Fernando LindonProfessor UniversitárioAs transformações operadas nos últimos quinze anos, nos media e no jornalismo têm como eixo central o factor económico. Neste contexto, a incompetência de alguns jornalistas associada à evolução tecnológica tende a questionar o rigor e a exactidão. Privilegia-se o imediatismo, a preponderância da imagem, a guerra das audiências e a fugacidade do discurso. Acentua-se a obediência a redes de conivências, perspectivada na omissão deliberada de informação, na manutenção de “intervenientes permanentes”, na promoção de notoriedades indevidas, nos “confrontos” fictícios e nos favores recíprocos. A tudo isto acresce ainda a “lei do silêncio” determinada por um pequeno número de jornalistas “de confiança” (e de pseudo-especialistas) que, adoptando sistemas de “corporativismo”, defendem privilégios, pretendem estar acima de tudo e de todos, alvitrando e/ou arbitrando, de forma arrogante, sobre a vida na sociedade portuguesa.
No jornalismo português ligado aos grandes sistemas empresariais alarga-se o campo mediático, surgindo uma lógica mercantilista incompatível com o delineamento de uma qualquer função social. Os interesses económicos definem uma nova hierarquia de poderes na sociedade portuguesa tornando-se o poder da política largamente subserviente. Colateralmente, os sistemas de informação detêm apenas “um poder” com limites bem definidos, actuando como cadeias de transmissão de grandes grupos económicos. De facto, neste particular, independentemente das instituições democráticas, podem “derrubar-se” ministros “inconvenientes”, sem alterar no essencial as políticas partidárias.Será que sem regras bem definidas a concentração da propriedade dos sistemas de informação em poderosos grupos económicos não contribui para o estreitamento do pluralismo de opiniões? Será que não se reconhece que o sistema democrático português pode ser lesado quando se controla o debate no espaço público através dos media, subordinando-o a interesses, ideológicos, económicos e políticos definidos pelo poder dos grandes grupos económicos? A pobreza do debate e a fragilidade da democracia revelam-se nas descriminações ideológicas, políticas, económicas, sociais, culturais e geográficas. Acentua-se ainda com a criação de “consensos” sobre os grandes temas nacionais e internacionais, a par da minorização ou silenciamento das opiniões discordantes. Não caberá assim, neste particular, reflectir sobre um incremento da fiscalização dos mecanismos tendentes a preservar a democracia portuguesa?Não deveria esta acção fiscalizadora actuar sobre os sistemas que promovem a descontextualização e a fragmentação da informação, a par da minimização do jornalismo de informação? Será que a transformação dos media em suportes de mercadorias noticiosas e em palcos de lutas de interesses particulares para seduzir e aumentar audiências interessa ao aprofundamento da democracia? Considerando que o rigor, a isenção, a procura da verdade e a deontologia traduzirão sempre o suporte do verdadeiro jornalismo, aos portugueses cabe o direito de resposta.
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