José ConstantinoMarítimoOra aí está o Carnaval da Praia, e como o povo diz, é uma riqueza!É verdade, somos um povo vaidoso, para o bem e para o mal! Qual crise? As crises passam de moda, o Carnaval não! Todos os anos há uma crise! Querem ver? Os talibans atacaram a América, houve uma crise terrorista, não se podia ver uma pessoa de redilha na cabeça que era logo um potencial terrorista. Se tivesse barba grande, então? Depois foi o antrax. Andava acamado nas casas de banho dos aviões. Diziam nas notícias que era um perigo para a humanidade. Esse pó branco, afinal era só pó de talco. Tivemos os nitrofuranos nas galinhas. Andei a cismar porque adoro frango assado e até tinha comido muito ultimamente. Depois veio a doença das vacas loucas. Aí fiquei mais descansado, porque não sou muito de comer carnes vermelhas, prefiro peixe. A seguir veio a gripe das aves. Diziam na televisão que de certeza iria vir uma pandemia de gripe, que morreriam milhões de pessoas. Cada vez que entrava num avião era só japoneses de máscara na boca, tive para comprar uma também. Até aconselhavam as pessoas para que se encontrassem uma gaivota morta, nem que fosse de velhice, teriam de avisar as autoridades. Um perigo estes pássaros, tive mesmo para despachar o canário feio que tinha em casa, que ainda por cima não cantava nada, quase que o punha em liberdade.

O ano passado era o clima. Só se falava nas mudanças do clima. Na Noruega então, onde trabalho, andavam obcecados, afinal num pais destes, não havia neve, em Portugal não chovia, o tempo já não era o mesmo. Este ano na Noruega, para saírem de casa, as pessoas têm de se levantar duas horas antes para tirarem a neve a pazada da porta, já não nevava assim há mais de 4 anos. Em Portugal a chuva já enjoa. A fome deu em fartura. A crise do clima passou, entretanto tudo voltou ao normal, e ainda por cima houve outras crises. O petróleo que ia chegar aos 200 dólares, os alimentos que iam aumentar como nunca, …Agora é a vez da crise económica! Arre xissa! Estou cansado!Agora quero e ensaiar-me, gozar o Carnaval, esquecer tudo! Graças a Deus que não somos como o Carnaval de Torres. Aí é que não saía de casa nem no Carnaval, pois eles até nos carros alegóricos falam da crise e dos políticos. Quero lá saber disso! Eu quero é ver o Pompeu ser rei, ao lado da rainha. Isto é a melhor coisa que existe nesta terra. Um rei e uma rainha do povo, gente simples que vive e adora o Carnaval. Aqui não há João Baião nem Merches Romeros. É a melhor altura do ano, a criatividade das pessoas esta ao rubro! E toda a gente a pensar em fatos, músicos a pensarem em marchas, as marchas então são um laboratório musical, tudo é permitido desde que dê para balhar. Pessoas a escreverem marchas e cégadas, tudo a usar a cabeça. Afinal temos ideias. A nossa tradição oral volta com força! Os jovens e as crianças ficam assim a saber as nossas expressões típicas. A Rádio Nazaré volta a ser altamente e a ter audiência. Vamos usar as salas que permanecem a maior parte do ano fechadas! Nem o parque Mayer tem tantas salas de espectáculo como a Nazaré. Mas imaginem um Carnaval sem Casino, Mar Alto, Planalto e Pederneira? Aí é que era uma crise grandona! Já me quero a ver o desfile passar! Os carros de platex e esferovite que a Câmara dá todos os anos e que a malta na terça-feira à noite destrói, com as bebedeiras. Agora reciclar? Estás tonto! Está tudo bem! O Nosso Carnaval é diferente, ninguém o compreende, só nós, é uma troncagem total!Para o Carnaval há sempre dinheiro. A Câmara tem de dar, isso e que era belo, agora é assim, já não e como dantes! Política e troncagem de mãos dadas! Mais nada!Não me cansem com os buracos da estrada, nem com mais nada, quero é gozar. Desejo a todos um bom Carnaval e que as costureiras não fiquem a arder! (se ainda houver chambres!)