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A barca “Nossa Senhora dos Aflitos”afinal ainda pode ser restaurada

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“Há muita gente que desconhece que não foi a barca original a ser recuperada”.Tânia RochaA barca original “Nossa Senhora dos Aflitos” está actualmente no Porto de Abrigo da Nazaré à mercê da chuva e do vento, a deteriorar-se cada vez mais. Para substituir esta barca, e porque alegadamente a original não podia ser recuperada, foi […]
A barca “Nossa Senhora dos Aflitos”<br>afinal ainda pode ser restaurada

“Há muita gente que desconhece que não foi a barca original a ser recuperada”.Tânia RochaA barca original “Nossa Senhora dos Aflitos” está actualmente no Porto de Abrigo da Nazaré à mercê da chuva e do vento, a deteriorar-se cada vez mais. Para substituir esta barca, e porque alegadamente a original não podia ser recuperada, foi construída, em 2002, uma réplica, fruto de uma parceria entre a Câmara Municipal da Nazaré e o Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso. Esta nova barca custou à autarquia mais de 61 mil euros, segundo informação do gabinete de imprensa da CMN. No entanto, Manuel Bragança, uma pessoa preocupada com o património nazareno e interessada na recuperação da barca original, além de defender que é possível a sua restauração, já contactou o mesmo construtor que fez a nova barca, mestre António Luís Júnior, que lhe afirmou que a recuperação da barca original é possível e ficou de lhe apresentar um orçamento para o efeito.

A barca original “Nossa Senhora dos Aflitos” foi oferecida ao Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, em 1977, para ser exposta. Desde 1977 até 1995 esteve neste museu, debaixo de um telheiro, num dos pavilhões construídos no jardim das instalações. Em 1995, para a comemoração do 1º centenário da Capitania do Porto da Nazaré, foi posta no areal, onde esteve durante algum tempo, e mais tarde foi levada para o Porto de Abrigo da vila, onde se encontra actualmente em condições lastimáveis. Até 1992, a barca foi alvo de algumas intervenções de restauro, no museu, por António Júnior, na altura com a direcção de João Saavedra Machado. Quando foi posta no areal, para a comemoração dos 100 anos da Capitania da Nazaré, o museu tinha uma nova direcção, que teve início em 1994 com o Dr. António Nabais. Depois da barca ter saído para o areal da Nazaré, nunca mais regressou ao museu.Em 2002, a Câmara Municipal da Nazaré, em parceria com o Museu, “apoiou a recuperação de embarcações tradicionais, com os principais objectivos de preservar as antigas embarcações de pesca tradicional da Nazaré, devolver ao areal a memória dos barcos que outrora o povoavam, e contribuir para a preservação da vocação marítima da cultura local”, segundo informação da página da Internet da autarquia. Porém, em muitos casos, como este da barca salva-vidas, a recuperação não passou da construção de raiz de embarcações novas, construídas à total semelhança das originais. Contudo, a mensagem que passou em muitos órgãos de comunicação social da época, foi que a barca estava a ser recuperada, mas nenhum mencionou que esta recuperação consistia apenas na construção de embarcações novas. Em 2004, foi realizado o baptismo simbólico desta nova barca “Nossa Senhora dos Aflitos”, que contou com a presença do Presidente da República na altura, Jorge Sampaio.A barca original, que está actualmente no Porto da Nazaré, só não foi destruída ainda, porque o Porto não tinha mecanismos para tal, mas o cenário pode mudar com o recente protocolo, realizado entre a autarquia e o IPTM. Contudo, Manuel Bragança, habitante da Nazaré, sente-se muito indignado com a situação de degradação e desprezo da barca “Nossa Senhora dos Aflitos”, e como tal, além de pedir ao IPTM para não destruir a barca, também denunciou a situação ao Região da Nazaré, de modo a que se consiga “fazer algo para realmente preservar o património, cultura e história da Nazaré”. Manuel Bragança descobriu que a barca está ao abandono no Porto de Abrigo e como tal, pretende recuperá-la, pois é esta a barca que tem a história de um povo e que salvou dezenas de pescadores, que caso não existisse, “pagariam com a morte a sua actividade na pesca, para trazer o pão tão necessário para a sobrevivência das suas famílias”. Este munícipe espera um orçamento para a restauração da barca, feito pelo mesmo mestre que construiu a nova embarcação. “O mestre afirmou-me que a barca tem recuperação, e só não me deu ainda um orçamento, porque, por motivos de saúde, ainda não teve oportunidade de estudar qual a obra necessária”. O mesmo ainda confessou que tem noção de que o preço será mais elevado do que o montante que a CMN pagou, mas reforçou “o importante é recuperar esta barca, a outra não tem nenhum valor patrimonial”. Manuel Bragança defendeu que “com os 60 mil euros gastos na construção da réplica e com mais algum dinheiro, podia-se realmente recuperar a barca original”. O Região da Nazaré contactou o director do Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, que na altura exercia funções, Dr. António Nabais, que nos declarou que a construção de uma barca nova “é também uma forma de recuperação, porque foi construída à imagem e semelhança da barca original”. O ex-director do Museu salientou também que, segundo o construtor naval, mestre António Júnior, “era impossível usar partes da barca antiga, porque estava num estado de degradação muito avançado. A barca original está toda desfeita, teria de ser tudo substituído, a madeira estava totalmente podre, em pó, não conseguia suportar os pregos”. Acrescentou ainda, que “não havia outra solução”, salientando, “mesmo que se aproveitasse algum bocado de madeira, esta parte estragaria as madeiras novas, como já aconteceu com outras embarcações, e como tal, mais tarde teríamos de substituir tudo”. António Nabais destacou que “o importante é a memória da barca, com esta solução não se perdeu valor, porque se está a conservar essa tal memória”. No entanto, no final da entrevista, o Dr. António Nabais referiu que os fundos para este projecto possibilitaram apenas esta solução. “Hoje em dia nada é impossível, mas para se recuperar a barca original gastar-se-ia uma fortuna, e há coisas mais necessárias para se gastar o dinheiro”. “A madeira teria de ser tratada em laboratórios, só para isso eram precisos milhares de contos”. Jorge Barroso, presidente da Câmara Municipal da Nazaré, referiu que “esta foi a solução dada pelos técnicos, construtor naval e director do Museu na altura”, salientando que o papel da Câmara Municipal se destacou no financiamento da recuperação das embarcações tradicionais.Manuel Bragança reforçou que a barca original não foi restaurada, porque “as entidades envolvidas simplesmente não quiseram”. “O Museu devia ser dirigido por pessoas competentes, que deviam zelar por todo o espólio cultural, neste caso, deixaram a barca degradar-se até este ponto, e não contentes com isso, ainda fizeram uma réplica, desventrando a barca original, porque lhe foi tirada todas as ferragens. Então o Museu aceita um património desta importância sem ter condições para o ter? O ex-director do Museu, António Nabais, é o responsável pela degradação da barca. Este senhor permitiu que a barca fosse para o areal e nunca mais voltasse ao museu”. Manuel realçou que o mesmo mestre do estaleiro naval da Nazaré, António Júnior, garante que “é possível a recuperação”. Segundo disse, o mestre só ainda não sabe o montante em causa, porque vai ter de estudar qual o estado da madeira e respectiva recuperação, confessando saber que certamente “o montante vai ser mais elevado”. Para a concretização desta vontade, Manuel Bragança pretende, com a angariação de fundos, além de restaurar a barca original, implementar um Museu do Pescador, em princípio sedeado no Porto da Nazaré, onde possam figurar esta e outras embarcações e alguns artefactos piscatórios, com o intuito de manter viva a história de várias gerações nazarenas. Adiantou ainda que já há um conjunto de pessoas interessadas na real recuperação da barca e na sua concretização. Manuel acusou também a CMN de publicar que a barca foi recuperada, quando na realidade, o que fizeram foi construir uma cópia. “Foi publicado no site da Câmara que a barca estava a ser alvo de intervenções de restauro, o que não é verdade”. Diz também que “não informaram Jorge Sampaio que vinha lançar uma réplica, todas as informações que publicaram iludiram a população. Há muita gente que desconhece que não foi a barca original a ser recuperada”. Por tudo isto, Manuel Bragança mostra-se indignado perante a situação, “a CMN e o Museu têm de assumir publicamente porque é que não recuperaram a barca, que é única no mundo, e recorreram a uma réplica, quando na realidade é possível recuperar a original. Sinto-me indignado por ter sido dado o mesmo nome à réplica, quando na realidade a barca “Nossa Senhora dos Aflitos” ainda existe”. Acrescentou também que “quando a barca foi entregue ao Museu para ser preservada, os pescadores estavam convictos de que a mesma estava em boas mãos. Até 1992 a barca sofreu várias intervenções de restauro, mas depois da saída de João Saavedra, deixaram a barca degradar-se até este ponto. Como é que é possível deixarem a barca vir para o areal e nunca mais regressar? Quem é o responsável? Alguém tem de ser responsabilizado por isto!”O Região da Nazaré contactou também o mestre António Júnior, que, por motivos de saúde, não teve disponibilidade para prestar muitos esclarecimentos, só nos confirmou que vai estudar a actual situação da barca, para poder dar a Manuel Bragança um orçamento que visa a recuperação da mesma.A barca “Nossa Senhora dos Aflitos” serviu o povo da Nazaré desde 1912 até 1977, data em que a barca salva-vidas foi oferecida ao Museu, pelo Instituto de Socorros a Náufragos, para figurar neste ou noutro museu da vila. Das intervenções que teve destacou-se o salvamento de 21 pescadores, num naufrágio que fez dois mortos em 1914, e de 47 alemães, que pertenciam a um submarino de guerra que foi afundado na zona do Canhão da Nazaré, no final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.Actualmente, este património que pertence a todos os nazarenos está ao abandono, e se não for alvo de uma rápida e eficaz intervenção irá desaparecer da cultura nazarena. Este marco foi extremamente importante na história da Nazaré, e, apesar de muito degradado e esquecido por vezes da memória das gerações presentes, ainda existe e pode ser salvo.

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