A criança sofre de artrogripose múltipla congénita, um problema ao nível das articulações, que o impede de se sentar, comer sozinho ou fazer outras atividades. Com 91,5% de incapacidade física, João só se movimentava rebolando no chão.
Com a cadeira atribuída pela Segurança Social, de 9600 €, João está menos dependente. João Vítor faz tudo o que as outras crianças de seis anos fazem, a diferença é que sofre de Artrogripose Múltipla Congénita, o que o impede de andar, sentar-se, comer ou ser independente para fazer as tarefas mais básicas, como usar a casa de banho.
Numa entrevista ao Jornal Público, há alguns meses, a família explicava as dificuldades por que passava, mensalmente, alimentada por uma escassa margem de alguns euros, e sem os apoios do Estado, que a condenava a não conseguir dar ao filho o que ele necessita.
“A nossa maior preocupação, por enquanto, é a integração dele na escola, se está adaptada às sua necessidades e se têm capacidades para o ajudar”, diz a mãe de João Vítor, Claudina Baptista. “Não temos medo da interacção dele com outras crianças porque ele é muito sociável, dá-se bem com toda a gente, mas precisamos que ele tenha o mínimo de condições, alguém a acompanhá-lo, porque ele não consegue ser autónomo”.
Pode não conseguir andar, mas isso não impede João Vítor de se deslocar: rebolando, vai a todo o lado e até futebol joga com as mãos. “Eu e o Simão somos os melhores jogadores do mundo”, grita triunfante, depois de marcar mais um golo. Simão é o irmão mais novo, de apenas quatro anos. Olha calmamente para o irmão enquanto vai retirando carrinhos do chão por onde o irmão passa, para que ele não se magoe. “Toma, mais um! Estou a ganhar!”, grita outra vez, ainda mais alto, com alegria na voz. Como ainda tem fôlego para tanto não se sabe.
“Os meus filhos ajudam-me muito, a minha família tem-me apoiado incondicionalmente, se não fossem eles, mal conseguíamos sobreviver”, afirma Claudina. João Vítor e Simão têm ainda outros irmãos mais velhos, de 23 e 15 anos, que não vivem em casa com a família.
João Vítor não tem direito a apoios sociais, apesar dos vários apelos dos pais aos serviços sociais. Durante um breve tempo, teve direito a apoios, que foram depois retirados. Agora a família deve mais de 800 euros à Segurança Social, que são incapazes de pagar.
Por 16 vezes foi-lhes negado apoio financeiro. João Vítor não se qualifica por a família ter “rendimentos ilíquidos mensais superiores a 40% do valor do indexante dos apoios sociais”, cujo valor máximo é de 419,22 Euros.
“Eu sou bate-chapas, pinto carros e faço uns biscates, a mãe dele tem de ficar com o João em casa, não pode ir trabalhar, tem de o acompanhar sempre. Se soubéssemos que a escola tinha condições para o receber ainda ela podia arranjar qualquer coisa durante o horário da escola, e sempre era mais esse dinheiro”, desabafa António Silva, o pai.
A mãe tem de o conduzir à fisioterapia em Leiria pois as unidades de saúde local sofreram cortes que manietaram a sua capacidade de resposta e a família não pode pagar os 200 euros mensais que custa a ambulância dos bombeiros. Devido à incapacidade física do João Vítor (91% segundo o atestado médico), não é possível usar os transportes públicos. Mas não é possível abdicar da fisioterapia. “Se ele falta a uma só sessão fica pior, com mais dificuldade em se mexer”, refere a mãe.
Os pais têm também de pagar as aulas de natação, que eram até há pouco tempo pagas por terceiros. João Vítor adora a água e já andou de barco a motor e praticou vela. É um rapaz cheio de energia e felicidade.
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