Tânia Rocha A Cercina (Cooperativa de Ensino e Reabilitação de Crianças Inadaptadas da Nazaré) promoveu, na passada sexta-feira, o III Seminário “As Crianças e os Jovens de Hoje”, no âmbito do projecto Boa Onda, nas instalações do Centro Comunitário da Nazaré. A sala cheirava a mar, com várias peças de decoração do espólio de Manuel Limpinho. A abertura da sessão contou com a presença da vice-presidente da Câmara Municipal da Nazaré, Mafalda Tavares, do presidente da Cercina, Joaquim Pequicho, do presidente da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, Reinaldo Silva, e ainda, do director do Centro Distrital de Leiria do Instituto da Segurança Social, Fernando Gonçalves. Os painéis debatidos tiveram como temas: “Sucesso ou insucesso escolar?”, “Percursos Escolares…um olhar sobre a Nazaré”, “Não actuar implica!” e, por último, “Do insucesso ao sucesso, do abandono à integração, que caminhos percorrer”.
A vice-presidente da autarquia considerou que o tema do encontro “é de extrema importância para a na nossa sociedade” e que “o drama do insucesso escolar diz respeito a todos nós”. Ainda referiu que projectos como o Boa Onda “são importantes para promover a inclusão social das crianças e jovens”. Por seu turno, Fernando Gonçalves mencionou que “o sucesso escolar depende da nova cultura do ensino”. Alguns consideram que actualmente o ensino é mais facilitador, mas o director do Centro Distrital de Leiria do Instituto da Segurança Social concorda que os alunos vão passando, porque “o aluno que chumba recorrentemente em nada contribui para o seu sucesso e para o sucesso da escola”. No final do percurso escolar, Fernando Gonçalves acredita que “o mercado de trabalho será o responsável por ajustar e recompensar os que se esforçaram”. Ainda durante a manhã, no módulo “Sucesso ou insucesso escolar?”, Paula Josefa mostrou qual a intervenção do Ministério da Educação nas escolas, nomeadamente, no apoio, acompanhamento e resolução de problemas. A representante do Ministério salientou que “a escola pública é uma escola inclusiva, que tem de dar apoio a todos os alunos”. Por seu lado, Jorge Sousa, director do Agrupamento de Escolas da Nazaré, referiu que há vários factores para o sucesso ou insucesso escolar, entre eles, “alunos, professores, educadores, encarregados de educação, ambiente familiar, condições da escola, entre outros”. O professor ainda referiu que “os projectos educativos são muito importantes e são o bilhete de entidade das instituições”. Para Florbela Gabriel, psicóloga do Externato Dom Fuas Roupinho, “cabe cada vez mais às escolas diversificar o tipo de resposta que dá aos alunos”. Realçou que o papel das instituições de ensino “é trabalhar em equipa e ir ao encontro das necessidades de cada aluno e de cada turma”. Segundo as considerações de Manuela Prata, directora do Agrupamento de Escolas de Pataias, “hoje em dia a escola tornou-se menos atractiva e tem, cada vez mais, um papel social mais importante”. Acha que “as questões sociais estão muitas vezes na base do insucesso escolar, mas que há também outros motivos”. O professor José Maria Trindade foi o orador do segundo painel, “Percursos Escolares…um olhar sobre a Nazaré”, com moderação do juiz Jacinto Meca. Trindade fez considerações sobre as transformações nas várias décadas do século passado, defendeu que “as culturas marginais, ou seja, diferentes das dominantes, estão em guerra com as escolas”, e que a Nazaré tem uma cultura marginal. Salientou que “a escola é trituradora das culturas marginais, porque a ideia da homogeneidade era central”. José Maria Trindade disse que “a escola foi entrando muito lentamente da comunidade piscatória e vice-versa”. Só quando os filhos dos pescadores se começaram a aperceber que a pesca não tinha futuro, é que começaram a ver na escola uma oportunidade de subir da vida. A partir dessa fase, considerou que a “escola tornou-se mais democrática, porque a sociedade entrou dentro dela”. No final da sua intervenção, José Maria Trindade realçou que “a Nazaré só tem capacidade de aproveitar toda a formação, se tiver capacidade de criar futuro”. Também destacou que “nenhuma comunidade pode ser tão mono cultural na sua oferta” e que “a Nazaré tem mesmo de dar o salto, porque tem capacidade de se expandir e se valorizar noutros campos”. Para finalizar os trabalhos, Jacinto Meca acrescentou que “a oportunidade da escola é uma oportunidade recente”, porque nos anos 70, ainda foram “poucos os que apanharam a boleia da educação.
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