Pai e filha expõem a arte de gravar sobre o cristalDavid Mariano É o cruzamento entre duas gerações de gravura sobre cristal: está patente desde o dia 27 de Setembro e até 19 de Outubro, a exposição “Gravuras sobre Cristal” de Líbano (José Roque de Jesus) e Vilma Libana (Vilma Libana). Pai e filha, portanto, que preservam a arte de gravar o cristal a ácido fluorídrico com motivos diversos que acabam por tornar os objectos de cristal em peças únicas de arte, sempre procuradas por apreciadores e coleccionadores. Esclareça-se: a gravura em ácido fluorídrico é um método de decoração que consiste em tirar partido do efeito de corrosão do ácido sobre o vidro, cujo resultado final pode constituir uma obra de arte de grande beleza (e aqui entra o factor humano de criatividade e técnica). Este tipo de gravura só se consegue sobre cristal double, constituído por duas camadas de vidro, sendo as imagens feitas em verniz e as várias tonalidades de cor obtidas através da aplicação de ácido.

Os melhores resultados podem agora ser vistos Centro Cultural da Nazaré, através de cerca de 60 peças em cristal, que fazem parte da extensa colecção dos dois artesãos e onde se incluem cálices, jarras de vários formatos ou compoteiras de diferentes cores e tamanhos que servem de suporte ao desenho de rostos de personalidades nacionais e estrangeiras, monumentos, cenas bíblicas e até touradas. Há aqui trabalhos cujo minucioso trabalho artesanal pode levar vários dias antes de chegar à obra final, assumindo as mais diversas formas: desde motivos religiosos, personalidades conhecidas da política, da literatura, do futebol, da música ou da tauromaquia, como Luís de Camões, Eça de Queiroz, Amália Rodrigues, Salazar, Papa João Paulo II, Elvis Presley ou Freddy Mercury, sublinhando sobretudo aqueles que têm sido mais retratados por Vilma Roque. Esta aprendeu com o pai a arte da gravação em cristal, começando a expor em 2004 – até à data já realizou oito exposições (e nos planos parece estar prevista a internacionalização que poderá acontecer já em 2009 com uma exposição em Espanha). Quanto a José Roque de Jesus (Libano) tem feito várias exposições individuais e entrou em algumas colectivas no país (fazendo os seus trabalhos ainda parte de colecções de admiradores). Filho de marinhenses, iniciou o contacto com o vidro na fábrica Stephens e desde cedo tornou-se um excelente executante do processo decorativo do cristal, assumindo funções como desenhador, criador de modelos, lapidário, gravador a ácido, à roda, pintor e foscador. Por isto tem sido considerado o artista mais completo a trabalhar o vidro.