“Drama” à moda da NazaréClara BernardinoViagens na Minha Terra é o título de um clássico português que foi, durante muitos anos, objecto de estudo nos bancos da escola. Como devem recordar-se, aqueles que o leram, o narrador faz uma “curta viagem” de Lisboa a Santarém e, ao mesmo tempo, inúmeras viagens de reflexão sobre a política, a sociedade, a situação do país, os gostos, os hábitos e costumes da época. Numa dessas reflexões, dá-nos a receita para um “dramalhão”: em qualquer “romance” há sempre um vilão (que tem a seu cargo “fazer as maldades”), um herói, que pretende a todo o custo repor a ordem e a verdade, pondo cobro às acções malévolas do seu opositor. As restantes personagens são coadjuvantes de um e oponentes do outro.
Para Garrett, na época, havia sempre uma “fleur de Marie” para embelezar e dar um toque feminino ao romance! Nos nossos dias, em que as mulheres trabalham e são donas da sua vida, já não há espaço para estas “fleurs de Marie” no desfile social, só com o intuito de suspirar, chorar e desmaiar.Abandonemos a receita de Viagens na Minha Terra e concentremo-nos no “dramalhão nazareno” que é levado à cena inúmeras vezes e que todos acompanhamos na forma de folhetim, escrito ou falado, com novos episódios, todas as semanas.As figurinhas recortadas da “receita” de Garrett representam à nossa frente os papéis que inventam e reinventam, ao sabor das marés. O problema é que o palco de uma vila quase ex-piscatória e quase pró-turística é pequeno demais para que as várias prima-donas da companhia mostrem os seus dotes e sejam aplaudidas pelo público (leia-se: população, em geral!), daí os empurrões e encontrões que heróis, anti-heróis, adjuvantes e oponentes, personagens secundárias e mesmo figurantes se dão uns aos outros, atirando-se palco fora, na ânsia de terem os projectores da opinião pública sobre si.Quanto aos argumentistas, para além dos intervenientes serem co-autores das falas, também há a intervenção dos pseudo-intelectuais, que parecem ter comprado a sua própria opinião em alguma feira temática (pelo que a consideram uma raridade) e exigem dos outros uma atenção especial sobre as suas ditas capacidades de clarividência, que em vez de clarificar, só servem para escurecer ainda mais o desfile das personagens, fazendo “birras” constantes que levam a outros dramas. Não se trata propriamente da “história sem fim” que deliciou o imaginário dos adolescentes dos anos 80, mas do drama sem fim, cujos intérpretes hoje são uns e, amanhã, serão outros!…..ro … dos quadros os nomes uniformes, quanto ao gural dos nomes indiocados:
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