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Avô e à neta morrem afogados na Praia do Salgado

Francisco Gomes

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“Acabaram de morrer duas pessoas à nossa frente. Fizemos o que pudemos, mas as vítimas estavam muito longe da zona concessionada”. O desabafo é dos dois nadadores-salvadores que no passado dia 21 viram consumados os seus receios de uma tragédia perante a perigosidade da praia do Salgado, na Nazaré, sobretudo na parte não vigiada.

Um homem de 66 anos e a sua neta, de cinco, ambos de nacionalidade inglesa, foram arrastados pelas correntes e afogaram-se.

Eram 13h53 quando foi dado o alerta a indicar que três turistas tinham sido arrastados pelas ondas. Brian O’Dwyer encontrava-se a dar um passeio ao longo do extenso areal da praia do concelho da Nazaré, acompanhado da mulher, Jill O’Dwyer, de 66 anos, da neta, Lara Lewis, de cinco anos, e de outro neto, de três anos.

Junto aos rochedos, longe da área concessionada, “a menina ter-se-á aproximado do mar para apanhar uma concha, e foi arrastada pela ondulação, tendo o avô tentado socorrê-la, sendo também apanhado, enquanto que a avó caiu na zona de rebentação”, descreveu o comandante da capitania da Nazaré, Albuquerque e Silva.

O outro menino ficou sozinho e “saiu do local a chorar, o que chamou a atenção de um pescador, que questionou um casal que estava por perto e que disse ter visto os dois adultos e as duas crianças a passarem para sul, levando o pescador a aperceber-se do cenário de tragédia e a contactar o 112, ajudando também os nadadores-salvadores nas operações de resgate das vítimas”, indicou.

O homem estava já cadáver e foi trazido para terra, enquanto que a criança estava inconsciente fora de água, tendo a equipa da VMER das Caldas da Rainha efetuado diversas tentativas de reanimação ao longo de 45 minutos, sem sucesso. A mulher estava em estado de choque à borda de água e também foi assistida, sendo levada em “situação estável” para o hospital de Alcobaça para observação. Foi medicada face às crises de ansiedade e recebeu apoio psicológico, tendo alta no mesmo dia.

“Os avós devido à idade já não têm tanta agilidade e a ansiedade em tentar o socorro foi fatal para o homem”, apontou João Estrelinha, comandante dos bombeiros da Nazaré.

Os corpos foram transportados para o Gabinete Médico-Legal de Leiria, para serem autopsiados.

No local estiveram uma embarcação salva-vidas da Capitania da Nazaré, elementos da polícia marítima, doze bombeiros e seis viaturas da corporação da Nazaré, uma equipa do INEM (VMER), uma mota de água da Associação de Nadadores Salvadores da Nazaré e militares da GNR, que cortaram o acesso do trânsito à praia.

Família na praia

As três vítimas encontravam-se na praia com os pais da criança, que ficaram em estado de choque, e outros quatro familiares – um irmão da criança falecida, de 14 anos, dois tios e um primo. Estavam a 400 metros da zona onde se verificaram os afogamentos. A família inglesa passava férias em Óbidos.

Jill O’Dwyer “não consegue ver ninguém e enerva-se e grita. Precisa de muito descanso para suportar a dor e ultrapassar a situação”, relatou Fernanda Rosário, que pediu para o recolhimento da idosa não ser perturbado, confirmando a intenção manifestada por um elemento da família de não querer prestar declarações. Um casal amigo residente em Óbidos tem andado a ajudar na resolução das questões burocráticas.

À imprensa britânica, a outra avó da criança, Sara Philomena, que vive em Inglaterra, comentou o sucedido: “O meu filho Philip telefonou-me e mal conseguiu falar. Estou em choque, a menina era tão amorosa e adorada, e o avô também era maravilhoso e representa uma grande perda”. Sentimento semelhante é partilhado por amigos, que destacam que era uma “família feliz”.

O pai da menina falecida, Philip Lewis, de 46 anos, é um reputado especialista em radiação eletromagnética e docente na Universidade de Londres. A mãe, Sian Patricia, de 36 anos, nasceu em São Paulo, no Brasil. O casal vive em Hackney, no nordeste da capital inglesa. Tem mais dois filhos, um dos quais se encontrava na praia na altura da tragédia.

É numa típica casa da vila de Óbidos, na Rua do Castelo, que a avó materna, os pais, os tios e um primo de Lara Lewis se refugiam, e onde chegou um padrinho da mãe da criança. Comprada há quatro anos, servia de habitação de férias para a família, que passava os dias nas praias da região ou reunia amigos para churrascos. Deviam partir para Londres no início de setembro.

Nadadores-salvadores desrespeitados

A bandeira vermelha estava hasteada na altura em que se registou o incidente, aliás, devido ao estado do mar foi a única cor exibida. Isso não impediu que vários banhistas se aventurassem na água, desrespeitando a ordem dos nadadores-salvadores.

“Esta é uma das mais perigosas praias da região centro por causa da ondulação e dos fundos, mas as pessoas continuam a abusar. Ao longo do mês de agosto chamámos várias vezes a Polícia Marítima, porque as pessoas não respeitam a pouca autoridade que temos e que cai por terra, porque os banhistas não nos ligam”, comentaram os dois nadadores-salvadores da zona concessionada, que não quiseram ser identificados.

“Muitas vezes sopramos o apito e a resposta que temos é: ‘É penalty ou é livre’, como se fosse um jogo de futebol”, lamentaram.

Estes foram os primeiros casos mortais registados esta época balnear na Praia do Salgado, com dois quilómetros de extensão, apesar da perigosidade que apresenta, e que até na área vigiada de cem metros tem levado à intervenção dos nadadores-salvadores.

O comandante da capitania lamentou que alguns banhistas não respeitem as ordens dos nadadores-salvadores, reconhecendo que “a Polícia Marítima só pode multar as pessoas se estiverem na área concessionada, e quando está a chegar ao local elas andam dez metros para o lado e ficamos sem poder fazer nada”.

Albuquerque e Silva apontou também que existem placas a indicar as zonas de praia vigiada e não vigiada “que aparecem destruídas e vandalizadas”, como constatou no dia da tragédia, em que “a placa estava caída no chão”.

Praia do Salgado

A Praia do Salgado fica situada entre a Nazaré e S. Martinho do Porto e apresenta um areal extenso, dos quais apenas cem metros são vigiados. O mar é geralmente bravo e perigoso, cativando bodyboarders e surfistas. Embora não sendo uma prática oficializada, tem uma zona de ocupação naturista e oferece boas condições para a prática do parapente e de asa delta.

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