“No fundo sabia que um dia ia ter uma oportunidade destas, pelo menos esforço-me diariamente para isso. Todas as fotos que via não me impressionavam minimamente, porque eram só a foto de uma onda e de um surfista. Podia ser na Nazaré ou no Havai, não havia uma referência local. Uma boa foto tinha de ter a envolvência. Há vários anos que vou à Nazaré fotografar e já conheço os spots e ângulos. Decidi apanhar o farol e o forte, e a foto que eu tinha na mente está no papel”, contou “Tó Mané” ao REGIÃO DA NAZARÉ.
Interrogado sobre o que é mudou na sua vida, Tó Mané respondeu que “continuo a mesma pessoa. Estou um pouco mais conhecido fora do circuito de fotógrafos de surf, saí do casulo e isto catapultou a minha imagem para fora do meio onde já era conhecido. Há muitos anos que apresento as minhas propostas a jornais e a várias entidades, e continuo free-lancer. Já tive outras fotos muito conhecidas em concursos, mas é o pico do meu trabalho. Até a minha avó na aldeia já viu a foto”.
No seu entender, o fotojornalismo português também ganhou prestígio. “Penso que ganhou com esta projeção em termos internacionais, porque a imagem apareceu nos jornais e sites nos Estados Unidos, Austrália, Inglaterra e noutros pontos do Mundo. Dei várias entrevistas, uma delas para a CNN”, referiu.
“Tó Mané” tem 38 anos e pratica surf desde os 14, sempre de forma lúdica. Tem acompanhado o trabalho de Garrett McNamara, mas só agora o conheceu pessoalmente.
“Sempre que o Garrett McNamara está na Nazaré há uma romaria. Vai trazendo impacto à economia local, nomeadamente à hotelaria e aos comerciantes”, manifesta Miguel Sousinha, administrador da Nazaré Qualifica, empresa municipal que desenvolve com o surfista o projeto Zon North Canyon Show com o objetivo de promover a Nazaré como destino internacional.
O projeto implica um investimento de meio milhão de euros ao longo de três anos, 98% assegurado por entidades privadas. “Este investimento já foi claramente ultrapassado pelo retorno de visibilidade. Daquilo que foi possível aferir em termos de mediatização e de notoriedade em colocar a Nazaré no mapa do mundo do surf das ondas grandes e em termos turísticos, podemos dizer que multiplicou por muitos esse montante”, assegurou.
“É difícil quantificar, mas são os indicadores que temos pela afluência à Nazaré. Acontece em época baixa, o que era nosso objetivo, quebrar a sazonalidade e trazer gente à Nazaré fora dos períodos altos de verão”, indicou.
A última proeza de Garrett McNamara, ao surfar uma onda gigante como nunca se viu na Praia do Norte, tal como em 2011, voltou a colocar a Nazaré nas bocas do mundo, e Miguel Sousinha acredita que “sempre que houver as condições perfeitas para estas ondas, vão aparecer muitas pessoas para surfar”, fazendo notar que “desde o ano passado alguns atletas de renome internacional têm passado pela Nazaré”.
“O movimento é uma loucura mas não temos meios para saber o número de pessoas. Sabemos que tem algum impacto no alojamento, mas queremos ainda um maior retorno para a economia local nos próximos tempos. A perspetiva nos próximos tempos é otimista. É como uma onda a crescer”, referiu.
Jorge Barroso, presidente da Câmara da Nazaré, apontou que “quando iniciámos o projeto Zon North Canyon Show sabíamos que estávamos a lidar com algo que tinha imenso potencial. Faltava o clique, que agora foi dado. Mas não estava à espera de em três anos ter a Nazaré na capa dos jornais. O impacto mediático reflete-se não só a nível concelhio, mas para Portugal”.
Questionado sobre se o objetivo do projeto de promover a Nazaré a nível internacional já foi conseguido, o autarca respondeu que “está conseguido mas podemos ir mais longe. Ainda temos uma série de potencialidades para explorar. Temos aqui algo para gerir e que tem de ser trabalhado. É importante que esta visibilidade não seja só para as ondas grandes, porque temos também ondas pequenas e médias. É importante continuar a acolher todos os surfistas e não só os de topo”.
O presidente da Câmara assegurou o retorno do investimento: “Em termos de retorno mediático já foi mais do que ultrapassado em vários milhões de euros, por ter conseguido colocar o nome da Nazaré e de Portugal no mapa do surf. Mais de uma dezena de milhões de euros, e é um número por baixo, segundo a nossa perceção. Há um aumento de movimento turístico na zona provocado por este mediatismo todo, pela curiosidade em visitar a Nazaré”.
“É difícil ir a qualquer lado e apresentar-me como sendo da Nazaré e que não me falem da “onda dos 30 metros” e haja reconhecimento e parabéns”, confidenciou.
A autarquia está a desenvolver um centro de alto rendimento de surf e já aprovou que tenha o nome do surfista, por proposta do vereador António Trindade.
0 Comentários