Lúcia SerralheiroDirigente do Núcleo da Benedita da Rede Mulheres Autarcas‘A dúvida é a mãe da descoberta’ Albert EinsteinCito este cientista cujo pensamento e teorias estiveram tão evidentes na exposição ‘À Luz de Einstein (1905-2005)’ na Fundação Calouste Gulbenkian. Há seis candidatos à Presidência da República apoiados por partidos políticos onde também são conhecidas pela opinião publica mulheres que militam nesses partidos com currículos e carreiras exemplares, umas mais jovens outras menos jovens: Odete Santos, Maria de Belém, Manuela Ferreira Leite, Helena Pinto, Helena Roseta, Edite Estrela, e tantas outras… Ainda nos recordamos das críticas acérrimas a José Sócrates que primou na formação do seu governo pela ausência de pastas atribuídas a mulheres, apenas à Educação, Maria de Lurdes Rodrigues e à Cultura, Isabel Pires de Lima, as áreas mais tradicionais dos papeis femininos. Nem sequer aí, houve inovação!… Nem o exemplo do colega espanhol Zapatero, que pouco antes dele formou governo paritário com 50% de mulheres e 50% de homens, lhe deu alguma luzinha!…

Tenho de duvidar!…Entre uma Humanidade constituída por mulheres e homens só a estes foram dados talentos de gestão ampliada a grandes espaços e comunidades, porque na gestão doméstica ninguém duvida que são as mulheres que a fazem e sabem melhor fazer, já o Salazar tinha reparado nisso e o tinha publicamente expresso… Mas será mesmo assim? Será que só pelo facto de se ser mulher se gere bem uma casa, um lar, e será que só por se ser homem se gere bem o espaço público!!! Ou há outros poderes escondidos, ou tanto faz ser mulher ou homem, mas por que então sempre eles nos lugares de decisão?Tenho de duvidar!…Entre tantas mulheres que lutaram ao longo dos séculos, desde que a História é História, recordemos Espásia, a mestra filósofa e matemática dirigente da Biblioteca de Alexandria que o bispo Cirilo excomungou e mandou arrastá-la puxada por uma carroça de cavalos até à morte! Para elas o sono eterno não é ainda certamente de um repouso de Paz e não pode ser também para quem está vivendo neste mundo, sendo mulher ou homem… Tenho de duvidar!…Vamos já o II Plano para a Igualdade ao abrigo do qual se estão fazendo acções de formação para formadores nesta nova área, isto é criar acções positivas para a igualdade dos direitos entre mulheres e homens. Aí apesar da especificidade da formação os critérios nem sempre ajudam às mudanças pretendidas. Soube que alguém escolheu para biografar a cineasta propagandista de Hitler, quando outros seres humanos e as mulheres como ela eram espoliados dos seus bens e torturados campos de concentração e sempre da pior maneira as mulheres…Isso me surpreenderia mesmo se não se estivesse numa acção de formação de formadores para questões de igualdade de género, mas restou-me apenas silenciar o meu espanto quando na avaliação se comentou essa escolha como uma boa opção de exemplo de mulher ‘avançada’( só se for a favor dos direitos dos exterminadores!!!!) Tenho não só de duvidar, mas de me indignar? Talvez sim, talvez não!!!Ariel Levy jornalista americana descreve (leia–se o Courrier Internacional n.º39) que muitas mulheres na nossa sociedade ‘querem ser mulheres objecto e com todo o orgulho’, embora afirme ‘que cultura do sexo e libertação sexual não são sinónimos’. Por outro lado, no mesmo magazine a jornalista Maureen Downd ‘analisa o comportamento das mulheres desde os anos 30 até aos nossos dias, ‘lastimando que hoje se aceitem atitudes por cuja abolição [as mulheres e alguns homems] lutaram durante décadas’.Tenho de me congratular, para finalizar com o exemplo ‘valeroso’ de Maria de Lurdes Pintasilgo a nossa Primeira-ministra, a única mulher que se candidatou até ao fim em 1986 e fora de apoio partidário para dirigir os destinos de Portugal como Presidente da República. Nessa altura a Europa, agora, União Europeia ainda nenhum país se tinha perfilado em cerimónias oficiais perante uma Presidenta da Republica como aconteceu mais tarde com Mary Robinson na maioritária católica República da Irlanda ou como actualmente diante de Tarja Halonen, actualmente na segunda volta das presidências, mas ainda a Presidente da República da Finlândia. Celebra-se este ano, nesse novo e avançado país, cem anos do voto feminino, iniciado em 1906 ainda sendo esses domínios dominados pela Rússia. Maria de Lurdes Pintasilgo reclamava a escrita e a aprendizagem da Cultura das Mulheres em Portugal no pleno e digno sentido da palavra. Porque metade da Humanidade somos nós, as mulheres e muito ainda temos a fazer umas pelas outras… conhecendo pelo menos as vidas das nossas antepassadas. Já no passado domingo, foi eleita como presidente da República do Chile, Michelle Bachelet, facto histórico porque é a primeira vez que na América do Sul uma mulher é eleita presidente, num sufrágio popular. Facto que a nós mulheres, naturalmente, só nos pode encher de orgulho.