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Manuel Limpinho tem um museu repleto de peças da cultura e história da Nazaré Tânia RochaChama-se Manuel Limpinho, tem 73 anos e recriou há dez anos uma casa típica da Nazaré de antigamente, que tem o nome de Casa Museu do Pescador. A Casa, composta por apenas duas pequenas divisões, tem no recheio toda uma […]
Nazaré em colecção

Manuel Limpinho tem um museu repleto de peças da cultura e história da Nazaré Tânia RochaChama-se Manuel Limpinho, tem 73 anos e recriou há dez anos uma casa típica da Nazaré de antigamente, que tem o nome de Casa Museu do Pescador. A Casa, composta por apenas duas pequenas divisões, tem no recheio toda uma história, toda uma vida, todos os objectos típicos da Nazaré. Criou este museu, por querer manter viva a Nazaré de há algum tempo atrás.A casa é pintada de pedra e cal, com uma barra azul. Apenas com um quarto e cozinha, acolhe milhares de turistas que visitam o museu gratuitamente. Mostra a sua colecção com orgulho, mas também demonstra alguma tristeza nos olhos, quando fala da falta de apoio e reconhecimento das gentes da Nazaré e até mesmo, das instituições da vila. O seu espólio é tão vasto, que não cabe todo nesta pequena casa de duas divisões, guarda também grande parte das suas peças numa garagem, com poucas condições de conservação dos materiais. Tem vindo a pedir um espaço à Câmara Municipal da Nazaré, e em troca, oferece gratuitamente esta pequena fortuna que vem coleccionando há muitos anos. “A Câmara da Nazaré prometeu mais ainda não cumpriu”, exprime com alguma mágoa.

Diz que precisa vender este espaço, onde guarda partes dos materiais, e não sabe o que fazer a estas peças, caso a CMN não tome uma decisão. Confessa que “às vezes só me apetece começar a vender as coisas, gastei aqui muito dinheiro e não há interesse em se preservar esta casa”. Manuel Limpinho trabalhou durante toda a sua vida na pesca e na construção civil. Começou a laborar na pesca, na Arte Xávega, com sete anos, por imposição das dificuldades da vida. O pai foi buscá-lo à escola primária para o ajudar. Diz que “viveu numa pobreza total”. Foi o braço direito da sua mãe aos nove anos, altura em que o seu pai faleceu. Viveu com nove irmãos e por ter de substituir o seu pai, hoje confessa que se sente prejudicado, porque não teve a oportunidade de estudar mais tempo, como os seus irmãos tiveram. “A minha vida foi sempre trabalhar”.Além da Arte Xávega, também “andou à bisganga” (pesca do caranguejo), na zona do molhe norte do Porto de Abrigo, produto que era vendido para adubar a terra. Vendia dois barcos carregados por 1200 escudos, a maioria ia para as terras do Bombarral. Também andou à pesca da sardinha e confessa que o trabalho que menos gostou foi a pesca do candil, “era tudo muito violento”, forma como classifica esta arte. A ideia de fazer nascer este museu surgiu depois de ter sido convidado para ir a uma feira do Ribatejo mostrar o traje e coisas da Nazaré, juntamente com a sua esposa. Quando estava na feira disse para si, “gostava de ter uma coisa assim”, foi então que mais tarde concretizou este desejo.Caracteriza a sua colecção como uma doença, um vício, “falta sempre qualquer coisa, estou sempre a comprar”. Confessa que “ninguém dá valor a ninguém”, como crítica ao comportamento das pessoas e entidades perante a Casa Museu do Pescador. Reforça que “as escolas deviam vir aqui, aprender como eram as coisas na Nazaré”, mas confessa com tristeza, “ninguém quer saber de nada”. E é desta forma que a cultura se vai perdendo, os mais novos não sabem nem têm interesse em saber como era a Nazaré, como se vivia, ou ter a noção das dificuldades que os nossos antepassados passaram. Manuel Limpinho diz ter coisas que o próprio Museu da Nazaré não tem. Levou a vida a juntar objectos, a comprar peças e a mandar fazer outras. Tem mais de 30 aventais do traje nazareno, pintados à mão, e cerca de 80 barcos em miniatura, de diversos tamanhos. Tem todos os barcos que foram importantes para a Nazaré e que se lembra que existiram. As miniaturas são feitas à escala real. Entre elas podemos destacar a barca Salva Vidas, a barca Mimosa, a barca Virgem da Nazaré, a traineira Glória de Deus, onde trabalhou durante quase toda a sua juventude, a traineira Jesus Nazareno, onde trabalhou também durante um ano. Além destas, tem as 17 traineiras que existiam quando andava ao mar na pesca da sardinha.Estão em exposição muitas peças que os pescadores e peixeiras usavam no seu dia-a-dia. Loiças de cozinha, artes da pesca, vestuário, peças de decoração, mobiliário e também alimentos, como a broa de milho, tão apreciada e presente na alimentação dos nazarenos. O colchão que está em exposição na cama de ferro é feito de palha de milho, colchão que comprou quando se casou. Muitas peças eram suas, outras foram oferecidas ou compradas e algumas achadas no lixo que alguém dispensou.Manuel Limpinho mantém esta casa e vai aumentado o seu espólio sem nunca ter ajuda ou apoios de ninguém. Diz que nunca foi subsidiado, porque esta Casa Museu do Pescador não é uma colectividade e como tal, não pode ter apoios. No entanto, muitas são as entidades que usam a Casa Museu do Pescador para promoção própria ou divulgação da Nazaré.A Casa Museu do Pescador foi inaugurada a 11 de Dezembro de 1999 em homenagem ao pescador nazareno. Está situada na Rua J. B. Sousa Lobo, nº 108, na Nazaré.

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