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“Entre a garrafa meio cheia e a garrafa meio vazia”

“O Legado de 40 anos de qualificação dos Portugueses” analisado por Santana Castilho e Odete Valente

JL

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“O Legado de 40 anos de qualificação dos Portugueses: entre a garrafa meio cheia e a garrafa meio vazia” foi tema do segundo colóquio do ciclo “Controvérsias”, que a Biblioteca Municipal da Nazaré está a realizar, e que contou, no passado dia 26 de março, com os oradores Santana Castilho e Odete Valente.

A Professora do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Odete Valente, referiu que “houve progressos nos 40 anos” ao nível da qualificação dos portugueses, o que não “impediu que muitos tivessem abandonado a escola, o que é uma tragédia, que temos de continuar a tentar remediar, motivando para a escola e, lá, dar razões para que acreditem que vale a pena aprender e andar na escolar”.

Sobre o ensino profissional, Odete Valente referiu que se “fizeram várias tentativas, fomos ensaiando modelos, sempre com pouca convicção, tendo esta via de ensino vindo a debater-se com a falta de recursos, escassez de professores, de verbas e diminuição de oportunidades de se prosseguirem a qualificação através desta via”. “Nunca se chegou a atingir o que chegou a ser uma hipótese de trabalho, quando se lançou esta via”, explicou.

Em 4 anos de qualificação, registaram-se, para esta docente, diversas melhorias ao nível da escola, nomeadamente de currículo, que “é melhor e mais alargado, que faz com que os alunos melhorem as suas perspetivas ao nível cultura, embora continue a apresentar défices, nomeadamente ao nível do ensino artístico e da sensibilidade”, havendo, noutras áreas, como o do apoio às crianças “desinvestimento”. “ Tem vindo dramaticamente a piorar”, acrescentou.

“Há muito a fazer. Estamos num período triste que precisa de ser reavaliado. Mas o pior que pode acontecer é acabar em vez de reparar o que está menos bem. A falta de continuidade das políticas é um drama para a nossa qualificação”, alertou Odete Valente.

No período de maior investimento na qualificação dos portugueses, entre 2000 e 2011, fizeram-se estudos sobre o estado da educação no país. Apesar do progresso verificado, nomeadamente pelo investimento efetuado ao nível da certificação de competências e novas oportunidades, “ficou por apurar se houve ou não qualificação efetiva” dos portugueses.

“A nossa caminhada global é ascendente, mas tem picos, de vez em quando”, terminou, referindo-se ao estado da educação, das políticas, e da qualificação em geral.

Santana Castilho, professor universitário e colaborador há 13 anos do jornal Público, começou por dizer que é “determinante aproveitar momentos como este para chamar a atenção dos docentes para a situação de copo estilhaçado que a educação vive atualmente”

“A minha visão relativamente ao problema da educação acaba por se sintetizar na ideia de que o problema na educação em Portugal é político”, disse no início da sua intervenção onde chamou a atenção para o “esvaziamento galopante do copo [educação] ”, apelando a que “todos façam qualquer coisa na sua comunidade, meio, para por um travão a esse esvaziar do copo”

Santana Castilho defendeu a tese de que está em curso “uma estratégia de asfixia da escola pública e de transformação da escola inclusiva numa escola mínima para os pobres, privada, cofinanciada por todos nós, para os ricos”. “É a sabedoria imoral de Crato”, como lhe chamou.

“A Educação é fonte de riqueza, e é o melhor veículo de inclusão e de promoção social”, disse Santana Castilho, acrescentando que “ em tempo de crise, deveria suscitar o reforço do empenhamento do Estado porque há uma relação incontornável entre economia e educação, e porque o relaxamento com a educação torna a crise, em que vivemos, crónica”

“Prior que o empobrecimento da bolsa é o empobrecimento do conhecimento e do espirito”, frisou.

O professor universitário referiu-se, ainda, a alguns estudos publicados sobre a educação, destacando que “o absentismo e abandono escolar já são a segunda maior ameaça a menores da tipologia de Comissão Nacional de Crianças e Jovens em Risco”.

“Desde 2010, 135 mil carenciados deixaram de receber rendimento social de inserção. Em 2013, foram excluídos 20 mil beneficiados. As continuadas alterações às regras de concessão, multiplicaram pelo país bolsas de sofrimento atroz onde os direitos humanos básicos não existem”.

Santana Castilho falou do presente ano letivo em curso “está pobremente marcado pelo afastamento de muitos professores, pela redução de funcionários indispensáveis, pela amputação autocrática da oferta educativa das escolas públicas para beneficio das escolas privadas” e da “desmotivação e desemprego generalizado, que afetam os professores”.

A diminuição do financiamento dos serviços da ação social escolar, remoção de apoios a necessidades educativas especiais, o aumento do preço dos manuais e a deslocação de crianças para grandes agrupamentos escolares foram igualmente criticados pelo professor universitário, que fala em “retrocesso inimaginável” em vários aspetos da educação em Portugal.

Para Santana Castilho assiste-se a “uma excessiva preocupação com os custos sem cuidado com o futuro” num país onde 3,5 milhões de portugueses, com mais de 15 anos, concluíram o ensino básico ou não possuem qualquer diploma; 1,5 milhão, entre 25 e 44 anos, não concluiu o ensino secundário; e onde existe uma taxa de 27,1% de abandono escolar precoce e uma taxa de abandono escolar de 1,7% ”.

“É lançar na selva do mercado jovens sem qualificações básicas exigidas pela europa que combateremos a taxa de desemprego a rondar os 50% ? É cruzando os braços, ante mais de 2 milhões de ativos que não concluíram o ensino secundário que melhoraremos a competitividade da nossa economia? Resolveremos a dívida e o défice, cortando na educação e formação de um povo?”, perguntou Santana Castilho.

Um estudo da Comunidade Europeia releva que Portugal e Roménia são os únicos membros que reduziram as despesas públicas com a educação em percentagem do PIB. “Se os estados membros não investirem na qualificação e educação, ficaremos aquém dos nossos concorrentes mundiais, e será mais difícil combater o desemprego juvenil”, citou o docente, de afirmações feitas pela comissária europeia para a educação, em 2012.

O docente, que apelou à intervenção da comunidade educativa sobre o estado da educação em Portugal, alertou a plateia para o que considera estar a acontecer no país: “substituição do estado social por um neoliberal, classista”.

Ciclo “Controvérsias” na Biblioteca Municipal da Nazaré

O ciclo “Controvérsias ao vivo no espaço público da educação e o legado de 40 anos de democracia” é uma ação acreditada para docentes e não docentes, com entrega de certificado de participação no final.

Contribuir para a compreensão do espaço público; promover o espaço cultural formativo no qual seja possível reavivar a tradição de tertúlia e da controvérsia em torno dos temas estruturantes da educação em Portugal; suscitar, no espaço público da educação, a avaliação critica relativa a questões educativas; introduzir a aplicação dos ensinamentos e virtudes das controvérsias na dimensão do trabalho letivo e no desenvolvimento dos formandos como pessoas e profissionais da educação, são alguns dos objetivos deste novo ciclo de debates, que irão decorrer na Biblioteca Municipal.

Trata-se de uma organização do Centro de Formação da Associação de Escolas dos concelhos de Alcobaça e Nazaré, UGT-Leiria; Câmara Municipal de Leiria; EPNazaré; Agrupamento de Escolas da Nazaré; Externato Dom Fuas Roupinho; ISCSP e Universidade de Lisboa, conta como Media Partners com o Região da Nazaré; Jornal das Caldas; Oeste Global e Região de Leiria; e com os parceiros Hotel Maré; Hotel Praia; Miramar Hotels; Sindicato dos Professores de Zona Centro.

O próximo Seminário irá decorrer a 23 abril, com o tema “Reformas curriculares em Portugal e no ensino básico e secundário”.

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