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“Há uma coisa de que não vou abdicar: irei continuar a lutar enquanto houver situações injustas.”

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António Trindade em entrevista Figura conhecida de todos, António Trindade, vereador na Câmara Municipal da Nazaré, foi recentemente homenageado pelo Presidente da Junta de Freguesia, numa cerimónia pública, mas ao mesmo tempo intimista, ligando para sempre o nome do também ex-presidente da Junta à estátua dedicada à mãe nazarena. O seu percurso, marcado por causas […]

António Trindade em entrevista

Figura conhecida de todos, António Trindade, vereador na Câmara Municipal da Nazaré, foi recentemente homenageado pelo Presidente da Junta de Freguesia, numa cerimónia pública, mas ao mesmo tempo intimista, ligando para sempre o nome do também ex-presidente da Junta à estátua dedicada à mãe nazarena. O seu percurso, marcado por causas e lutas, trouxe a muitos homens do mar a possibilidade de terem a pensão por completo.

Também o Região da Nazaré deixa aqui o registo do momento, dando a conhecer um pouco mais do homem, através das suas próprias palavras.

Região da Nazaré: Como é que a política se cruzou no seu caminho?

António Trindade: Eu vinha do Ultramar com a ideia de que o país vivia sob um regime fascista e achei que dentro das minhas ideias e das minhas possibilidades, poderia ajudar a construir a mudança. No entanto, mesmo com a passagem do tempo e já em democracia, as políticas não ajudavam a terra a crescer… Fui militante do Partido Socialista de 75 a 85, altura em que, juntamente com oito camaradas, acabei por ser expulso do partido. Tudo porque achei que havia necessidade de mudança e acreditava que havia pessoas capazes na Nazaré para levar mais longe os destinos do nosso concelho. Nove militantes foram expulsos por expressarem a sua opinião, apesar de já vivermos em democracia… Eu nunca consegui compactuar com abusos de poder! Nunca mais nos voltámos a filiar… e desse grupo de amigos nasceu, mais tarde, o Grupo de Cidadãos Independentes.

Região da Nazaré: Como se sentiu ao ser homenageado?

António Trindade: Senti-me muito humilde. Após a morte, poderia ser homenageado como “homem público”, político… mas se assim fosse, não poderia ter ao meu lado os que estiveram comigo desde sempre e que ainda estão vivos: Carlos Alberto Pires Belo (Cabeta), Jaime Varela, Vítor Louraço. Foi bastante emocionante e registei o momento com muita satisfação. Também foi muito importante contar com a presença do Arquiteto António Salvador – um homem que esteve sempre ao meu lado e me apoiou, que me ajudou a encontrar o melhor caminho para que a sede da Junta de Freguesia se tornasse realidade. Também realço o papel que o atual Presidente da Junta teve ao fazer-me esta homenagem e ao reconhecer o meu trabalho.

Região da Nazaré: Quais foram, no seu entender, as suas maiores conquistas ao nível profissional?

António Trindade: Uma das minhas grandes conquistas e que resultou de uma luta pessoal de mais de 20 anos de exposições, cartas, reuniões na Assembleia da República é a Portaria 129 de 2001, de 29 de fevereiro. Veio beneficiar mais de 100 mil homens ligados ao mar em todo o país, porque veio permitir a contagem dos períodos contributivos das pessoas que ao longo da sua vida profissional tinham estado no setor das pescas e na marinha mercante. Havia injustiças gritantes. Esta Portaria permitiu “unir” duas leis. Já como Presidente da Junta de Freguesia, num jantar de apresentação da candidatura de Ferro Rodrigues, aqui na Nazaré, consegui conversar com ele e expor a situação. Ele escutou-me com atenção e chamou o Vieira da Silva, a quem dei conta da situação e acabei por lhe mostrar alguns documentos que mostravam as minhas diligências. O Vieira da Silva acabou por ser Ministro com a pasta da Segurança Social e foi com ele que consegui resolver esta profunda injustiça, que afetava tantos homens e tantas famílias por esse Portugal fora. A Portaria saiu e está em vigor.

Ainda hoje tratei do pedido de pensão de um senhor que viu o seu processo recusado, porque não lhe foi aplicada a portaria: estavam em causa 40 anos de trabalho no mar, divididos pelos dois setores: pescas e marinha mercante. Agora, já vai ter o pedido aceite e, para mim, é um prazer muito grande poder ajudar.

Região da Nazaré: Esta conquista certamente lhe valeu o reconhecimento público, não?

António Trindade: Sim, até porque muitas vezes cheguei a pôr o meu posto de trabalho em risco para ajudar as pessoas. Recordo-me que me foi atribuído um “Guilhim de Cristal”, numa cerimónia, cá na terra, quando saiu a publicação no Diário da República. O Presidente da Câmara Municipal, à época, mandou publicar um louvor no Diário da República.

Região da Nazaré: O seu nome estará sempre ligado ao edifício da Junta de Freguesia e à estátua da “Mãe Nazarena”. O que esteve na base destas obras?

António Trindade: Em 1974/75, fui Secretário da Junta de Freguesia da Nazaré e, desde esse momento, comecei a sonhar com instalações condignas para a Junta. Também achei que sendo a Nazaré uma terra ligada ao mar, com uma história de tanto sofrimento devido aos naufrágios, havia necessidade de criar uma memória coletiva, através de uma estátua.

No mandato de 2001 / 2005, estas ideias tornaram-se realidade. O arquiteto António Salvador ajudou-nos a pôr o projeto da Junta a andar. Não só ao nível do projeto de arquitetura, mas também nos orientou em relação às candidaturas, fazendo com que a terra ganhasse um edifício marcante “praticamente de graça”. Também se envolveu nas especialidades e, hoje, lá está uma sede da Junta de Freguesia que congrega vários serviços e isso é muito importante.

Em relação à estátua da “Mãe Nazarena”, a ideia começou por ser diferente: deveria ser uma estátua dedicada ao pescador que era socorrido por outros, enfim, uma estátua maior. Todos, na Junta, doaram as suas senhas de presença. Todos sem exceção: os que podiam mais e os que podiam menos… Como a estátua que tínhamos em ideia era muito cara para as nossas posses, tivemos de pedir ao escultor Celestino Alves André que fizesse uma obra mais pequena, mais à dimensão das nossas posses! O artista compreendeu bem o sentimento da Nazaré, a sua história e teve uma ideia que se tornou bem mais abrangente: afinal, todos – nazarenos e visitantes- temos mãe e o papel da mulher da Nazaré foi sempre muito importante. A “Mãe Nazarena” traz no rosto o sofrimento da perda e à cabeça o peso dos seus filhos, que são os filhos da terra… da nossa terra.

Região da Nazaré: Para além das obras referidas, que outras marcas se orgulha de deixar?

António Trindade: O brasão da Junta de Freguesia e a homenagem aos pescadores da Arte Xávega.

Ao logo do tempo, fui reparando que todas as freguesias tinham a sua identidade, em todo o país. A freguesia da Nazaré tinha de ser mostrada na expressão do seu brasão. Com a comissão heráldica, delinearam-se os elementos do brasão: um barco de arte xávega, o elevador, o azul do mar e o verde da terra. O brasão também foi uma conquista, pois a Junta de Freguesia não tinha identidade.

A homenagem aos pescadores da Arte Xávega também foi um momento alto. Todas as ruas a partir da Rua dos Galeões para sul têm o nome dos “lances de mar”. Todas as placas de rua são uma memória coletiva para que a Arte Xávega não morra. Esses “lances de mar” eram delineados pela capitania, que fazia escalas de serviço para que todas as companhas tivessem direito a apanhar mais peixe de X em X tempo. O lance de mar que dava mais peixe era o “Brasil”, se não houvesse uma escala, seriam sempre os mesmos a pescar mais. É claro que a rua principal se chama Arte Xávega.

Região da Nazaré: O que destaca no seu percurso como tendo corrido menos bem?

António Trindade: A Campanha difamatória de 2005 que nos fez perder as eleições. O Grupo de Cidadãos Independentes do Concelho da Nazaré poderia ter vencido as eleições, se não fosse uma campanha difamatória que pretendia pôr em causa que tivéssemos doado os vencimentos e senhas de presença para a obra da estátua. Acusaram-nos de termos mentido e enganado. Enfim, um donativo ficou visto como um desvio e, apesar dos autores da campanha difamatória terem sido condenados pelo Tribunal, acabámos por sofrer as consequências de um julgamento público injusto e infundado. De qualquer forma, isso já ficou para trás e, depois disso, houve muitas causas pelas quais lutar e muito caminho para andar.

Região da Nazaré: Que projetos há ainda por cumprir?

António Trindade: Vou andar por aíe há uma coisa de que não vou abdicar: irei continuar a lutar enquanto houver situações injustas. Há muitas situações dramáticas devido ao pagamento da água. Há famílias que têm de fazer pagamentos de água muito superiores aos da luz… O povo da Nazaré está a ser “castigado” com uma água mais cara do que na maior parte dos concelhos do país. Isto é revelador de uma grande falta de sensibilidade…

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