Paulo Inácio lidera uma petição para levar o TGV à discussão na Assembleia da RepublicaEntrevista a Paulo Inácio, Presidente da Mesa da Assembleia Municipal de AlcobaçaFoi um dos que mais cedo chamou a atenção pública contra a passagem do TGV no concelho de Alcobaça e lidera agora uma petição que tenta devolver a discussão da Rede de Alta Velocidade à Assembleia da República. Como primeiro subscritor desta iniciativa, Paulo Inácio, Presidente da Mesa da Assembleia Municipal de Alcobaça, espera agora atingir o mais rápido possível as 4 mil assinaturas necessárias para que o traçado seja finalmente debatido no Parlamento. Depois da mudança de planos do governo quanto ao Aeroporto de Alcochete e na semana em que se conheceram indícios que levaram ao afastamento compulsivo de vários técnicos superiores da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro que haviam chumbado inicialmente o traçado do TGV entre Alcobaça e Pombal, os movimentos contra a Alta Velocidade ganham nova força.
Entrevista de David MarianoEm Fevereiro de 2005 e em Assembleia Municipal, foi um dos primeiros a alertar para o perigo da passagem do TGV no concelho de Alcobaça após o Estudo de Impacto Ambiental a Este da Serra dos Candeeiros ter sido abandonado (anunciado por razões de contenção de despesa pública pelo Governo PSD na altura). Ao fim destes anos, alguma vez imaginou que se chegasse a este ponto?Efectivamente, nessa altura, apresentei uma moção na Assembleia Municipal de repúdio da eventualpassagem do TGV em Alcobaça, e a meu pedido, a mesma foi enviada à RAVE e ao Ministério das Obras Públicas. Mas ainda muito antes, em plena vigência do Governo do meu partido, denunciei na Assembleia Municipal e na imprensa a injustiça que se estava a cozinhar a Alcobaça. Disse que não queria saber da determinação governamental e que, nesta matéria, estaria contra o governo do meu partido ou de outro. Percebi desde muito cedo que o TGV era um “presente envenenado” que ninguém queria, só queriam a estação, o resto… O pior que fosse para Alcobaça. Quando a razão está do nosso lado a mesma torna-se intemporal e sem cor. É isso que nos dá autoridade moral. Há muitos anos que alertei e denunciei os bastidores e vou continuar a fazê-lo. É a minha obrigação enquanto autarca e enquanto cidadão. Sempre soube que seria difícil em virtude dos interesse em jogo, mas como estou certo que a nossa luta não é uma mera defesa bairrista, mas sim uma causa pela verdade, ainda acredito que venceremos.Agora que a Agência Portuguesa do Ambiente validou um dos traçados previstos do TGV no concelho de Alcobaça, ainda existe esperança para evitar o que parece ser inevitável?Essa validação tem de ser bem explicada e a esperança nunca pode morrer, temos é que continuar determinados, e nesse contexto elaborei uma petição à Assembleia da República que necessita mais de 4000 assinaturas. Aproveito esta oportunidade para apelar a todos os Alcobacenses, e não só, que assinem a mesma. O documento solicita explicações e uma reflexão profunda. Lá está tudo explicado do porquê da nossa razão.Em termos práticos, que formas de luta ou protesto restam ao Município de Alcobaça e às suas populações para conseguirem evitar a passagem do TGV na região?A petição é uma delas, outras seguirão, e esteja certo que não nos vai faltar determinação nem imaginação.Com imensas empresas locais e casas próprias na eminência da destruição pelo TGV, teme que as populações possam assumir acções e posições mais radicais?Não, vivemos num estado de direito e o povo de Alcobaça é ordeiro. Agora o que exigimos é verdade e estou certo que o Município usará todas as instâncias legais para defender as suas populações.Uma das grandes queixas da autarquia prendeu-se com o comportamento da RAVE durante todo o processo de estudo prévio da Alta Velocidade, na qual foi acusada de fugir ao diálogo com a Câmara Municipal de Alcobaça. Como é que explica ou comenta este tipo de atitude por parte de uma entidade como a RAVE?É grave. A RAVE tem e vai ter muitas dificuldades em explicar o cancelamento do estudo que previa a passagem do TGV a Esteda Serra dos Candeeiros. Sendo uma zona com menor densidade populacional, com menores custos económicos e ambientais e com um ganho temporal, como se explica o cancelamento deste traçado? Só se explica pelas pressões políticas. Mas enganaram-se, nós também saberemos pressionar politicamente. A Oeste da Serra dos Candeeiros, não.A autarquia sempre alertou para a amputação de uma parte importante do concelho com a passagem prevista do TGV. Acredita que o Aeroporto de Alcochete pode voltar a colocar a discussão do TGV do lado Este da Serra dos Candeeiros e salvar essa área o concelho?Conforme é referenciado na petição a apresentar na Assembleia da República, a decisão do Aeroporto Internacional localizar-se em Alcochete reforça a necessidade do traçado passar a ser a Este da Serra dos Candeeiros. Torna cada vez mais este traçado mais directo com ganhos temporais significativos. Pergunto, o que é que o TGV vai fazer à OTA?Na sua opinião, a ligação TGV entre Porto e Lisboa justifica-se para o país?Igualmente na petição apela-se a uma reflexão profunda acerca dessa matéria. Tenho sérias reservas que um ganho pouco maior de 30 minutos entre Lisboa e Porto legitime o custo brutal económico e o sacrifício das populações afectadas. Concomitantemente, todo o ambiente e o ordenamento do território será afectado. Portugal é um pequeno rectângulo, destruir mais um pouco deste belo país, em nome de um pseudo-desenvolvimento é muito arriscado. Uma coisa é a necessidade da nossa capital ligar-se à Rede Europeia. Isso todos nós compreendemos e aceitamos. Outra é amputar mais uma vez verticalmente Portugal com os constrangimentos e dificuldades que isso causa. Se só tomamos em consideração as questões de desenvolvimento económico – o que é errado e alerto para os custos económicos deste projecto – pergunto: Alguém já se preocupou ou calculou, os impactos económicos negativos que as populações das pequenas cidades, vilas, aldeias, entre Lisboa e Porto, sofreram em virtude dos condicionamentos de acesso às suas empresas, habitações e propriedades? Para não falar da qualidade de vida humana.
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