Editorial 111Clara BernardinoSomos um país de poetas. Isso talvez signifique que temos um país pequenino e com muitas pessoas com criatividade e mais dom de palavra por metro quadrado. Até aqui, estamos todos de acordo. Também todos concordamos que há palavras doces que conseguem aliviar-nos as dores da alma e outras palavras que nos esbofeteiam mais profundamente do que as chicotadas que nos dá a própria vida.Movem-se “guerras” por causa das palavras e selam-se “pazes”, igualmente, com palavras.
As palavras marcam a concórdia e também a oposição. A mesma frase, dita em tom diferente implica uma pontuação escrita diferente e, consequentemente, uma intencionalidade e um significado diferentes.Vejam-se as palavras dos políticos da nossa praça: alguns apelam à união, mas semeiam a divisão; outros defendem posições em que as palavras não deixam margem para dúvidas, mas depois de instalada a confusão, já o sentido das suas palavras não era esse, o tom também não era o que lhe atribuíram, tornando-se vítimas das palavras que disseram, mas que também não era bem o que queriam dizer…Talvez seja uma questão de Português. Mais precisamente, talvez seja um problema de interpretação de uns, e de utilização de vocabulário inadequado à transmissão das ideias pretendidas, por parte de outros. Com certeza, não será um problema exclusivo dos senhores políticos. A culpa será da nossa língua, riquíssima em sinónimos, em que uma palavra não tem só um significado ou uma intenção. O maior problema da nossa língua pode não se prender com a questão dos sinónimos, mas sim com as leituras que se podem fazer dos mesmos e com a apropriação que cada um de nós faz dos significados das palavras. Ou seja, é como se cada um de nós tivesse um dicionário próprio que vai construindo, ao longo da vida, e que pode diferir dos outros…Como dizia Fernando Pessoa, “a minha pátria é a Língua Portuguesa”… Talvez seja por isso, que o nosso chão é fértil em poetas e políticos!
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