“Queremos, aqui, fazer a afirmação da gastronomia da Nazaré, e começamos com um dos seus produtos mais tradicionais, o carapau seco”, bem conhecido de muitos, que “queremos elevar, se possível, a um patamar internacional”, afirmou Walter Chicharro, na abertura do evento.
O Presidente da Câmara Municipal explicou que “esta mostra é o primeiro passo de um processo mais alargado que o atual executivo tem em marcha”, adiantando que no Centro Cultural, onde funcionou a lota, será, “tudo indica já a partir do próximo ano, aberto um novo espaço [traseiras] onde as peixeiras passarão a efetuar o tratamento do peixe, que atualmente é feito no areal ou em armazéns contíguos ao edifício”.
O autarca anunciou, ainda a requalificação, dos paneiros “em princípio, no próximo ano, estando essa intervenção dependente das possibilidades da Câmara Municipal da Nazaré e dos Fundos Comunitários”.
“O peixe seco, enquanto marca identitária da Nazaré, terá toda a nossa atenção. Queremos dar condições a quem pratica uma arte antiga e fazer deste, assim como do espaço da rua [onde estão os paneiros/estendal], ícones culturais da Nazaré”.
Walter Chicharro acrescentou que está iniciado o projeto para a certificação do peixe seco, e ”esperamos concluir, no espaço de um ano, este trabalho, que está a ser desenvolvido em parceira com Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche/IPL e uma empresa local, “Maria da Nazaré”.
O objetivo deste projeto é “criar uma marca e permitir que o produto endógeno seja fator de afirmação da Nazaré e de apresentação nos restaurantes e hotéis.
O Museu do Peixe, outro projeto da Câmara Municipal, que tem por finalidade a preservação da tradição ancestral da secagem do peixe, também faz parte deste projeto.
Consagrar um elemento diferenciador da cultura nazarena como atração turística, oferecendo, simultaneamente, melhores condições de trabalho àquelas que se ocupam desta atividade, com as perspetiva de captar novos agentes para que a tradição se perpetue no tempo, são outros fins deste Museu Vivo, em fase de desenvolvimento.
A tradição de secar o pescado em excesso na Nazaré é antiga, e terá surgido com a necessidade de conservar o peixe para os dias de escassez. A atividade realiza-se diariamente por um grupo de peixeiras a Nazaré, no estendal, localizado na praia, ao sul. Tradicionalmente, assegurava o sustento das famílias quando o peixe escasseava, mas também permitia conservá-lo para ser vendido nos mercados da região, o que ainda hoje acontece.
Na “Mostra de Carapau Seco”, acompanhada por uma prova de vinhos, foram apresentadas quatro receitas com carapau seco/enjoado, criações do chef António Alexandre (chef executivo do Lisboa Hotel; chef no Restaurante “100 Vícios” e jurado no Chefs’ Academy), parceiro da Autarquia na realização do evento gastronómico, que conta com a colaboração da Escola Profissional da Nazaré.
“Apresentámos aqui pequenos exemplos de como grandes tesouros, que ainda temos em Portugal, permanecem à vista de todos, mas que precisam de ser valorizados”, explicou o chef.
Foram apresentadas quatro interpretações do carapau seco que “queremos que sirvam de estimulo para a restauração e hotelaria local”. Apesar de alguns empresários apresentarem as suas criações de peixe seco, António Alexandre defende que é preciso que “mais consumam o produto, para que, desse modo, se crie mais valor, mais procura e melhor oferta, surpreendendo os visitantes com novos receituários”.
Além da gastronomia e dos vinhos, os convidados puderam, ainda, visitar a nova exposição do Centro Cultural, composta por trabalhos de Paul Girol, um dos pintores que mais retratou a Nazaré, nos seus trabalhos.
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