Q

Previsão do tempo

18° C
  • Wednesday 20° C
  • Thursday 22° C
  • Friday 21° C
19° C
  • Wednesday 25° C
  • Thursday 24° C
  • Friday 24° C
25° C
  • Wednesday 23° C
  • Thursday 24° C
  • Friday 23° C

Vela provoca incêndioem pensão ilegal nas Caldas

EXCLUSIVO

ASSINE JÁ
Funcionava como uma espécie de pensão, mas estava ilegal e o espaço era pequeno demais para tanta gente. Haveria sete espaços alugados como apartamentos mas ainda não foi possível apurar quantas pessoas ali viviam. Estima-se que cerca de dezena e meia de pessoas de várias nacionalidades partilhariam o primeiro piso e as águas furtadas do […]
Vela provoca incêndio<br>em pensão ilegal nas Caldas

Funcionava como uma espécie de pensão, mas estava ilegal e o espaço era pequeno demais para tanta gente. Haveria sete espaços alugados como apartamentos mas ainda não foi possível apurar quantas pessoas ali viviam. Estima-se que cerca de dezena e meia de pessoas de várias nacionalidades partilhariam o primeiro piso e as águas furtadas do prédio nº 4 da Travessa da Piedade, no centro histórico das Caldas da Rainha, onde na madrugada de 7 de Fevereiro um casal e o filho morreram intoxicados e outras sete pessoas ficaram feridas, na sequência de um incêndio que terá sido provocado por uma vela acesa.

O incêndio ocorreu cerca das 4.40 da manhã, num dos quatro quartos arrendados no primeiro andar, com treze metros quadrados, ocupado por Diana Kabanchuk, ucraniana, de 32 anos, que ficou com marcas de queimaduras na face e ficou com o cabelo queimado. As chamas terão começado por consumir um sofá-cama, onde terá caído uma vela acesa. A mulher tinha adormecido. Depois de ter sido ouvida em tribunal, foi constituída arguida e ficou com termo de identidade e residência.Diana Kabanchuk entrou acompanhada por agentes da Judiciária, mas saiu sozinha. Contou aos jornalistas que estava na cama a ver um filme na televisão e tinha uma vela acesa. “Gosto de velas, mais nada, não era para poupar electricidade. Estava a descansar e meio a dormir e o incêndio começou quando a vela caiu sem querer. Como havia plástico e esponja as chamas apareceram num instante”, descreveu.“Eu moro ali sozinha e chamei a vizinha de quarto, ao mesmo tempo que comecei a mandar água para o fogo. Não nos lembrámos dos extintores. Chamámos as pessoas e elas saíram dos quartos”, relatou, considerando que “foi tudo muito rápido e só os bombeiros é que se atrasaram um bocado”.A ucraniana, que disse estar “há pouco tempo” no nosso país, é casada com um português e encontra-se em situação legal no território nacional.Questionada sobre as condições de habitabilidade do imóvel, que funcionava como uma espécie de pensão, mas que era pequeno demais para os cerca de quinze ocupantes e estava ilegal por não ter licença de utilização, Diana Kabanchuk manifestou achar que a casa “tinha condições”, encurtando a conversa: “Estou livre e um dia falamos”.O comandante dos bombeiros voluntários das Caldas da Rainha e responsável da Protecção Civil, José António, confirmou esse cenário, admitiu que o “descuido com uma vela” terá originado o fogo, que destruiu também a mobília do quarto. “Não ardeu nada onde estavam os outros quartos mas estavam com muito fumo”, adiantou.Num dos quartos, que estava trancado à chegada dos bombeiros, encontrava-se a família que seria vítima de inalação de fumos enquanto dormia. João Francisco Mafra Monteiro, de 51 anos, Maria Sameiro Pires Costa, de 41, e João Dinis Costa Monteiro, de 19 anos, foram encontrados já sem vida. De nada valeu a tentativa de reanimação. “Estariam treze pessoas aqui a viver. Três morreram. Quatro foram para o hospital e duas foram assistidas no local e dispensaram transporte para o hospital. E os outros fugiram pelos seus próprios meios”, descreveu José António, que se manifestou surpreendido com o cenário encontrado na casa.“Havia espaços do edifício que estavam a ser utilizados ilegalmente”, relatou. “Não era possível ter licença de habitabilidade tendo em conta as condições que encontrámos. Viver nas circunstâncias actuais, pelo menos nas águas furtadas, era impossível”, denunciou José António. Era nas águas furtadas que viviam as três vítimas mortais. “Era um espaço muito exíguo e pouco arejado para estarem lá três pessoas”, sublinhou, reconhecendo haver “sobrelotação”.Situado entre o tradicional Mercado da Fruta e o Parque D. Carlos I, o edifício chegou a ser uma escola primária e foi reformulado em 1999, tendo sido aumentado num piso “para ser utilizado como escritórios, mas a utilização para habitação e aluguer de quartos não estava prevista”, revelou o presidente da Câmara Municipal, Fernando Costa.Segundo o autarca, “a Câmara desconhecia completamente a utilização daquele espaço para residência”.De acordo com fonte camarária, as obras tiveram licença para ampliação de um piso destinado a escritório. Contudo, “nunca foi requerida vistoria nem passada licença de utilização”, referiu a mesma fonte.A Câmara vai abrir um processo de averiguações e admite que o proprietário, António José Pinto Monteiro Duarte, que tem várias habitações arrendadas na cidade, todas legalizadas, venha a ser sancionado. A contra-ordenação pode variar entre 500 e 100 mil euros.PânicoO pânico provocou reacções diferentes, desde ficar imobilizado à espera de socorro, subir para as águas furtadas, mas houve também quem tenha saído pela porta principal. Três moradores que subiram para a cobertura do edifício foram resgatados pela auto-escada dos bombeiros, assim como uma das ocupantes que pulou do telhado para outro prédio. A escada em caracol que dava acesso às águas furtadas não permitia movimentos eficazes dos soldados da paz.O proprietário do imóvel chegou ao local e foi bater às portas dos quartos para as pessoas saírem. Ficaria com queimaduras de segundo e terceiro grau numa das mãos, tendo sido transportado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Teve alta à noite.Seis moradores, de origem brasileira e de países de Leste, ficaram com ferimentos ligeiros. Três mulheres e um homem foram assistidos no Centro Hospitalar Oeste Norte, nas Caldas da Rainha, e outras duas mulheres no local do incêndio, recusando ser transportadas. Uma das sinistradas tinha efectuado um salto de três metros de largura do telhado do prédio para outro em frente, o que lhe provocou fracturas nos pés, tendo sido assistida no serviço de ortopedia do centro hospitalar.O socorro foi prestado por vinte elementos e oito viaturas dos bombeiros das Caldas e dois elementos e uma viatura da corporação de Óbidos, auxiliados pela viatura médica de emergência e reanimação do INEM. A PSP orientou o perímetro de segurança. As viaturas dos bombeiros foram posicionadas na Rua de Camões, em frente ao Parque, por não poderem chegar até à Travessa da Piedade.O fogo foi dado como extinto depois das seis da manhã e os meios dos bombeiros regressaram ao quartel às 07:42. A Polícia Judiciária de Leiria esteve no local a fazer recolha de vestígios, após o que permitiu a entrada dos moradores que a partir das 09:58 puderam entrar nos quartos.Os corpos das três vítimas mortais foram transportados para o gabinete médico-legal de Torres Vedras. O funeral teve lugar nesta quinta-feira, em Olho Marinho, no concelho de Óbidos, de onde João Francisco era natural.Socorro divide opiniõesUma das moradoras, de nacionalidade brasileira, que não quis revelar o nome, queixou-se da demora do atendimento. “Fizeram-me muitas perguntas no 112 e eu pedia para que fossem urgentes. Os bombeiros demoraram quinze a vinte minutos a chegar. Liguei para o dono do prédio e foi muito mais rápido”, alegou.Mary Hellene, de 25 anos, outra das moradoras, de nacionalidade brasileira, operária numa fábrica, ocupava a casa há cerca de um ano, com o seu companheiro, Heitor Procopio, de 22 anos. Ana Cláudia, mãe de Mary, recordou o momento em que a filha lhe telefonou a pedir socorro. “Estavam desesperados a tentarem escapar. Estava a ouvi-los e a ver que ia perdê-los. Tive de ligar para a polícia e bombeiros. Eles salvaram-se porque ficaram no telhado”, relatou, desabafando: “Se não fosse o dono do prédio, as pessoas não se salvavam. Os bombeiros não chegaram cinco minutos depois”.“Estava a dormir e só fui alertada porque me bateram à porta, senão ficava morta. Havia muito fumo. Não sei de mais nada”, declarou Lloba, moradora de nacionalidade ucraniana.Outros ocupantes do prédio que se encontravam no local recusaram-se a prestar declarações. Alguns apareceram no prédio para levar o que tinham nos quartos, indo para casa de familiares ou amigos. Suspeita-se que alguns possam estar em situação ilegal no nosso país.O comandante dos bombeiros assegurou que “o acesso foi rápido. Desde o momento em que recebemos o alerta até cá chegarmos foram três minutos. Desde que a senhora fez a chamada e até nós chegarmos foram doze minutos”. “O que levou mais tempo foi transferir a chamada do 112 para o CDOS de Leiria e daqui para os bombeiros das Caldas com toda a informação. Mas é um tempo razoável. É claro que se tivessem ligado directamente para os bombeiros teria demorado menos tempo”, explicou José António.No seu entender, a reacção das pessoas perante o fumo também não foi a mais correcta. “Todos os quartos têm extintor de incêndio mas nenhum foi utilizado. Também o detector de incêndios não funcionou. Se tivesse funcionado teria dado alerta com o disparo de uma sirene. As pessoas não terão dado conta do incêndio ou pode significar falta de cultura de segurança em Portugal. As pessoas vêem-se numa situação destas e não têm discernimento suficiente para activar o extintor a mão”, comentou. Segundo fez notar, os moradores “tentaram evitar ao máximo o fumo e alguns subiram para o topo do prédio, o que é uma reacção habitual. Mas deviam ter tentado vencer a barreira do medo e enfrentar o fumo. Se tivessem descido era melhor. Mas o casal que faleceu estava fechado no quarto”.

(0)
Comentários
.

0 Comentários

Deixe um comentário

Últimas

Artigos Relacionados

Estudante detido por tráfico de droga

Um jovem estudante, de 18 anos, foi detido pela PSP da Nazaré por tráfico de droga, no passado dia 27 de fevereiro. De acordo com as autoridades, no seguimento de uma investigação confirmou-se a suspeita de que o jovem, residente naquele concelho, se dedicava à...

estudante2222