No Cine-Teatro de AlcobaçaDavid MarianoTragédia e culpa têm sido dois temas caros à alma e história portuguesa – e apetece dizer: desde que o reino de Portugal é reino que tem sido assim (a democracia parece que não corre muito diferente). Não sabemos se tudo começou com o episódio amoroso vivido entre D. Pedro e D. Inês de Castro (a rainha coroada depois de morta) ou se já vinha de antes; e quem sabe o dramático fim dos amantes não tenha predestinado a nação a olhar o futuro como uma desgraça romântica (e a verdade é que depois também houve D. Sebastião a ajudar à festa). Há quem lhes chame o “Romeu e Julieta” português, mas nunca perceberemos a comparação, pois a peça de William Shakespeare ainda demorou perto de dois séculos a ser escrita (e eram os súbditos de Sua Majestade quem deveriam por esta altura apelidar a sua obra de “D. Pedro e D. Inês” britânico).
Complexos de inferioridade nacional à parte, as S.A. Marionetas há muito que decidiram agarrar no tema e apresentá-lo, pela primeira vez, em teatro de marionetas. Pegaram nas suspeitas que tínhamos na cabeça e materializaram-no no título: “A Culpa foi da Inês” acaba por ser a reposição que andávamos à espera de ver correr em cima do palco do Cine-Teatro de Alcobaça e a culpa agora é desta companhia de marionetas que a devolve ao seu espaço natural no próximo dia 15 de Dezembro, sábado, pelas 21h 30.Nunca é demais repetir como tudo começou: corria o ano da Graça de 1320 e na recente nação lutava-se ainda com os mouros, lá para sul, nos Algarves, por vezes com os vizinhos de Castela, lá para nascente, e, contra a peste por todo o lado. O rei, o bravo D. Afonso IV, tinha nessa primavera a melhor notícia do ano: nascera em Coimbra o jovem D. Pedro e tudo levava a crer que desta vez a Providência lhe sorria, o futuro afigurava-se risonho.Naturalmente, aparece sempre uma mulher que resolve estragar tudo (mais uma vez a Providência não contava com isto) e D. Inês de Castro daria cabo dos planos do rei D. Afonso IV, tendo o fim que todos conhecemos. O espectáculo abarcará o período temporal com início no nascimento de D. Pedro I, retratando a tragédia numa perspectiva que procura equilibrar a vertente lendária com a história, ao mesmo tempo que recria e reinventa o mito através de interpretações mais ou menos contemporâneas. Com meia centena de marionetas de José Gil – manipuladas pelo próprio, Sofia Vinagre e Jaime Leão –, a culpa é de todos nós se não formos ver.
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