EU PESCADOR ME CONFESSOArmando LopesColunistaRepetidas até à exaustão por todos os canais televisivos, as imagens do tristemente célebre episódio do Carolina Michaëlis entraram pelas nossas casas dentro. Imagens que nos chocaram, nos agrediram, nos despertaram sentimentos de repúdio e indignação. Mas que foram apenas a ponta de um véu que se levantou. A parte visível de uma infinidade de episódios tristes que ocorrem com muito mais frequência do que se pensava.Passados alguns dias sobre a sua profusa difusão, é tempo de reflectir um pouco sobre o que está a acontecer, nas nossas escolas ou fora delas. O que é que leva a este tipo de comportamento desequilibrado, irracional e violento. Que conduz a nossa juventude e a arrasta para as fronteiras da marginalidade e da delinquência. Como se tratasse de um percurso natural e lógico que devemos aceitar como fazendo parte da evolução geracional.
De quem são as responsabilidades desta conduta e onde estão as origens deste processo evolutivo degradante? Estarão na falta de autoridade dos professores ou na dos pais? Terão razões superficiais ou profundas?… Certamente haverá de tudo um pouco! Porque há todo um conjunto de dúvidas e de inquietações que nos assaltam, quando revemos aquelas imagens. Que, ainda hoje, nos deixam perplexos, entontecidos e confusos. O que pensarão os pais daqueles adolescentes ao verem os seus filhos a agredirem e a maltratarem professores, funcionários e colegas? Será que se sentem orgulhosos do seu comportamento incorrecto e indisciplinado, sem qualquer respeito pelos mais velhos, pelas hierarquias, pelas instituições e pelos valores? Não reconhecendo, como é óbvio, que esse comportamento é uma consequência natural do abandono, do desleixo e da irresponsabilidade que lhes transmitiram enquanto pais. Ou será que se sentem orgulhosos pela utilização expedita de telemóveis sofisticados, da Internet, das novas tecnologias?Orgulhosos de quê, aqueles pais? Da educação que deram aos seus filhos? Dos valores que lhes transmitiram? Ou, apenas, de todos os bens materiais que lhes proporcionaram, para que os pudessem exibir numa manifestação ostentosa junto dos seus colegas?Será que facultando-lhes tudo, se esqueceram de tudo? Será que dando-lhes tudo o que o dinheiro pode comprar – quiçá com recurso ao crédito e ao endividamento – se esqueceram de lhes dar o mais importante? Tudo aquilo que não se compra nem se vende, mas que se transmite com afecto, disponibilidade e sensatez. E será que podem sentir orgulho de os terem transformado em artistas ambulantes de uma feira rasca, cheios de presunção e bazófia, em lugar de terem criado homens e mulheres de formação sólida e nobreza de carácter?…
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