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Daniel Adrião obrigado a ser candidato à liderança do PS

Paulo Alexandre

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O socialista Daniel Adrião, de 48 anos, apresenta uma moção à próxima reunião magna do partido, que irá decorrer em junho, mas assegura que não é seu objetivo disputar o cargo de secretário-geral do PS a António Costa.

O antigo dirigente da concelhia PS de Alcobaça diz que pretende somente propor mudanças profundas no sistema político, quer nas regras de funcionamento interno dos socialistas, quer no sistema eleitoral das eleições para a Assembleia da República.

“Os estatutos do PS impõem a quem quer debater ideias e propostas alternativas, designadamente através da apresentação de uma moção de estratégia global, a obrigatoriedade de assumir também uma candidatura a secretário-geral”, explicou o socialista à Agência Lusa, acrescentando que “o objetivo deste movimento não é disputar a liderança do PS, mas o de ‘Resgatar a Democracia’ no PS e no país. A candidatura é por isso apenas o cumprimento de uma regra estatutária com a qual discordamos e que nos bateremos para alterar”, avisa desde logo o militante socialista.

Daniel Adrião, que disputou a liderança da Juventude Socialista (JS) a António José Seguro e Sérgio Sousa Pinto, entre os finais da década de 80 e o início dos anos 90, e que mais recentemente apoiou a candidatura de António Costa à liderança do PS, salienta que não discorda da atual solução governativa formada após as últimas eleições legislativas.

“Depois dos resultados desastrosos de quase cinco anos de austeridade, era preciso virar a página e, por isso, é de saudar a opção estratégica de abrir um diálogo histórico com o PCP e com o Bloco de Esquerda, que culminou na formação de um Governo que já teve resultados positivos. No entanto, penso que se poderia ter ido mais longe ao nível do acordo político, com a inclusão de representantes do PCP e do Bloco de Esquerda no Governo, garantindo-se por essa via uma maior estabilidade política”, sustenta o ex-dirigente socialista.

Daniel Adrião afirma que a sua principal preocupação se relaciona com a atual conjuntura de “profunda frustração dos cidadãos face à política e aos partidos” – uma posição que baseia em estudos de opinião que revelam que “os portugueses são os cidadãos que menos confiam nas suas instituições democráticas entre os europeus”.

“É preciso uma terapia de choque, uma revolução democrática, mudar os partidos e mudar o sistema de representação política. Os partidos têm de deixar de ser centralistas e hierárquicos, uma espécie de clubes privados”, critica, propondo como medidas alternativas a realização de eleições primárias abertas a simpatizantes, não apenas para o cargo de secretário-geral do PS, mas também na eleição dos presidentes das concelhias e federações socialistas.

Ainda ao nível interno, Daniel Adrião propõe um processo de refiliação, “porque hoje o número de inscritos não corresponde minimamente ao número efetivo de militantes”.

No que se refere à lei eleitoral para a Assembleia da República, o ex-dirigente socialista defende a criação de círculos uninominais (entre 130 e 140 no total), a par de um círculo nacional com a eleição entre 90 a 100 deputados.

“A minha moção vai também propor a introdução do voto preferencial, abrindo a possibilidade de o eleitor escolher qual o candidato que deseja que assuma as funções de deputado. Defendo também a possibilidade de candidaturas independentes à Assembleia da República, acabando com o monopólio dos partidos, e a limitação a três mandatos do exercício das funções de deputado”, acrescenta.

Daniel Adrião adverte que a ausência de mudanças, com a manutenção do atual sistema político e com o contínuo aumento da abstenção em atos eleitorais, poderá ter a prazo “consequências nefastas para o país”.

“Como disse John Kennedy, os que não deixam que se faça uma revolução pacífica levam com uma revolução violenta”, declara.

António Costa e Daniel Adrião entregaram, no passado dia 5, as suas moções de estratégia globais e respetivas candidaturas à liderança deste partido ao presidente do PS, Carlos César.

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