Dia 3 de Julho em frente ao Mosteiro de AlcobaçaDavid MarianoNunca se viu mistura assim: ritmos balcânicos, vibração ska, atmosfera reggae, calor latino, melodias arabescas, energia afro-beat, compasso funk, tudo num só movimento (em direcção à alegria e à boa disposição), tudo numa só banda: os Kumpania Algazarra, grupo vagabundo (e a vagabundagem é enunciada aqui como elogio) que vai fazer estremecer a Praça 25 de Abril (vulgo Rossio), em frente ao Mosteiro de Alcobaça, no dia 3 de Julho, quinta-feira, pelas 22h, em mais um concerto “fora de portas” promovido pelo Cine-Teatro de Alcobaça e no contexto da iniciativa Alcobaça Summer Nights que procura trazer mais animação às ruas durante este Verão.
Eles vêm de Sintra, mas na verdade são do mundo: as sonoridades são tantas e de tantas proveniências que já não faz sentido falar em nacionalidade e muito menos reclamar a delimitação de fronteiras e identidades. Os Kumpania Algazarra anunciam ao que vêm: oferecem o caos como ordem para a felicidade e para isso usam música de todos os cantos do mundo para divertir um país que nunca soube muito bem encontrar a melhor via para esse espírito de transcendência que pode vir da festa e do cruzar de estados de alma (eles parecem ter um óptimo antídoto).Nove músicos apenas vão ajudar a que melhor descubramos o trilho para o puro festejo dos corpos e das almas, o que implica naturalmente dançar como os gangsters e os ciganos de Kusturica dançaram para nós no cinema, como Bob Marley dançava para si em cima dos palcos por onde passou, como os árabes dançariam em círculo e em comunidade no sol do deserto, com uma pitadinha de rock aqui e uma pitadinha de fanfarra acolá, tudo banhado em bom e descomplexado espírito mediterrânico.Vai ser contagiante e já estamos a ver o pó e o fumo de variadas substâncias ilícitas a tomar conta do ar naquela noite em frente ao Mosteiro de Alcobaça, e quem sabe a agitar os fantasmas monásticos dos monges de Cister que por ali pairarão a tomar nota do inferno que subiu à terra. Um inferno que sempre fez mais sentido ao vivo e ao ar livre porque esta animada viagem pelas diferentes referências musicais e etnográficas dos Kumpania Algazarra nunca deixou de encontrar no exterior o campo de toda a expansão e o ambiente perfeito para seres como nós explorarem todo o espaço disponível.No bolso eles trazem um álbum de estreia homónimo que tem conquistado a crítica e seduz inúmeros públicos graças ao carrossel de linguagens e sons que exprimem (e não é difícil perceber porquê: com tanto género e tanta influência manifestada não há quem aqui não encontre alguns mínimos pontos de afinidade). Basta fazermos contas aos instrumentos que prometem marcar presença: trombone, percussão, darbuka, conga, bateria, saxofone, guitarra, contrabaixo, trompete, acordeão, e basta ainda juntarmos uma lista de nomes de artistas e grupos que muitas vezes têm sido associados aos Kumpania Algazarra: Fanfare Ciocarlia, Tha Clash, Gogol Bordell, Goran Bregovic, Madness, Fel Kuti, Blasted Mechanism, The No Smoking Band, Manu Chao, Buena Vista Social Club, Bob Marley, entre muitos outros. A vantagem é que tudo isto vem pelo preço de uma banda só.
0 Comentários