EditorialClara Bernardino“Todo o Mundo” é o nome de um homem rico. Um dia, encontra um homem pobre, chamado “Ninguém”. Estas personagens, criadas por Gil Vicente, mostram bem que, em relação a alguns assuntos, estamos bem mais perto do século XVI do que aquilo que às vezes nos possa parecer…Vejamos: “Todo o mundo” é egoísta, não se atrapalha nada em saltar um par de regras para fazer o que lhe apetece, gosta de luxos e de se fazer passar por quem não é. “Ninguém” é altruísta, respeitador das regras e gosta de ser quem é. “Todo o Mundo” é vaidoso, procura elogios. “Ninguém” procura a virtude.
“Todo o Mundo” quer ser louvado e como “Ninguém” procura aprender mais, quer ser repreendido. Na sua ânsia de poder, “Todo o Mundo” quer o paraíso todo só para si, enquanto “Ninguém” paga o que deve.A nossa política nacional, regional e local está repleta de clones de “Todo o Mundo” e “Ninguém”. Se nos queixamos do marasmo e da falta de desenvolvimento à nossa volta, é porque na hora de escolher, optámos pela política de “Todo o Mundo” e não quisemos ser como “Ninguém”. Quando nos comparamos com o resto da Europa sentimo-nos uns Zé-ninguém, mas sem as qualidades da personagem vicentina.Facilmente nos deixamos iludir pela vaidade, pela fama, pela cobiça e viramos costas ao trabalho, às dificuldades e ao esforço.“Todo o Mundo” quer uma vida de sonho, quer galgar as escadas sociais e chegar ao topo, mas “Ninguém” se esforça por isso.“Todo o Mundo” quer colher sem semear, enquanto “Ninguém” quer semear para colher…“Todo o Mundo” diz mal de tudo e de todos e “Ninguém” diz a verdade quando avalia os outros.“Todo o Mundo” quer o desenvolvimento social e económico, “Ninguém” cria as condições para isso.E assim vai o nosso pequeno mundo, com todos a quererem ser como “Todo o Mundo” e ninguém a querer ser “menos que Ninguém”
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