João DelgadoTécnico do Centro de Apoio à Pesca e ao Mar da CMNNos últimos dias de cada ano, ocorrem em Bruxelas as já habituais maratonas negociais dos ministros das pescas da U.E., negociações cujo resultado dependem vários milhares de pessoas que directa ou indirectamente estão ligadas ao sector das pescas.As expectativas não eram animadoras, visto que se anunciavam cortes significativos principalmente no carapau com um corte pré-anunciado de 40% , facto que felizmente não se veio a confirmar, não tendo sofrido qualquer corte. No caso da pescada, as reduções também eram esperadas, mas por força de muita luta, de muitas propostas apresentadas, de muitas reuniões para que os responsáveis tivessem o real conhecimento do estado actual do stock, que se apresenta em boas condições, esta espécie registou um aumento de 15% , traduzindo-se num acréscimo de cerca de 300 toneladas

De todas as espécies em discussão para atribuição de quotas em Dezembro último, a pescada e o carapau eram realmente as mais significativas para a comunidade piscatória da Nazaré. Referindo ainda o “universo” da Pescada, as indicações que foram veiculadas por parte da Direcção Geral das Pescas, tinham como objectivo proceder à divisão do País em três partes, Norte, Centro e Sul, para que fossem distribuídos de forma mais justa e equilibrada os 14% da quota global que está reservada para as embarcações que estão fora do plano de recuperação da espécie. Informações que não foram assumidas como definitivas, apontando conclusões para o final de Janeiro de 09. Esta questão é de particular relevância para a nossa comunidade, já que a grande maioria das embarcações em condições de capturar esta espécie estão precisamente fora do referido plano. Utilizei a palavra “universo”no início do parágrafo anterior, referindo-me especificamente a uma espécie, precisamente para acentuar que tudo neste sector é vasto e complexo, é um não mais acabar de leis para reger cada arte, cada embarcação, cada espécie, cada pescador. Como se não bastasse tanta agrura, tanta injustiça, tanta dificuldade, ainda ter que levar com toda a burocracia, toda a insensibilidade que jorra das repartições, departamentos e instituições. È necessário um estoicismo fora do comum para suportar tanta coisa e continuar… E garanto que só sentindo o “outro lado “na pele é que se atinge verdadeiramente a dimensão da coisa, dependendo da pesca para sobreviver e assistindo diariamente a tanta injustiça é absolutamente desumano… Será que alguma vez se fará justiça a estes homens, será que alguma vez a defesa desta causa passará a ser assumida, como a grande causa de vilas e cidades com origens marcadamente definidas por este sector, já que tornar-se uma causa é totalmente diferente de utilizar o sector e os seus profissionais para outros fins que não a defesa destes.Uma verdadeira causa deve estar acima de interesses pessoais, profissionais ou monetários, na defesa de uma verdadeira causa tudo se torna secundário, as polémicas, os sapos que se engolem, a exposição pública, a aparente incoerência política, tudo isto se ultrapassa quando a causa é a grande causa. E como em democracia tudo se negoceia, nada se impõe, (pois se fosse pela força duvido muito de quantos e de quem apareceria à chamada) aqui faço o meu apelo a todos aqueles que têm vontade que isto mude, venham negociar, aprendam a recuar para poderem avançar, coloquem-se como criticáveis para poderem criticar, porque servir uma verdadeira causa é servir o povo e sentados no sofá não servimos ninguém nem mudaremos nada…