Futuridades Hi-tech

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Num deles mostrava-se uma velha senhora na sua casa invadida por sensores inteligentes, os quais perscrutavam os seus “sinais vitais”. Qualquer movimento em falso da senhora, anormal ou suspeito, seria de imediato transmitido ao filho, por sinal um cientista de meia idade que a seguia, distante, como a um valioso animal de laboratório. Noutro caso […]

Num deles mostrava-se uma velha senhora na sua casa invadida por sensores inteligentes, os quais perscrutavam os seus “sinais vitais”. Qualquer movimento em falso da senhora, anormal ou suspeito, seria de imediato transmitido ao filho, por sinal um cientista de meia idade que a seguia, distante, como a um valioso animal de laboratório. Noutro caso apresentado, num hospital psiquiátrico, os movimentos anormais dos doentes eram prontamente denunciados por um forte alarme sonoro. Primeira nota a registar sobre a falta de ética destas futuridades: elas baseiam-se em projectos que são, em regra, propriedade de grupos económicos privados, e que conseguem assim publicidade gratuita disfarçados de “notícias”, induzindo no receptor a (falsa) ideia de que se tratam de progressos públicos que estarão um dia acessíveis a todos, ou pelo menos a um grande número de pessoas interessadas (esta é a razão de os poderes públicos, mais ou menos cumplicemente, se verem depois “forçados” a realizar gigantescas despesas, tantas vezes inúteis, como recentemente aconteceu com as “pandemias” gripais. É a razão e a consequência do chamado “princípio da precaução”). Questionado sobre o preço (elevado) dos sistemas inteligentes, um cultor desta futuridade obscena respondia que os primeiros interessados iriam ser, com certeza, as instituições e “lares” de idosos, que assim poderiam poupar nas despesas com o pessoal. Fascinante! Eis a face oculta da “descarbonização da economia”, coisa geralmente associada à luta contra o aquecimento global. Completamente ausentes da reportagem ficam as questões da privacidade dos visados ou da importância destes manterem o contacto com outros seres humanos e com a natureza, para além das possíveis “falhas nos sistemas” que, como bem sabemos, são demasiado frequentes. E ficam também sem resposta, porque ao absolutismo da técnica é sempre isso que mais convém, as perguntas primordiais: porque razão a sociedade e as famílias “modernas” desprezam os idosos? Estas futuridades de que somos amplamente abastecidos por uma euro-tecnocracia com voz de lata, supostamente científica mas sempre técnica, são uma fraude que importa denunciar expressamente. Elas raramente valem o que anunciam, além de que nunca deveriam passar como “notícias” em canais de algum modo financiados com dinheiros públicos. O seu lugar próprio, num qualquer país civilizado, deveria ser o das televendas. Ainda há poucas semanas, num outro programa de divulgação hi-tech de um dos canais abertos da televisão nacional, um especialista em reprodução humana dizia, algo consternado e embevecido com a sua técnica certeira, não compreender porque razão insistiam ainda tantas pessoas no uso do método natural de concepção, dado o risco que ele comporta de originar fetos deficientes. Começa de facto a tornar-se preocupante o nível de indigência intelectual, ou mesmo de satânica maldade, a que chegam tais programas ditos de divulgação “científica”, que de ciência nada têm e que prestam um péssimo serviço à sociedade. Haverá porventura muito trabalho a fazer num sector pouco regulado que faz as suas campanhas de forma muito planeada e com extrema subtileza. Refiro-me às agências de comunicação. As tais que “vendem presidentes” mas também as outras, que todos os dias, a coberto de telejornais, vendem de tudo um pouco. Deveria haver uma divisão clara, nos espaços informativos, entre aquilo que são os factos reais e aquilo que são os factos produzidos pelas campanhas políticas e comerciais das grandes corporações e grupos económicos. Não sou um especialista no assunto, mas julgo que poderão haver critérios bastante válidos de demarcação. Os jornalistas e os accionistas das empresas de comunicação social têm aqui uma capital responsabilidade e um dever que é, acima de tudo, ético. Pois se não cuidarem de separar cuidadosamente os factos reais dos produzidos, ao invés de informar eles estão, sobretudo, a contaminar a sociedade com falsas histórias, esperanças e medos. Daí que tenha já usado algures a expressão “meios de contaminação social” em vez de “meios de comunicação social”. Mas antes deles é ao cidadão que cabe a responsabilidade fundamental, a qual passa pela exigência consigo próprio e com os outros em matérias que se cruzam invariavelmente com a educação. A isso abordarei num próximo artigo.

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