Um litro de combustível para as embarcações estava a ser vendido, em meados do ano passado, a uma média de 35 cêntimos, mas atualmente o preço aumentou para mais de 70 cêntimos.
Como o retorno do pescado não chega para cobrir os aumentos dos combustíveis, os pescadores consideram “urgente” que o Estado preste um apoio suplementar e admitem mesmo o abate de embarcações.
Este pedido de ajuda também já foi feito pela Mútua dos Pescadores, única cooperativa de utentes de seguros portuguesa, especialista nos seguros das atividades marítimas, que alertou para a necessidade de se encontrarem “soluções para minimizar os impactos desta crise aguda junto do setor piscatório nacional, tendo em conta a vertiginosa escalada dos preços dos combustíveis que se faz notar”.
A Mútua dos Pescadores diz ter relatos de “embarcações encostadas ao cais, preferindo manter-se em terra em vez de ir para o mar com prejuízo”.
Na Nazaré o desalento é grande e há já muitas embarcações que não saem com tanta frequência para o mar, porque não é financeiramente viável. Há quem prefira ter o barco parado porque não compensa as despesas, que já são muitas com os seguros, as taxas, as reparações e os gastos com a mão de obra.
“É uma situação que está a preocupar e muito. Quando nós arrancamos para o mar começa logo a despesa com o motor a trabalhar. Com o preço a que estão os combustíveis, todas as hipóteses que temos para desligar o motor no mar nós paramos”, contou Joaquim Zarro, armador de pesca, confirmando que “o gasóleo está ao dobro do preço ao que estava no ano passado”.
Mas se param no mar também ficam em terra. “O peixe não traz uma bandeira, mas quando nós pressentimos que não vai haver peixe, já não vamos arriscar em ir ao mar, porque é dispendioso”, sublinhou.
Joaquim Zarro questionou: “Se o petróleo está a baixar, porque razão o gasóleo aumenta?”.
A subida do preço dos combustíveis afeta todo o setor das pescas, desde as embarcações que vão para o mar até às viaturas dos vendedores que transportam o peixe até ao consumidor porta a porta, aos mercados e aos espaços de restauração.
O preço do pescado também pode vir a sofrer um aumento, mas os vendedores estão a tentar que isso não aconteça.
“Assim que aumentássemos os preços perdíamos clientes”, sublinhou Juliana Rafael, vendedora de peixe.
Marco Rodrigues, transportador de peixe, explicou que “não podemos aumentar porque as possibilidades de compra das pessoas também não são as melhores”. “Com os combustíveis a aumentarem ficamos com os lucros reduzidos”, indicou.
A sua empresa, Julimar, vai às localidades dos concelhos da Nazaré e Alcobaça fazer vendas e pondera agora deslocações menos frequentes. “Em vez de ir de terça a sexta, vamos menos um dia, por exemplo, terça, quinta e sábado, para poupar gasóleo”, referiu.
Preocupada com a escalada do preço dos combustíveis, a Câmara Municipal da Nazaré, tendo em conta a importância deste setor para o concelho, aprovou uma proposta de alerta e pedido de atuação ao governo.
A proposta apresentada pelo vereador do PCP, João Paulo Delgado, e aprovada por unanimidade pelos restantes membros da Câmara, tem como preocupação a pequena pesca artesanal, cuja maioria das embarcações na Nazaré utiliza motores fora de bordo movidos a gasolina, já que o uso de motores a gasóleo neste tipo de embarcações provocaria encargos de manutenção muito superiores.
Os pescadores da pesca local com embarcações a gasolina pagam o combustível aos valores normais do mercado, substancialmente mais caro que o gasóleo comercial, e também mais caro do que o gasóleo “verde” que os restantes setores da pesca utilizam.
Pretende-se que o Governo assuma um apoio financeiro que compense estas embarcações de uma forma definitiva, sem necessidade de estar dependente de inscrição anual no orçamento de estado.
O Governo anunciou que está a estudar apoios ao setor das pescas devido ao aumento do preço dos combustíveis, mas os pescadores até agora estão à espera.
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