Eu bem te tinha dito para sairmos cedo. Mas tu nunca me ouves. Depois é isto. Ainda por cima, trouxeste a mobília toda atrás de ti. Agora, estamos aqui na fila há uma hora. E ainda nem sequer se vê o mar. Nem o mar nem a areia nem nada. Também estes gajos lembraram-se todos de vir para a praia hoje. Não podem ver um bocadinho de sol que vêm logo a correr. E ainda dizem que a vida está cara. Cara está para mim que me farto de trabalhar. Mas esta cambada de preguiçosos nem pensa nisso. Nem nisso nem no preço da gasolina, que está pelas horas da morte. A gasolina e tudo o resto. E querias tu almoçar fora. É o almoças. Nos restaurantes levam-nos o couro e o cabelo. E boca fechada, senão até a saliva nos tiram. Uns exploradores é o que eles são! Pensam que a vida está barata. E agora por falar em barata, o Barata lá do escritório teve um AVC na semana passada. Coitado do Barata! Também, com aquela mulher que ele tem, outra coisa não era de esperar. Cá para mim foi tudo por causa dela. Sempre me pareceu que o Barata não tinha pedalada para ela. É muita mulher para ele e o homem não deve dar conta do recado. A galdéria esbanja-lhe o dinheiro todo para ir aos concertos do Tony Carreira e ele está carregado de dívidas. É o que dá fazer as vontadinhas todas às mulheres. Para vocês são tudo facilidades. Cala-te lá com a buzina, ó grande camelo, então tu não vês que eu não posso avançar?! Se estás com muita pressa, passa por cima! Ou então viesses mais cedo. E tu, Ritinha, vê lá se te calas também. Como é que queres que eu saiba se ainda vamos demorar muito tempo? Não vês que os carros estão todos parados? Estão parados e não se vê nenhum GNR por perto. Se fosse para multar apareciam logo a correr. Assim, como é para regular o trânsito, não aparecem! Bom, finalmente já estão a andar. Agora o problema vai ser arranjar um lugar. Vamos ter de deixar o carro longe da praia e, depois, cá está o camelo para alombar com tudo. O farnel, o guarda-sol, as toalhas, os sacos…Vocês parece que vêm para uma passagem de modelos. Olha, filha, vou estacionar mesmo aqui! Toca a despachar que já são quase horas do almoço. Finalmente chegamos à praia. Agora é só armar o guarda-sol e já podemos comer. E eu estou cá com uma destas fomes! Passa-me aí uma coxa de frango e uma cerveja. Ó miúdo, não vês que me estás a encher a comida de areia, seu malcriadão? Os paizinhos não querem saber. É no que dão as educações modernas. Já não há respeito por ninguém Sabes que mais, vou ler o jornal que já perdi o apetite. Não me digas que te esqueceste de mo trazer? Tenho que ser sempre eu a pensar em tudo. E agora, o que é que eu vou fazer? Vamos mas é para casa que eu já estou farto de praia. E, no próximo fim-de-semana, arranjo uns sacos de areia e uns garrafões de água salgada. E faço uma praia na varanda de lá de casa, como a de Mangualde. Isso sim, é que é qualidade de vida!…
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