Quando em novembro passado, o WEST deu à costa na praia de São Pedro de Moel, pouco mais era que um casco sem patilhão e sem vela, já muito gasto e carcomido pelo mar e pelo tempo. Mas o seu aspeto exterior escondia uma história incrível, que começara quase um ano antes no outro lado do Oceano.
O WEST foi batizado por alunos da Escola de Westbrook, no Maine (E. U. A.), e lançado ao mar em Dezembro de 2013, numa iniciativa promovida pelo projeto norte-americano “Educational Passages”. Impulsionado pela força do vento e das correntes, navegou à deriva pelo Atlântico, sempre monitorizado via Internet pelos alunos de Westbrook que equiparam o barco com um GPS e um transmissor que emitia a sua posição uma vez por dia (via satélite). Quase um ano depois, o WEST chegava por fim a terra, dando à costa junto ao farol de São Pedro de Moel.
Luís Sebastião é um investigador do Instituto Superior Técnico (IST) que trabalha com robots marinhos. Soube da iminente chegada do WEST à costa portuguesa através do coordenador do “Educational Passages”, Dick Baldwin. As condições do mar obrigavam a um rápido resgate do barquinho e o investigador do IST não perdeu tempo: contactou o Eng.º Jorge Barroso da Ocean Puzzle, para apoio e coordenação local na Nazaré, e envolveu colegas do IST do centro MARETEC para realizarem simulações de modo a prever o local exato onde o veleiro iria dar à costa.
No dia 12 de novembro de 2014, com a colaboração do Capitão do Porto da Nazaré e da Guarnição do Farol do Penedo da Saudade (São Pedro de Moel), foi possível resgatar o WEST ao mar. Tinha atravessado o Oceano Atlântico e navegado perto de 11 mil milhas. Esta longa travessia teve naturalmente reflexo no estado do barco que chegou a terra bastante desgastado e até com alguns percebes a viver no casco. Da vela, nem sinal…
Já com o WEST em terra, tornou-se mais fácil unir esforços de várias entidades no sentido de impulsionar a recuperação do veleiro. Ciência Viva, Kit do Mar/EMEPC, IST, MARETEC, Valuma e Ocean Puzzle aderiram à causa e juntos criaram o projeto “WEST leva Portugal ao Mundo”. Desde cedo contaram também com o apoio e patrocínio do projeto europeu Sea For Society e de duas empresas da região da Nazaré: DL-Publicidade e SILCAR da Naval Nazaré.
Com a orientação do projeto educativo da EMEPC, Kit do Mar, foi então lançado o desafio a alunos do 5.º ano de duas escolas da Nazaré: EB 2,3 Amadeu Gaudêncio e Externato Dom Fuas Roupinho. Após a recuperação do veleiro nos Estaleiros SILCAR, cada escola teria a seu cargo a pintura de um dos lados do casco do WEST e a redação de uma mensagem em português e inglês para acompanhar o barco na sua próxima travessia.
As turmas foram divididas em vários grupos de alunos, que produziram várias propostas de decoração, sempre com um ponto em comum: haver uma menção à região da Nazaré, fossem nazarenas ou ondas gigantes. A organização do projeto selecionou o que considerou as melhores propostas (uma por escola) e levou o WEST às escolas para se proceder às pinturas no casco que transformaram este barquinho numa autêntica obra de arte.
No dia 19 de Maio, este ‘novo’ WEST foi apresentado numa sessão pública no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa. O evento contou com a participação e apresentações de alunos das duas escolas participantes e incluiu uma tele-conferência skype com a Escola de Westbrook que lançara o veleiro no mar 17 meses antes. Alunos e professores americanos não esconderam o entusiasmo ao ver o barco todo remodelado e o empenho dos alunos da Nazaré. A apresentação de um vídeo produzido pela Valuma, que resumiu todas as etapas do projeto, chegou mesmo a emocionar participantes dos dois lados do Atlântico.
Agora, só falta devolver o WEST ao Oceano. O lançamento será realizado no dia 6 de junho (no âmbito da Blue Week), a bordo do veleiro histórico Santa Maria Manuela. Voltará a contar com a participação dos alunos da EB 2,3 Amadeu Gaudêncio e do Externato Dom Fuas Roupinho. A expetativa é que volte a atravessar o Atlântico e faça chegar o trabalho destes nossos alunos ao continente americano. Quem sabe, talvez o WEST faça novos amigos além-fronteiras, que o queiram recuperar e lançá-lo de novo ao mar.
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