A Nazaré foi uma das localidades portugueses que, no passado dia 30, foi palco da manifestação nacional pelo direito à habitação.
Segundo uma nota de imprensa do grupo de ativistas que organizou o protesto, o problema do acesso à Habitação existe no país inteiro: é a falta de casas, são as rendas impossíveis, os salários praticamente estagnados e as prestações ao banco sempre a subir. Na Nazaré, se não for igual, é pior.
“Sabemos que é muito difícil conseguir uma habitação. Todos os dias ouvimos isso na rua ou mesmo de alguma pessoa próxima de nós. No entanto, os sucessivos governos nacionais e locais parecem ter dado muito pouca importância a esta realidade.
A Estratégia Local de Habitação reconhece o grave problema de habitação no concelho da Nazaré. Não basta reconhecer o problema, é essencial agir rapidamente na sua resolução. Se no plano nacional é necessário fazer muito, no plano local também é urgente encontrar soluções”.
“Se não pararmos juntos e agora esta máquina, que viola os nossos direitos mais básicos, que está a destruir a coesão territorial e social, as consequências serão sentidas na Nazaré de hoje e de amanhã”.
Alexandre Isaac, um dos ativistas presentes na manifestação, disse à esquerda Net, que a crise da habitação “está a desagregar a [
nossa] comunidade.”
Segundo este habitante, a Nazaré, tal como noutros pontos do país, “a crise da Habitação afeta quase toda a gente”, indo para “além de uma idade específica”, até porque, “se alguém com trinta anos não consegue a sua independência, acaba por ir ficando em casa dos pais e a questão torna-se familiar e afeta pessoas de todas as idades”.
Quanto às medidas necessárias para inverter a situação, Alexandre Isaac destacou que “não existem soluções ‘milagrosas’ que resolvam o problema em 15 dias”. Ainda assim, refere que “o concelho da Nazaré tem características muito próprias, que não admitem as soluções que tantas vezes vemos anunciadas”.
“Há questões óbvias, o parque habitacional público do Concelho de Nazaré não chega aos 0,70% do total das habitações, números muito inferiores aos nacionais (2% de parque habitacional público) e à média europeia que se encontra acima dos 10%”.
Acresce que “os valores da habitação (no arrendamento e na aquisição) são muito altos comparando com rendimento médio dos habitantes do concelho, os juros dos empréstimos para compra de casa continuam a subir desenfreadamente”.
“Há ainda uma questão fundamental noutros locais, que se põe de uma maneira muito específica na Nazaré, que tem que ver com o Alojamento Local”.
Alexandre Isaac referiu que “não há alojamento mais local do que os ‘Chambres’”, e que, “ainda nos anos 90 do século passado, a Nazaré criou um licenciamento próprio desses alojamentos sazonais a turistas”.
Para o munícipe, o alojamento local “só é um problema quando é feito de forma ilegítima, ilegal ou descontrolada”, e o que “verificamos, com preocupação, é que esta realidade está a deixar de ser uma estratégia local e sustentável, pois uma grande maioria de novos alojamentos não pertence sequer a residentes”.
Uma ideia também defendida por Pedro Peixe que aponta o início do problema para depois da crise financeira de 2008, altura em que muitas residências foram adquiridas por pessoas sem ligação à Nazaré, destinando-as ao alojamento local.
“O que temos na Nazaré são rendas muitos altas e uma grande dificuldade no acesso à habitação, especialmente devido ao preço das casas, que aumentou substancialmente a seguir à crise de 2008, baseada no seguinte: há centenas de frações autónomas na Nazaré que são de pessoas que nunca viveram ou passaram férias cá e que foram disponibilizadas, de imediato, para ser exploradas como AL – Alojamento Local.”
Pedro Peixe explica que “o Alojamento Local é uma invenção nazarena, a parte mais moderna dos chambres, que era o aluguer das casas das pessoas, que acolhiam, no seu lar, quem vinha de férias. O que nós temos é a exploração por parte de quem nunca teve interesse em estar na Nazaré a aproveitar-se do turismo que foi feito pela Nazaré.”
Membro da Associação Chão das Lutas, uma associação de defesa pelo direito à habitação, pede “às pessoas que têm dificuldades em encontrar casa, na Nazaré, que nos procure, através da internet e que nos contem o que se passa para sabermos se podemos auxiliar de alguma maneira.”
Devido aos preços das casas e das rendas, há cada vez mais nazarenos a procurar solução fora da vila.
“Tenho um primo que alugou um T2 lá ao sul, onde era a antiga discoteca Fora D’Horas, que está a pagar 800 euros. Gostava de saber como é que um casal com dois filhos, que não ganha 2 mil euros por mês, consegue pagar este valor por uma casa na Nazaré. Gostava de saber porque é que gente da minha infância não consegue comprar casa na Nazaré e vai morar para a Martingança. Não tenho nada contra essa freguesia, Pataias ou Valado, mas estas pessoas gostavam de morar perto da sua família, e não podem para dar lucro a outros, que só estão aqui para abusar da nossa praia.”
Para Pedro Peixe, o problema pode começar a ser resolvido com a colocação de muitas casas de alojamento local no mercado.
“Tenho conhecimento de prédios construídos na Nazaré completamente fechados, em que nenhum apartamento entrou no mercado. Isso não interessa aos nazarenos nem interessa à habitação, mas interessa a quem está a tirar lucros. Se me perguntam pela solução, esta passa por colocar as habitações que estão, ilegitimamente e ilegalmente postas para turismo, para pessoas que querem viver e trabalhar na Nazaré.”
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