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Maria Otília conta a História da Nazaréem poesia

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A minha biografia Eu nasci na Nazaré Meu nome é Maria Otília Apelido de família Sou Salsinha da Teresa Vulgo, Maria da Nazaré, Tenho o mar aqui ao pé E canto a sua beleza. Bati à porta da vida Numa casa pequenina Na rua do elevador, Criança mas não menina, Desabrochei como flor. Bati à […]
Maria Otília conta a História da Nazaré<br>em poesia

A minha biografia

Eu nasci na Nazaré

Meu nome é Maria Otília

Apelido de família

Sou Salsinha da Teresa

Vulgo, Maria da Nazaré,

Tenho o mar aqui ao pé

E canto a sua beleza.

Bati à porta da vida

Numa casa pequenina

Na rua do elevador,

Criança mas não menina, Desabrochei como flor.

Bati à porta da vida

De uma casa Nazarena,

A vida mandou-me entrar

Acho que valeu a pena,

Só por ti terra querida

Bater à porta da vida,

Nazaré para te cantar.

Perdoa minha terra, meu amor,

Por eu não ter estudo nem carreira,

Para te cantar melhor e mais,

Mas sabes o meu pai era pescador

E que a minha mãe era peixeira,

Pobres eram os meus pais.

Não estudei, tenho pena,

Afinal quem sou eu?

Apenas uma Nazarena

Que ama a terra onde nasceu.

Tânia Rocha Foi com este poema que Maria Otília, mais conhecida por Maria da Nazaré, se apresentou no seu primeiro livro, “Gente e Mar”, que compila grande parte dos poemas que vem criando ao longo do tempo. Este livro, o seu primeiro, de 1997, é composto por 57 poemas, grande parte sobre a terra que lhe deu voz e que a fez crescer, amadurecer e envelhecer. Maria da Nazaré é uma nazarena de 80 anos de idade, que conta a História, a cultura, os costumes e modos de vida da Nazaré de outrora, uma época que viveu intensamente e que hoje recorda com saudade, ao mesmo tempo que conta aos outros como era antigamente. A Nazaré, presente nos poemas de Maria Otília, é uma lembrança para alguns, um passado longínquo para outros, uma recordação para outros tantos, mas, no fundo, é as raízes que pertencem a todos os nazarenos e à essência da sua comunidade. Só começou a escrever aos 42 anos de idade. Uma vontade que lhe surgiu, para a qual a autora não encontra explicação ou razão de ser, “apareceu assim, sem mais nem menos”, recorda Maria da Nazaré. Nos poemas que cria, retrata sempre a Nazaré. A Nazaré em traje, tradição, folclore, ditos, tragédias, alegrias, dias santos, dias comemorativos, ou seja, segundo a autora, “tudo o que diga respeito à nossa História, à nossa vivência”. “As minhas histórias são verídicas, tudo o que aqui está é autêntico”, realça. Para o seu segundo livro já tem 80 poemas concluídos, dos quais vai seleccionar grande parte. A nova colectânea de poesia de Maria da Nazaré deve estar à venda no início do próximo ano. Apesar de já ter material para o novo livro, a autora continua sempre a escrever, porque há ainda muito por contar, “continuo a trabalhar, há ainda muito por desbravar”, refere. Nunca sonhou em fazer um livro, mas por incentivo de muitas pessoas, decidiu enfrentar esse desafio. Salienta que um dos principais apoiantes dessa concretização foi o doutor Álvaro Laborinho Lúcio, autor do prefácio da primeira obra de Maria Otília. Laborinho Lúcio escreve no prefácio que “este livro é sobretudo, um acto de amor”. Refere-se a ele como “mais um importante documento para o conhecimento de costumes, crenças, atitudes, tradições e maneiras de estar e de sentir das Gentes da Nazaré. E aí, a liberdade que caracteriza, por natureza, a poesia, não retira rigor à realidade que ela relata ou que lhe serve de inspiração”. Maria da Nazaré teve um pai pescador e uma mãe peixeira, mas não fez do mar a fonte da sua actividade profissional. Não frequentou a escola oficial, mas aprendeu a ler e a escrever numa casa particular, depois seguiu o ramo da costura, mas confessa com alguma tristeza, “eu adora ir para o peixe, porque eu só queria estar à borda d’água”. Em relação àquilo que retrata, Maria da Nazaré diz “eu sou real, não deturpo as coisas para as fazer bonitinhas, é o que é”. Usa a sua memória para recordar como se crescia, trabalhava e se vivia noutros tempos, e depois, transcreve essas lembranças para o papel, em forma de poesia. Além da poesia, Maria da Nazaré fez rádio, na Rádio Nazaré, durante 16 anos. Apesar de ter deixado esta actividade, não descura a possibilidade de voltar a “entrar no ar”. Mais recentemente, entrou para a Universidade Sénior, onde frequenta quase todas as disciplinas. Com muita sede de aprender, Maria da Nazaré diz que tem aprendido muito nestes últimos tempos, mas, no que toca à Nazaré, também tem ensinado muita coisa. Em relação à sua escrita, quando relê o que escreve, diz que concorda sempre consigo, “é raro rectificar alguma coisa”, refere. Tem orgulho naquilo que cria e diz que é uma grande alegria deixar “tudo isto escrito, para que as coisas não se esqueçam”. Além dos poemas que compõem o primeiro livro e dos que vão fazer parte da segunda obra, Maria da Nazaré criou outros que não vão ser publicados, de carácter ousado ou cómicos, que são lidos, normalmente, em ambientes de descontracção, como por exemplo, nas excursões. O pseudónimo “Maria da Nazaré” surgiu num dia em que Maria Otília ligou para a Rádio Nazaré a pedir um disco. Identificou-se somente como Maria, mas por insistência do locutor em saber o seu sobrenome, Maria, como não queria identificar-se, disse: “Sou uma Maria da Nazaré”. O locutor elogiou o nome. Maria Otília também gostou, e desde aí, começou sempre a identificar-se e a assinar os seus poemas como “Maria da Nazaré”. Na vivência real da autora, as crianças não eram meninos ou meninas, mas sim “piquenas” ou “piquenos”, que brincavam com qualquer coisa. O Carnaval era chamado de “Entrudo”. O areal estava repleto de barcos e as redes eram puxadas por bois. Na altura do Verão, a praia dos nazarenos era-lhes retirada e passava a ser dos turistas. As mulheres davam à luz em casa, os nazarenos andavam descalços e a pé, e a escola não era uma realidade para todos, mas sim um luxo de alguns. Quando Maria da Nazaré recorda e conta, com alguma saudade, esta realidade passada, diz, “quando se conta isto, quase que nem dá para acreditar”. Esta realidade, que caracterizou a Nazaré, quase que escapa às gerações mais novas, onde tudo isto já não existe ou é muito diferente. No entanto, Maria da Nazaré, através da sua poesia, ajuda a perpetuar a História, os antepassados e os factos da vida real desta vila piscatória, chamada Nazaré. Pedra do Guilhim Nunca pintes a fachada Que a nazarena é assim Sempre de cara lavada Como a pedra de Guilhim Na cabeça o cachené Saia comprida e rodada És mulher da Nazaré Nunca pintes a fachada Com sete saias vestidas E um avental de cetim Casaco de cores garridas Que a nazarena é assim Tens a fama e o proveito De mulher viva e atinada E por trajares a preceito Sempre de cara lavada Mostras bem a tua beleza Não precisas de carmim És bela por natureza Como a pedra do Guilhim Sou Um Velho Pescador Fiz do mar a minha cama Fiz do forte o meu pijama Fiz do Guilhim travesseiro Fiz do sol minha coberta Fiz da lua janela aberta Fiz do farol candeeiro Não temi o mar bravio Não temi vento nem frio Nem o mau tempo passado Mas temi quem se fardava E armado em fisco mandava No peixe por mim pescado Atolei os pés em bosta Armei laços à gaivota Paguei juros de cautela Ganhei pão na carreirinha Bebi água na fontinha Rapei papas da panela Fiz da areia meu tapete Fiz da bruma meu barrete Fiz votos vela acendi Fiz da capela um abrigo Fiz casamento contigo Fiz preces no mar ruim Em rios e valas pesquei Tojos e silvas pisei Por aceiros e caminhos Fiz o feixe no pinhal Rachei lenha no areal Dos pés arranquei espinhos Fui piqueno, não menino Só tive o mar por destino Jantei sopas de café Da ilusão fiz samarra Da cinta fiz uma amarra Que me amarra à Nazaré Fiz cigarros com mortalha Fiz barquinhos com navalha Fiz promessas juramento Fiz da ronca despertador Fiz na praia meu labor Fiz do foquim meu acento Se ao parar meu coração Se der a reencarnação Há quem diga assim é Eu volto a ser pescador Sob o manto protector Da Virgem da Nazaré

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