Tânia Rocha Está certamente na memória de muitos nazarenos, principalmente os mais velhos, como era a vida na Nazaré há 40/50 anos atrás. Fala-se desses tempos, vê-se algumas fotografias, mexe-se em algumas coisas que existiam nessa altura, mas são poucas as imagens vivas desses tempos. No entanto, alguns desses modos de vidas foram exibidos na Biblioteca Municipal, no Cine-Teatro, no Mercado Municipal e na Praça Manuel de Arriaga, nos passados dias 14, 15, 16, e 18 deste mês. Estas imagens, captadas por um artista plástico espanhol, Fernando Santiago, na década de 60, foram agora produzidas em documentário pelo seu filho, Adán Santiago, que tem o nome “Nazaré 1964”.
Este documento, importante para manter viva a memória da Nazaré, retrata a lida da comunidade piscatória nazarena, quando as mulheres ainda transportavam a roupa à cabeça, quando os barcos ainda estavam atracados no areal, quando as nazarenas ainda usavam as saias para se protegerem do frio, umas a cobrir as pernas, outras a tapar os ombros. Altura em que os bois ajudavam os homens a puxar as redes e a transportar os barcos, época em que as mulheres esperavam na areia pelo regresso do marido, irmãos ou pai, altura em que a Nazaré era muito diferente. Perante um auditório cheio, principalmente de pessoas de meia idade, foram poucos os que não ficaram com um brilhozinho nos olhos ao ver estas imagens, transmitindo uma certa saudade e um grande orgulho da Nazaré. Muitos reviram a vida de antigamente, outros identificaram familiares ou conhecidos, alguns viram-se em criança, outros nomearam pessoas que já não estão presentes no mundo dos vivos, mas todos sentiram a mesma emoção, o sentimento de que pertencem a esta história, de que pertencem à Nazaré, que, de certa forma, este passado recente está presente na essência de cada nazareno. Perante alguns desabafos e elogios a este filme, de apenas 30 minutos, alguns não conseguiram conter a emoção, e todos aplaudiram emotivamente este trabalho. Manuel Limpinho, o nazareno proprietário da Casa Museu do Pescador, deu voz a este vídeo, e foi descrevendo, à medida que as imagens iam passado, o que as personagens principais estavam a fazer. Durante a descrição, Limpinho disse que “já não há homens destes”. Neste pequeno vídeo, o Porto de Abrigo ainda não existia, os homens lutavam diariamente contra a força das ondas e as mulheres ainda iam buscar água à fonte. O autor das imagens, Francisco Santiago, confessou que “gostava de ter gravado mais imagens”, emocionando-se enquanto falava da Nazaré destes tempos. Segundo o filho de Francisco, Adán Santiago, “o documentário ainda não está finalizado”, servindo esta demonstração também para recolher opiniões. Vários dos presentes que assistiram a uma das sessões na Biblioteca, além de elogiarem este trabalho, sugeriram que o Município usasse estas imagens como um factor de atracção turística e preservasse este trabalho como património de todos de nazarenos, por ter um enorme valor para a história da Nazaré, porque, segundo proferiu um dos presente, “este passado da Nazaré é extraordinário”. Francisco Santiago recolheu outras imagens da Nazaré, aquando das suas visitas à vila, e Adán prometeu trabalhar noutros documentários, mas neste, disse “não querer acrescentar mais nada”, apenas modificar alguns pormenores, caso verifique essa necessidade.
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