Mário BotasColunistaMuito cá em baixo, na base, o cidadão debate-se consequentemente com estes problemas sob a forma de desemprego, de inflação dos preços, etc.Na verdade os cidadãos dos estados democráticos do ocidente lutam constantemente com estes argumentos como obrigação de adaptação á globalização.Cresce cada vez mais a sensação de que já não está na nossa dependência, nas nossas mãos, conseguir aquilo que todos os seres humanos pretendem alcançar:
Respeito pela sua dignidade pessoal, rendimento suficiente durante a vida profissional, e em velhice, possibilidades de dar uma boa educação e preparação aos filhos, um tecto seguro sobre a cabeça, segurança na saúde, uma natureza saudável.A consequência deste desconforto e insegurança é o aumento de falta de confiança nas instituições democráticas.Não é portanto de admirar que uma boa percentagem de crânios inteligentes pensem se talvez Marx e Engels não teriam já no seu tempo posto o dedo na ferida certa.Uma tal postura não pode deixar indiferentes não só todos aqueles que merecem o nome de estadistas ou de políticos sérios, como também todos aqueles que se interessam pela evolução da Humanidade e pelo bem –estar do ser humano.É muito fácil, fácil demais até, cantar em coro com a grande maioria – Lucro, lucro! Como se fosse uma panaceia milagrosa…Sentir, pensar e agir em conformidade com os princípios da ética e da responsabilidade é muito mais difícil e penoso.Muitos que de “peito feito” e carteira repleta imaginam promover o progresso económico da sua empresa ou até mesmo da Humanidade, são apenas os pressionados, os prisioneiros de um sistema que na ultima consequência da sua dinâmica não dará a liberdade, a paz e a segurança económica para todos, mas irá sim abrir ,mais tarde ou mais cedo, uma porta para o caos e para uma luta de tudo e de todos contra todos.O tempo em que a responsabilidade integral do empreendorismo era muito mais do que apenas o aumento da fortuna do empresário ainda não acabou nem acabará.Bem pelo contrário, cada vez mais tem uma importância decisiva.O verdadeiro sentido da responsabilidade aponta sempre para muito mais do que apenas o interesse material .Aponta sempre para os seres humanos que se encontram dependentes da empresa e também para o bem estar da comunidade onde as firmas actuam ( produzem e vendem).Só quem compreender estas inter-relações, conseguirá e poderá contribuir para o fortalecimento e preservação de uma ética com capacidade para legitimar a longo prazo, portanto numa dimensão histórica , a estrutura e a ordem económica que a Humanidade na maioria possui.Só uma evolução qualitativa sustentada com uma face social, pode legitimar a longo prazo as empresas e os empresários.As regras e as condições para a preservação de uma tal responsabilidade e ética só poderão obviamente ser reguladas pelo próprio Estado.Trata-se de , perante os egoismos económicos desenfreados, fortificar a imagem, a ideia do Estado Democrático. O caminho até lá é sem duvida bem penoso.É possível que todos aqueles que partilham as percepções, as opiniões aqui descritas sejam considerados adeptos de uma noção de Estado e Sociedade que já pertença ao passado.Mas será mesmo impossível controlar toda esta loucura financeira através de acordos e regras internacionais, dando-lhes uma estrutura jurídica adequada que possa proteger os cidadãos dos seus efeitos nocivos?Será realmente o mais sábio ceder à pressão dos grandes interesses financeiros e erradicar todo e qualquer controle jurídico sobre a especulação de acções a curto prazo?E não será possível imaginar uma moderação com pés e cabeça em relação ás autenticas explosões dos ordenados astronómicos dos gestores das grandes multinacionais financeiras?Para alem de tudo isto torna-se imperiosamente necessário começar a pensar seriamente sobre o perfil psicológico, sobre o conteúdo psíquico das “ansiedades” pelo exagerado lucro a curto prazo do género custe o que custar.Para aqueles gestores e empresários que ainda lêem livros e se sentem seres humanos, íntegros , com consciência e sentido de responsabilidade pelo que se passa á sua volta, aconselha-se nos tempos de hoje de globalização e “Schareholder-Value”, a lançarem um olhar sobre as obras de Max Weber ou até mesmo de Walther Rathenau , porque o primado da política do Estado, da comunidade solidária, é de importância decisiva para a sobrevivência da democracia.
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