulgar 18K (75% ouro). O ouro puro é muito maleável e por isso difícil de trabalhar, tem de ser ligado a outros metais para o tornar mais duro e definir a sua cor. Se vai vender algumas peças de ouro e este não for todo português, não se surpreenda se não tiver o mesmo valor. O ouro francês, canadiano, ou de qualquer outra origem não é tão puro como o nosso, pelo que o valor de compra é inferior. Se lhe derem um preço hoje e amanhã outro pelas mesmas peças de ouro na mesma loja, não é engano: a cotação do ouro varia diariamente. Qual o destino do ouro vendido por particulares e comprado por estas lojas? O ouro comprado por estas redes é muitas vezes reciclado, ou seja, derretido e utilizado para fazer novas peças ou, na maioria das situações, vendido no mercado internacional. A conjuntura de crise económica, com o desemprego no nível mais alto de sempre, obriga muitos portugueses a desfazerem-se das peças em ouro para satisfazer necessidades imediatas de liquidez. Outros há que se querem desfazer dele ou porque não o usam, ou porque o receberam em herança e não gostam das peças. Seja como for, há muitas empresas que identificaram na conjuntura actual e na valorização do preço do ouro uma oportunidade de negócio. Nos últimos dois anos, as redes de ‘franchising’ de compra e venda de peças de metais preciosos multiplicaram-se. As sucessivas aberturas de agências em todo o país comprovam o sucesso de um modelo de negócio que já começa a dar os primeiros passos na internacionalização. Casa da Moeda marca 4,1 toneladas de peças O ouro comercializado nestas redes, à semelhança de todas as peças que circulam no mercado interno, tem uma marca de contrastaria junto à marca de responsabilidade, que atesta o seu valor e fiabilidade. Em Portugal, essa garantia é tarefa das contrastarias da Imprensa Nacional da Casa da Moeda que, em 2010, revela ter legalizado 4,1 toneladas de ouro. No total, entre ouro, prata e platina, as contrastarias nacionais cunharam 8,4 milhões de peças, o equivalente a 42,3 toneladas.