Da primitiva Casa dos Capelões poucos vestígios chegaram aos nossos dias, à excepção de um pequeno pátio interior com pavimento lajeado com um poço-cisterna de pedra com base circular e tampa em pedra e armação de roldanas em ferro.
Passaram anos, viveram-se períodos difíceis pelo caminho, assistiram-se a mudanças e ultrapassaram-se doenças graves, como a Pneumónica ou Gripe Espanhola, que chegou a meio de 1918 e, em cerca de dois anos, dizimou dezenas de milhares de pessoas.
A pandemia da Covid-19 foi declarada em meados de março de 2020 e alterou tudo. A vida e a economia, bem como a dinâmica das empresas e instituições, como a Confraria.
RN-Foi detetado, no mês de janeiro, um surto de covid -19 na Unidade de Cuidados Continuados Integrados do Hospital da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré. Em que data é que foi detetado?
Nuno Batalha -O Surto foi detetado no passado dia 13 de janeiro.
RN-E quantos utentes e profissionais foram infetados?
Nuno Batalha -Até a data testaram positivos para a COVID 19, vinte utentes, cinco enfermeiros e treze assistentes operacionais.
RN-Nesta altura, como está a situação?
Nuno Batalha -No momento a situação é muito complicada na medida em que praticamente funcionamos sem enfermeiros, uns porque estão positivos ou confinados outros porque optaram por deixar de prestar o serviço neste momento tão difícil .Graças ao restante pessoal (assistentes operacionais, médicos, fisioterapeutas, animadores socias etc), tem sido possível manter a unidade em funcionamento, até porque em condições normais já teríamos que ter evacuado toda a unidade que dá resposta a cinquenta e dois utentes. Só não o fizemos porque não há resposta para estas pessoas, não as queremos dentro de ambulâncias ou em corredores de hospitais em macas e por outro lado também é sabido que este problema é transversal a todo o país.
RN-Quando surgiu o surto, qual foi a parte mais difícil e mais marcante?
Nuno Batalha -Foi testar toda a unidade e à medida que ia aumentando o número dos infetados a nossa angustia aumentava, depois foi preparar o covidário, isolar e tentar proteger os que estavam negativos. Contudo as horas mais difíceis são as que nos colocam frente à impossibilidade de não conseguir salvar os que partem.
RN-Quais são as principais dificuldades em liderar uma instituição, como Confraria, nestes tempos de pandemia?
Nuno Batalha -A falta de recursos, sobretudo os humanos, muitos funcionários positivos ou confinados, não sendo fácil substitui-los, porém graças à excelente parceria com IEFP – Alcobaça temos conseguido minimizar o problema.
RN-O Hospital da confraria tem capacidade para receber doentes covid?
Nuno Batalha -Fomos contactados há cerca de três semanas para disponibilizarmos camas para SNS, para doentes não COVID. Prontamente aceitamos o desafio, mas quando tudo estava preparado, eis que começa o surto e logo a falta de recursos humanos, especialmente enfermeiros.
RN-A Pandemia tem condicionado os outros serviços do Hospital?
Nuno Batalha -Condicionou praticamente tudo, parámos com a Cirurgia, Ecografia, Gastroenterologia, Fisioterapia, Consultas de especialidade e teste Covid.
RN-Já arrancou a primeira toma, de duas, de vacinação no Lar da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré. Quantos utentes e funcionários já foram vacinados e para quando está prevista a segunda toma?
Nuno Batalha -No Lar foram vacinados cerca de 60 utentes e trinta e cinco funcionários, não sabemos quando vai ocorrer a administração da segunda dose.
RN-O espaço que recebeu provisoriamente o Centro de Saúde da Nazaré vai ser usado para dar tipo de respostas?
Nuno Batalha -Já está a ser usado para aumentar a resposta ao nível das camas de cuidados continuados em regime particular.
RN- No passado mês de dezembro, Portugal estava com números equilibrados em termos de pandemia comparando com a maioria dos países da europa. Na sua perspetiva, o que é que correu mal para se chegar à atual situação gravíssima?
Nuno Batalha -Na minha opinião o confinamento que foi agora decretado deveria ter ocorrido nas férias escolares do Natal. Por meados do mês de dezembro, já todos tínhamos percebido que as pessoas tinham dificuldade em cumprir com as orientações do SNS, foi assim no desconfinamento em maio, depois foi o verão, parecia que não se passava nada, etc. A pandemia foi muito desvalorizada por todos…Só havia uma solução, medidas musculadas.
RN-É presidente da instituição há vários anos. olhando para o trabalho desenvolvido pela sua equipa, quais foram as principais conquistas?
Nuno Batalha – A recuperação económica, a organização, profissionalização, despolitização e o reencontro com a identidade da Instituição que como sabemos é na sua génese Cristã e por isso deve pôr em pratica diariamente os valores Cristãos de uma forma muito prática e material, diria mesmo que é pôr em pratica o evangelho na perspetiva da caridade para com todos os homens, independentemente de extratos socias, ideologias, etnias etc, sem fazer acessão de pessoas.
RN-Quantos utentes e profissionais constituem o universo da confraria?
Nuno Batalha -A Confraria conta com cerca de duzentos trabalhadores e colaboradores e cerca de 500 utentes diários.
RN-E as valências e serviços de saúde que estão disponíveis para a comunidade desta região?
Nuno Batalha-Os serviços de Cuidados Continuados, Fisioterapia, Exames complementares de diagnostico, Colonoscopia, Endoscopia, Ecografias, RX, Análises, Eletrocardiograma, Exames desportivos, Consultas de clinica geral e de especialidades, Medicina oral, testes rápidos COVID. Quando a pandemia o permitir iremos relançar uma nova atividade de otorrinolaringologista, com acesso a consultas, testes auditivos a muito baixo preço com os melhores meios tecnológicos e também cirurgia.
RN- A Confraria foi uma das instituições nacionais a integrar o projeto europeu de acolhimento a Crianças e Jovens Estrangeiros não Acompanhados. como está esse processo?
Nuno Batalha -Fomos uma das quatro Instituições escolhidas pelo Governo para abraçar este Projeto e neste momento acolhemos treze jovens provenientes dos campos de refugiados da Grécia. É um projeto desafiante, estamos a abrir o caminho, julgo que bem.
RN-Sabemos que os próximos tempos vão ser difíceis para todos. A confraria tem condições económicas para fazer face aos dias que se aproximam?
Nuno Batalha -A CNSN tem sentido muito a quebra de receita, como todas as organizações e empresas, é um problema transversal ao País e ao Mundo, mas acredito que com criatividade e reinvenção vamos conseguir, gestão on time e sem GPS. Nossa Senhora da Nazaré tem ajudado e vai continuar a ajudar…
RN- A tomada de posse dos reeleitos Membros da confraria decorreu no passado dia 17. quais são os projetos que pretendem desenvolver neste novo mandato?
Nuno Batalha -Projeto de ampliação e remodelação do LAR que foi objeto de candidatura ao PARES, com dotação orçamental de 1.800.000,00€ + 200.000,00€ em equipamentos, totalizando assim cerca de 2.000.000,00€.
No contexto epidemiológico, temos experimentado tempos difíceis, com a garantia absoluta de que estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para proteger de forma particular os idosos do Lar e os doentes do Hospital, estamos a dar o nosso máximo, o pessoal da Confraria são verdadeiros Heróis, ( Médicos, Enfermeiros, Assistentes Operacionais, pessoal da cozinha, Lavandaria, todos)…
O compromisso que assumimos para os próximos quatro anos, para além do projeto do Lar que já referi, é também dotar o hospital de mais 25 camas para cuidados continuados e uma unidade de aquaterapia.
Mas o GRANDE objetivo do momento é mesmo assegurar a melhor proteção aos nossos utentes face à pandemia COVID.
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