Tânia Rocha Os trabalhadores da “Louçarte”, empresa de louça com sede em Valado dos Frades, estiveram em greve em frente à empresa, ontem, todo o dia, e na tarde da passada quinta-feira, por não receberam salários há dois meses e meio. Segundo o coordenador da União dos Sindicatos do Distrito de Leiria, José Fernando, “os trabalhadores só receberam 15 dias do mês de Julho, ainda não receberam o mês de Agosto, nem subsídios de férias”, e acrescentou que “pela situação da empresa, também não vão receber o mês de Setembro”. O representante sindical adiantou que “os trabalhadores não podem continuar assim, não há viabilidade”. José Fernando disse ainda que “os trabalhadores não estão em greve pelo encerramento da empresa, estão pela viabilidade da empresa, porque querem manter os seus postos de trabalho, mas não podem continuar a trabalhar sem receber”.

Segundo o gestor da “Louçarte”, Jorge Brandão, a empresa está a passar por “uma dificuldade momentânea”. Disse não poder garantir a viabilidade da mesma, mas referiu que “a empresa pretende manter-se a todo o custo, tem vontade de continuar e está determinada a manter os postos de trabalho existentes”. O gestor ainda considerou que esta greve é “inoportuna e extemporânea”, uma vez que a “Louçarte” já viveu períodos mais difíceis, nomeadamente, o ano passado, devido ao facto de os trabalhadores terem cinco meses de salários em atraso, situação que foi ultrapassada e regularizada no último mês de Maio. Em Julho foram dispensados alguns trabalhadores, outros ficaram a trabalhar no período de férias, com a promessa da direcção de receberem quando voltassem, uma vez que havia encomendas em curso. No entanto, o pagamento não se verificou nos prazos previstos. De acordo com uma trabalhadora da empresa, Maria da Glória, “a revolta dos empregados é terem dois meses e meio em atraso e a administração ter dito para trabalharem no período de férias, porque nos prometeram que iam pagar. Chegou o 31 de Agosto e não pagaram, estamos até hoje sem receber. Apenas nos pagaram 15 dias de Julho, no dia 21 de Agosto”. Segundo outro trabalhador, João Rodrigues, “esta situação não pode continuar, os trabalhadores não podem continuar a ser enganados desta maneira”. A gerência falou com os encarregados de serviço um dia antes da paralisação dos trabalhadores, e, segundo uma das responsáveis, Maria da Conceição, “o gestor ficou de conversar com as patroas para ver se arranjavam dinheiro para nos pagar”. Segundo esta trabalhadora, “houve muitas encomendas, trabalhámos muito e, pelo menos, esse dinheiro deveria cá estar”. Jorge Brandão agendou um debate para o primeiro dia de greve dos trabalhadores, dia 24, sobre as dificuldades que se apresentam a empresas de pequena dimensão do sector da cerâmica, no dia na sua concretização, ao qual convidou empresas, fornecedores, banca, Junta de Freguesia de Valado dos Frades, Câmara Municipal da Nazaré, partidos políticos e órgãos de comunicação social. Neste debate apenas esteve presente a comunicação social e o Bloco de Esquerda. No entanto, o gestor não respondeu concreta e directamente e quase nenhumas das perguntas colocadas, não só pelos jornalistas, mas também pelos candidatos do BE, alegando que não foram convidados para discutir a situação da “Louçarte”, mas sim a conjuntura geral do sector.